Um estudo recém-publicado pelo Field Museum em Chicago revela que um meteorito que caiu no estado norte-americano do Michigan contém compostos orgânicos “intocados”, livres de contaminação pelo ambiente terrestre.
A análise só foi possível pois o meteorito foi recuperado menos de 48 horas após sua queda, em 16 de janeiro de 2018 na superfície congelada de um lago chamado Strawberry Lake, perto da cidade de Hamburg. Encontrada pelo colecionador privado Terry Boudreaux, a rocha foi batizada de “meteorito Hamburg” e foi doada ao Field Museum.
Quanto mais tempo um meteorito passa na superfície, mais contaminado ele fica, especialmente se exposto à água, o que impede os cientistas de estudar a rocha como ela existia no espaço. O “grande prêmio” é a identificação de compostos orgânicos, ou seja, moléculas baseadas em carbono que se formaram no asteroide de onde o meteorito se originou.
“Assim que entra em contato com a água, o metal começa a enferrujar e minerais como a olivina são alterados”, explicou Philipp Heck, curador do Field Museum em Chicago e principal autor do estudo, ao site Gizmodo. “A água também traz contaminantes através das muitas rachaduras que normalmente atravessam os meteoritos — rachaduras que se formaram quando o meteorito foi ejetado de seu asteroide original durante um evento de impacto anterior”, acrescentou.
Câmeras registraram a queda do meteorito Hamburg em 2019. Fonte: Syracuse.com / YouTube
Tipo raro
O meteorito é um condrito do tipo H4, que corresponde a apenas 4% dos meteoritos encontrados na Terra. Eles são interessantes, pois foram bombardeados com calor quando foram ejetados de seu asteroide, o que significa que alguns de seus componentes originais, como os côndrulos, grãos minerais que se formam quando os meteoritos são aquecidos ao seu ponto de fusão e resfriados rapidamente, ainda estão presentes e visíveis.
No total, a equipe encontrou 2.600 compostos orgânicos diferentes no meteorito. “Esses compostos surgiram no asteroide original logo após sua formação, quando estava quente devido à acumulação e decomposição de elementos radioativos que ainda estavam presentes no início do sistema solar”, explicou Heck.
“Embora existam alguns meteoritos, como os condritos carbonáceos, que são mil vezes mais ricos em orgânicos, o fato deste meteorito condrito comum ser rico nestes compostos dá suporte à hipótese de que os meteoritos desempenharam um papel importante no fornecimento destas substâncias para a Terra primitiva”, afirma.
O estudo de meteoritos é essencial para compreender a história da origem do sistema solar, de nosso planeta e, talvez, da vida. Missões como a Hayabusa, da agência espacial japonesa (Jaxa) e a ORIRIS-REx, da Nasa, tem como objetivo coletar amostras de rochas diretamente na superfície de asteróides, o que pode nos fornecer novas informações sobre sua composição.
Fonte: Gizmodo