A partir da concha fóssil de um único molusco bivalve do fim do período Cretáceo, um grupo de pesquisadores foi capaz de descobrir que, há 70 milhões de anos, um ano tinha 372 dias, já que a Terra girava mais rápido e os dias duravam apenas 23 horas e meia – ou seja, 30 minutos a menos do que as nossas atuais 24 horas.

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De acordo com o estudo, publicado na revista acadêmica Paleoceanography and Paleoclimatology, o molusco de cerca de 10 centímetros faz parte de um grupo extinto de animais conhecido como mexilhões rudistas, que cresciam rapidamente e, consequentemente, estabeleciam anéis de crescimento diários.

Para enxergar esses anéis com precisão, os cientistas utilizaram lasers para cortar minúsculas fatias da concha do bivalve. Munidos apenas com microscópios, os pesquisadores não conseguiriam tantas informações.

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A alta resolução das imagens obtidas combinada com a rápida taxa de crescimento do molusco foi o suficiente para revelar detalhes sem precedentes sobre a vida do animal e do ambiente que o cercava. “Isso é algo que você quase nunca obtém na história geológica. Basicamente, podemos olhar para um dia há 70 milhões de anos. É incrível”, contou Niels de Winter, geoquímico analítico da Universidade Livre de Bruxelas e principal autor da pesquisa.

Os dias mais curtos podem ter sido resultado da distância entre a Terra e a Lua na época. Sabe-se que a translação do nosso planeta em torno do Sol nunca muda, contudo, à medida que a Lua se afasta da Terra (são 3,82 centímetros por ano), o atrito das marés do oceano diminui e a rotação do planeta também, aumentando a duração dos dias com o passar de milhões de anos.

O ambiente há 70 milhões de anos

Segundo a análise química do bivalve, as temperaturas do oceano no fim do período Cretáceo eram bem mais quentes do que se imaginava: a água naturalmente atingia 40°C no verão e até excedia 30°C no inverno.

“A alta fidelidade deste conjunto de dados permitiu que os autores extraíssem duas inferências particularmente interessantes que ajudam a aprimorar nossa compreensão da astrocronologia cretácea e da paleobiologia rudista”, afirmou Peter Skelton, professor aposentado de paleobiologia da Open University, no Reino Unido.

O molusco estudado viveu, há 70 milhões de anos, no fundo de um mar raso que hoje corresponde às terras secas das montanhas de Omã. Chamado cientificamente de Torreites sanchezi, o bivalve se parecia com copos com tampas e só foi capaz de prosperar devido à temperatura elevada das águas da época.

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Descobriu-se, também, que a concha crescia muito mais rapidamente durante o dia do que à noite, o que indica que o molusco era fotossimbionte – ou seja, possuía associação vital com alguma espécie habitável que se alimentava da luz solar.

Não à toa, T. Sanchezi dominava o nicho de construção de recifes, cumprindo o papel que os corais exercem hoje. “Os rudistas são bivalves bastante especiais. Não há nada parecido vivendo hoje”, disse de Winter. “No final do Cretáceo, especialmente, em todo o mundo, a maioria dos construtores de recifes são esses bivalves”, acrescentou.

Esses bivalves foram extintos no mesmo evento que matou todos os dinossauros há 66 milhões de anos.

Via: Phys.org