Colisão com outra galáxia pode ter deixado a Via Láctea ‘torta’

Uma das galáxias anãs que orbitam a nossa pode ter passado direto num semáforo espacial e 'bateu' na Via Láctea, causando um 'amassado' que orbita o centro galático a cada 600 milhões de anos
Renato Mota03/03/2020 15h42

20200303010804

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Diferente do que vemos em algumas ilustrações, a Via Láctea não é um disco em espiral perfeito. Ela é meio torta, como se estivesse torcida, como confirmam estudos recentes. Motivo disso ainda intriga os astrônomos, mas um novo estudo pode ajudar a explicar o formato da nossa galáxia.

A partir de dados da missão Gaia, pesquisadores do Observatório Astrofísico de Turim, na Itália, acreditam que essa deformação na Via Láctea é o resultado de uma colisão com uma das galáxias satélites que orbitam a nossa. Um estudo foi publicado na revista Nature Astronomy.

Não está claro quando isso aconteceu ou qual galáxia bateu na nossa. Mas de acordo com os cientistas, a maneira como o lado “amassado” gira em torno do centro galáctico indica que a colisão pode ter sido relativamente recente, ou mesmo ainda em andamento.

Dados da missão Gaia já foram utilizados para detectar uma colisão com outra galáxia, ocorrida entre 8 e 11 bilhões de anos atrás, que inflou o disco Via Láctea, enchendo-o de estrelas. Outro encontro, com uma galáxia fantasma (formações antigas, cujas estrelas perderam a maior parte do brilho) há milhões de anos deixou ondulações no hidrogênio da Via Láctea. E um choque com uma galáxia anã chamada Gaia Sausage deixou algumas estrelas cambaleando em órbitas peculiares.

O satélite Gaia, lançado em 2013, estuda o movimento, velocidade e distância das estrelas para produzir o mapa 3D mais preciso da Via Láctea. “É como ter um carro e medir a velocidade e a direção da viagem desse carro por um período muito curto e, com base nesses valores, tentar modelar a trajetória passada e futura do carro”, explica o astrônomo Ronald Drimmel, do Observatório Astrofísico de Turim, na Itália.

“Se fizermos essas medições para muitos carros, poderemos modelar o fluxo de tráfego. Da mesma forma, medindo os movimentos aparentes de milhões de estrelas no céu, podemos modelar processos em larga escala”, completa.

Foi justamente analisando dados de 12 milhões de estrelas que a equipe de astrônomos descobriu que a distorção no disco da Via Láctea não está apenas em um só lugar. Está se movendo pelo centro galáctico, assim como as estrelas – mas a uma velocidade diferente.

“Medimos a velocidade da distorção comparando os dados com nossos modelos. Com base na velocidade obtida, ela completaria uma rotação em torno do centro da Via Láctea a cada 600 ou 700 milhões de anos”, afirma a astrônoma Eloisa Poggio, de Turim. “Isso é muito mais rápido do que o esperado”, completou.

Isso significa que algo mais poderoso deve ter dado um empurrão na naquela região – uma colisão com outra galáxia poderia causar esse efeito. O candidato mais provável, segundo os pesquisadores, é a galáxia de Sagitário, que está em uma órbita bem próxima da Via Láctea. Os astrônomos acreditam que ela já passou pelo plano da nossa galáxia mais de uma vez, moldando seus anéis – e há evidências de que ela também afetou estrelas no centro do disco galáctico.

Segundo os pesquisadores, a Via Láctea sairá vitoriosa desse conflito, eventualmente absorvendo a galáxia anã – mas esse dia está muito longe. Análises futuras dos dados fornecidos pela missão Gaia, que devem chegar no final deste ano, podem ajudar a descobrir se essa galáxia é mesmo a culpada.

Via: Science Alert

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital