Como diferenciar meteoros, meteoritos, cometas e asteroides?

Marcelo Zurita, associado da SAB, APA e da Bramon, explica quais as principais diferenças entre esses corpos celestes que despertam tanto a curiosidade dos humanos até hoje
Liliane Nakagawa15/06/2020 03h40

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Por Marcelo Zurita*

Reprodução

Cometa Hale-Bopp (2007). Créditos: J.C. Casado

A Astronomia é sempre um assunto fascinante que chama a atenção a cada descoberta, a cada imagem divulgada e a cada fenômeno registrado. Entretanto, muitos de nós já se confundiram ao ver os termos em notícias como “um grande meteoro flagrado por câmeras de segurança”, ou “um asteroide que passará próximo à Terra”, “um meteorito raro encontrado” ou ainda “uma chuva de meteoros provocada por um cometa”.

Isso porque meteoros, meteoritos, cometas e asteroides parecem tratar-se das mesmas coisas, principalmente para os menos acostumados com o meio astronômico. Na verdade, apesar de serem termos relacionados, tratam-se de coisas diferentes. Nessa artigo, vamos conhecer o significado dessas palavras, que pode ser muito útil para melhor compreender as notícias que vem do espaço.

Uma breve história do sistema solar

Para compreender perfeitamente o que são esses objetos, é preciso voltar um pouco na história até o momento em que todos pertenciam a mesma coisa: pó. Sim, no princípio do sistema solar, tudo que existia por aqui era uma enorme nuvem de gases e poeira cósmica em forma de disco, girando em torno de um centro de gravidade comum. Os gases hidrogênio e hélio eram, e ainda são, os elementos mais abundantes do universo e, devido à ação da gravidade, esses gases começaram a se concentrar no centro dessa nuvem formando uma enorme esfera de gases.

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Representação artística de um disco de poeira e gás, semelhante ao que era o Sistema Solar em formação. Créditos: ESO/L. Calçada

Em algum momento, a cerca de 4,6 bilhões de anos, uma explosão de supernova ocorreu em nossa vizinhança e o calor liberado por essa explosão forneceu a energia que faltava para que aquela imensa esfera de gás iniciasse o processo de fusão nuclear em seu interior. Nosso Sol começava então a brilhar!

Em torno dessa estrela, aquelas partículas de poeira cósmica derreteram com o calor e começaram a se aglutinar em pequenas gotículas de metal e rocha derretidos. Os ventos solares, que estreavam o sopro assim que o Sol começou a brilhar, varreram os materiais mais voláteis, como gases e água, para as regiões mais distantes do sistema solar. Tanto esses gases quanto as gotículas de material derretido começaram a se solidificar a medida que a temperatura caía, continuando a se chocar e se aglutinar graças à dinâmica do sistema solar.

Após alguns milhões de anos, esse processo já havia formado todos os planetas do nosso sistema. Os rochosos mais próximos do Sol: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. E, um pouco mais afastados, os gigantes gasosos Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. A formação desses planetas, compostos basicamente por gases e gelo, só ocorreu na região de menor influência dos ventos solares, e seu tamanho revela a abundância desses elementos na nuvem que originou o sistema solar.

Em torno de vários desses planetas, também se formaram satélites, cada um com um processo de formação distinto. Alguns juntos com o planeta, outros capturados por sua gravidade, e em alguns casos, como parece ser o da Lua, a partir do material ejetado de um grande impacto com o astro.

Essa é uma breve e resumida história de como o sistema solar se formou a partir do caos e de eventos aleatórios, regido basicamente pela força da gravidade. Hoje, as coisas parecem muito mais ordenadas por aqui, mas não se enganem, pois esse conjunto ainda mantém uma boa parte do caos do seu processo de formação.

As sobras da formação do sistema solar

Uma boa parte do material presente naquela nuvem de gás e poeira foi destinado para formar o Sol, os planetas e os satélites dos astros do sistema solar. Uma pequena parte também se aglutinou e formou planetas menores, os chamados planetas anões. Entretanto, ainda assim muito material de construção do sistema solar sobrou.

Planetas anões. Créditos: Ned Oliveira

Ainda hoje, uma quantidade significativa de matéria remanescente do processo de formação orbita o Sol. E é justamente dessas sobras que vamos abordar neste texto: meteoros, meteoritos, cometas e asteroides.

Asteroides

Os asteroides são pequenos corpos rochosos resultantes do processo de formação do Sistema Solar. Os asteroides tem formatos irregulares, pois não possuem massa suficiente para assumir uma forma esférica. A imensa maioria deles são realmente pequenos, com poucos metros de largura, mas alguns, podem possuir centenas de quilômetros.

O Sistema Solar está repleto desses asteroides, a maioria deles orbita o Sol entre as órbitas de Marte e Júpiter, em uma região conhecida como Cinturão Principal de Asteroides. Entretanto, eles podem ser encontrados por todo o Sistema Solar, inclusive se aproximando perigosamente da Terra. Sempre que um asteroide se aproxima da Terra, causa um enorme alvoroço nas redes sociais e várias previsões apocalípticas que nunca se confirmam.

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Asteroides próximos à Terra conhecidos em 2015

Por fim, é importante informar que, pela definição da União Astronômica Internacional, para ser considerado um asteroide, o objeto deve possuir pelo menos um metro de diâmetro médio. Objetos que orbitam o Sol e que sejam menores que um metro devem ser chamados de meteoroides.

Cometas

As regiões mais distantes do sistema solar, além da órbita de Netuno, abrigam pequenos corpos gelados formados essencialmente de gelo e gases congelados. São parte daquele material que foi levado para longe pelos ventos solares no período de formação do nosso sistema.

A grande maioria desses objetos estão confinados além da órbita de Netuno, mas eventualmente, alguns deles são arremessados para o interior do sistema solar e formam os objetos que chamamos de cometas.

Quando se aproximam da órbita de Júpiter, o calor do Sol faz evaporar os materiais mais voláteis que compõe o cometa, formando uma tênue atmosfera em torno do núcleo chamada de coma. Os ventos solares, ao atingirem o cometa, arrastam parte da coma na direção oposta ao Sol, formando uma enorme cauda. Tanto a coma quanto a cauda de um cometa brilham devido à ionização de seus gases pelo Sol.

ReproduçãoCometa McNaught visto sobre o Oceano Pacífico, em 2007. Créditos: Sebastian Deiries/ESO

A maioria dos cometas são relativamente pequenos, com algumas dezenas de metros de largura. Mas, alguns deles podem assumir vários quilômetros e terem material volátil suficiente para formar uma coma maior que Júpiter e uma cauda que pode se estender por vários milhões de quilômetros, criando um espetáculo observável a olho nu por várias noites. Cometas assim são raros, mas quando ocorrem, são os fenômenos astronômicos mais bonitos de serem observados.

Meteoros

Lembram-se que dissemos que o sistema solar ainda mantém uma boa parte do caos do seu processo de formação? Então, é aqui que a história fica interessante.

Ainda hoje, a Terra é bombardeada pelo material que restou desse processo de formação. Todos os dias cerca de 100 toneladas de matéria espacial atinge a atmosfera da Terra. Isso mesmo, 100 toneladas. Mas não se preocupem, grande parte disso são apenas pequenos meteoroides do tamanho de grãos de areia, e são completamente consumidos na passagem por nossa atmosfera.

Asteroides, meteoroides e cometas orbitam o Sol em uma velocidade altíssima. Algo entre 40 mil e 266 mil quilômetros por hora. Quando atingem a atmosfera da Terra nessa velocidade, mesmo fragmentos tão pequenos quanto um grão de areia são capazes de aquecer instantaneamente os gases atmosféricos, gerando um fenômeno luminoso chamado de meteoro. Então, o meteoro é apenas o fenômeno luminoso, nada mais. Meteoro não é sólido, não é líquido e nem gasoso, é apenas luz. Popularmente, o meteoro é também chamado de “estrela cadente“.

ReproduçãoMeteoro sobre o Paredão de Furnas em Torres (RS). Créditos: Gabriel Zaparolli

Como a maioria dos meteoros é gerado por minúsculos fragmentos de rocha, não é possível prever quando e onde poderemos vê-lo. Porém, há algumas épocas do ano em que as nossas chances de observá-los aumenta consideravelmente. São as chamadas chuvas de meteoros, que ocorrem quando a Terra passa por uma região do sistema solar repleta de fragmentos deixados por algum cometa ou asteroide. Quando a Terra atravessa essa trilha, eles atingem a atmosfera gerando dezenas ou até centenas de meteoros em uma única noite, uma verdadeira chuva de meteoros.

Mas o que ocorre quando um objeto maior atinge a Terra?

Bem, de maneira geral, quanto maior o objeto, mais luminoso será o meteoro. E quando sua luminosidade supera o brilho de Vênus, o meteoro é comumente chamado de ‘fireball’ ou bola de fogo. Algumas vezes, dependendo também da velocidade e do ângulo de entrada, o meteoroide ou asteroide é grande o suficiente para atingir as camadas mais densas da atmosfera. Nesses casos, além de formar uma bola de fogo mais espetacular, o meteoro geralmente termina com um evento explosivo. Esse tipo de meteoro também é chamado de bólido, e popularmente, também é associado ao “sinal dos tempos”, “Jesus voltando” e outras profecias apocalípticas.


Bólido registrado na Costa do Rio Grande do Sul em 2019. Créditos: Dr. Carlos Jung/Bramon

Meteoritos

Agora, se o objeto (meteoroide ou asteroide) for grande mesmo, além de gerar um belo bólido, ele pode resistir à passagem atmosférica e chegar ao solo, então teremos um meteorito. Dessa forma, um meteorito nada mais é do que um fragmento de rocha espacial que resistiu a passagem pela atmosfera e chegou ao solo.

Os meteoritos são importante fonte de pesquisa científica, pois nos trazem fragmentos de asteroides, de cometas e em alguns casos raros, até pedaços de outros planetas ou da Lua.

ReproduçãoMeteorito Porangaba. Créditos: Higor Martinez

O estudo dos meteoritos é a forma mais barata de se estudar esses objetos distantes e ajudar a contar a história da formação do sistema solar. Não à toa, a principal característica dos meteoritos mais comuns – os condritos – é a presença de côndrulos em seu interior, que são esférulas de minerais e metais. A formação dessas pequenas esferas se dá a partir do resfriamento e aglutinação daquelas gotículas de material derretido pelo calor da supernova, a qual deu origem ao sistema solar. Logo, quando um meteorito chega ao solo, ele poderá trazer consigo 4,6 bilhões de anos da nossa história.

ReproduçãoCôndrulos no interior de um meteorito. Créditos: André Moutinho

Meteoros, meteoroides, meteoritos, cometas e asteroides. Cada um desses termos merecem ser melhor estudados e, com certeza, renderão várias matérias para que o leitor possa se aprofundar ainda mais nestes tão fascinantes assuntos. E para facilitar ainda mais esse entendimento, deixamos um infográfico com um resumo da terminologia abordada aqui.

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Terminologia dos meteoros, meteoritos, cometas e asteroides. Créditos: AMS/André Moutinho 


Marcelo Zurita é presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Bramon – Rede Brasileira de Observação de Meteoros – e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil 


Liliane Nakagawa é editor(a) no Olhar Digital