Nova técnica pode permitir cultivo de alimentos na Lua e em Marte

Instalação produz verduras e legumes utilizando um método aeropônico, com aplicação de luz artificial e sem necessidade de um solo
Redação29/08/2019 22h07, atualizada em 30/08/2019 00h50

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Você já assistiu ao filme “Perdido em Marte”? Se sim, deve ter achado o máximo quando Matt Damon conseguiu produzir sua própria comida no espaço. Essa tarefa não é nada simples, mas não se pode dizer que a ciência esteja ignorando a questão. Um projeto de estufa na Antártica, chamado EDEN ISS, quer provar que, um dia, será possível cultivar verduras e legumes na Lua e em Marte.

As pesquisas são lideradas pela agência espacial alemã DLR, da qual faz parte o cientista Paul Zabel. Ele passou um ano no gelo perpétuo cultivando vegetais sob um sistema aeropônico para testar os processos de cultivo em condições hostis para plantas e seres humanos. O método, que usa luz artificial, soluções nutricionais eficazes e dispensa o solo por completo, permitiu que as plantas prosperassem.

Os resultados foram apresentados no dia 23 de agosto, e os pesquisadores ficaram animados com o tamanho da colheita e com o gasto energético muito menor que o esperado. “No geral, produzimos 268 kg de alimento em uma área de apenas 12,5 metros quadrados em nove meses e meio, incluindo 67 kg de pepino, 117 kg de alface e 50 kg de tomate”, diz Zabel. Este é um complemento sensato aos alimentos básicos que a sonda traz da Terra. E tudo isso consumindo 0,8 quilowatts por metro quadrado, menos da metade da quantidade anteriormente assumida para estufas espaciais – 2,1 quilowatts por metro quadrado.

Reprodução

A alimentação com legumes e verduras frescos também proporcionou um ganho no bem-estar da equipe de isolamento, e estes efeitos já estão sendo analisados de um ponto de vista psicológico para viajantes espaciais. Um ponto a melhorar, porém, é a carga de trabalho necessária para manter e dar suporte ao sistema, que deve ser reduzida significativamente para economizar o tempo dos astronautas. Zabel, por exemplo, gastava, em média, de três a quatro horas por dia no cultivo.

Para desertos e áreas com baixas temperaturas, bem como para missões à Lua e Marte, uma estufa fechada permite colheitas independentes do clima, sol e estação do ano, bem como menor consumo de água e necessidade zero de pesticidas e inseticidas. Como parte do projeto EDEN ISS, essa estufa do futuro está sendo submetida a testes de longo prazo sob as condições extremas encontradas na Antártica.

Lua e Marte

Inspirados pelos bons resultados, os cientistas do projeto EDEN ISS já projetam um novo conceito de design para uma estufa espacial, que seria lançada a partir de um foguete Falcon 9. Sua estrutura implantável forneceria aos astronautas o espaço necessário para cultivar alimentos na Lua ou em Marte.

“O espaço de cultivo será de cerca de 30 metros quadrados e, portanto, é quase três vezes maior que a área usada no contêiner da estufa da Antártica. Esse sistema permitiria que aproximadamente 90kg de alimentos frescos fossem cultivados por mês, o que corresponde a 500g de legumes frescos por dia para cada astronauta em uma tripulação de seis membros”, explica Schubert, líder do projeto.

O conceito também pode ser combinado com um sistema de biofiltro (C.R.O.P.), cujo objetivo é tratar resíduos biodegradáveis e urina a fim de produzir uma solução de fertilizante. Isso tornaria o conceito de estufa um sistema de suporte à vida quase completamente bioregenerativo para futuros habitats na Lua. Parece um pouco com o que Matt Damon fez, não é mesmo?

Também está sendo testado um “modo de suspensão” para a estufa, que poderia ser acionada novamente por meio de um controle remoto. “Essa etapa foi usada para testar outro cenário de voo espacial, no qual uma estufa em potencial chega antes dos astronautas e as operações são iniciadas pelo controle remoto”, diz Schubert.

“Futuras missões espaciais tripuladas de longo prazo exigirão alimentos cultivados localmente. A EDEN ISS provou a viabilidade de uma estufa espacial na Antártica e, assim, demonstrou que essa tecnologia também poderia ser usada para produzir alimentos na Lua e em Marte”, conclui Hansjorg Dittus, Membro do Conselho Executivo da DLR para Pesquisa e Tecnologia Espacial. Em breve, “Perdidos em Marte” deixará de ser uma mera ficção.

Fonte: SpaceDaily

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital