Cientistas fotografam jato de partículas causado por colisão entre galáxias

Fenômeno só pode ser capturado pois jato de partículas ainda está em estágio inicial de formação, e não tem intensidade suficiente para cegar nossos instrumentos
Rafael Rigues07/04/2020 18h31, atualizada em 07/04/2020 18h39

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Astrônomos do Colégio de Ciências da Universidade de Clemson, na Carolina do Sul, EUA, conseguiram a primeira prova fotográfica de que a colisão entre duas galáxias pode produzir um poderoso jato de partículas se movendo a velocidade relativística, ou seja, comparável à velocidade da luz.

A chave para a descoberta é o momento em que ela foi feita. Normalmente, os jatos de partículas são tão intensos que emitem, em um segundo, mais energia na forma de raios-x, raios gama e ondas de rádio do que nosso Sol emitirá em sua vida inteira. Por isso, eles “cegam” nossos instrumentos, tornando-os incapazes de ver a galáxia de origem.

Entretanto, o jato produzido pela colisão entre uma galáxia Seyfert Tipo 1 chamada TXS 2116-077 e outra galáxia similar ainda é um “bebê” com baixa intensidade, o que nos permitiu identificar sua origem. “Pela primeira vez, encontramos duas galáxias em forma de espiral ou disco a caminho de uma colisão que produziu um jato ‘bebê’ que acabou de começar sua vida no centro de uma das galáxias”, disse Vaidehi Paliya, principal autor do estudo publicado no Astrophysical Journal nesta terça-feira (7).

Reprodução

A equipe capturou a imagem usando um dos maiores telescópios terrestres do mundo, o telescópio óptico infravermelho Subaru de 8,2 metros, localizado no cume de uma montanha no Havaí. Observações subsequentes foram feitas com os telescópios Gran Canarias e William Herschel, na ilha de La Palma, na costa da Espanha, bem como com o telescópio espacial Chandra X-Ray Observatory da NASA.

Cientistas acreditavam que os jatos eram originários de galáxias elípticas mais velhas, que tem núcleos galácticos ativos (AGN, um tipo de buraco negro super massivo) em seu centro. Estes núcleos crescem “ingerindo” gás e poeira ao seu redor. Mas nem todo o material é consumido, e algumas partículas são aceleradas e expelidas na forma de jatos.

“É difícil desalojar o gás da galáxia e levá-lo até seu centro”, explicou o professor associado Marco Ajello. “Você precisa de algo para sacudir um pouco a galáxia para que o gás chegue lá. A fusão ou colisão de galáxias é a maneira mais fácil de movimentar o gás, e se houver gás suficiente, o buraco negro supermassivo ficará extremamente brilhante e poderá desenvolver um jato”.

O buraco negro no centro de nossa galáxia, chamado Sagitário-A*, está inativo. Mas em alguns bilhões de anos nosso lar, a Via-Láctea, irá colidir com a galáxia Andromeda, formando uma gigantesca galáxia elíptica. “Dependendo das condições, ela pode gerar um jato relativístico, mas isso acontecerá num futuro distante”, disse Paliya.

Fonte: Phys.org

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital