Por Marcelo Zurita*

Acontecerá na madrugada entre os dias 21 e 22 de abril o pico da Líridas, uma chuva de meteoros de intensidade média que costuma gerar até 18 meteoros por hora em locais favoráveis. Para nós brasileiros a chuva não será tão intensa. Por aqui, teremos entre 7 e 15 por hora, mas em tempo de quarentena e isolamento social, será uma excelente oportunidade para acordar mais cedo, observar o céu e contemplar alguns meteoros desta chuva.

Uma chuva de meteoros é um espetáculo astronômico dos mais democráticos. Pode ser observada por qualquer pessoa que possua uma visão razoável e acesso a algum pedaço de céu. Não é preciso ter telescópios, câmeras e nenhum equipamento especial. Basta ter disposição para perder algumas horas de sono e olhar para o céu.

Meteoros e Chuvas de Meteoros

Um meteoro, popularmente conhecido como ‘estrela cadente’, nada mais é do que um fenômeno luminoso que ocorre quando um pequeno fragmento de rocha espacial atravessa nossa atmosfera em altíssima velocidade. Quando isso ocorre, esse fragmento comprime e aquece muito rapidamente o gás atmosférico à sua frente, formando uma bolha de plasma (gás aquecido e ionizado) que brilha como uma lâmpada por um tempo muito curto, de uma fração de segundo a alguns poucos segundos.

Meteoros são fenômenos comuns e podem ser vistos com frequência em todas as noites. Entretanto, em certas épocas do ano, a Terra atravessa uma área do céu que possui uma quantidade maior de detritos deixados por cometas ou asteroides. Quando isso ocorre, vários desses fragmentos atingem a atmosfera ao mesmo tempo, formando as chuvas de meteoros.

Todos os meteoros de uma mesma chuva atingem a atmosfera paralelamente uns aos outros. Isso porque seguem aproximadamente a mesma órbita do cometa ou asteroide que deu origem a eles. Entretanto, devido ao efeito de perspectiva, para um observador na Terra, esses meteoros parecem se originar de um mesmo ponto no céu. No caso da Líridas, esse ponto fica na Constelação da Lira.

 

ReproduçãoMeteoros paralelos vistos em perspectiva. Créditos: Bramon

Líridas esse ano

Esse ano, a Líridas será favorecida pela ausência de Lua, que estará praticamente em fase nova, o que permitirá um céu mais escuro, facilitando a observação dos meteoros.

É uma chuva de meteoros meio imprevisível, conhecida por apresentar surtos, ou seja, elevação na taxa de meteoros por hora em certos anos. Assim foi em 1982, quando observadores americanos se surpreenderam com um surto de mais de 100 meteoros por hora. Japoneses em 1945 e gregos em 1922 também reportaram algo semelhante. Não está previsto nenhum ‘surto’ para esse ano, mas ficaremos na torcida para que a Líridas nos surpreenda!

Reprodução

Como o radiante dessa chuva fica na Lira, que é uma Constelação da região Norte do céu, ela é melhor observada nos países do Hemisfério Norte, onde deve apresentar até 18 meteoros por hora. Aqui no Brasil, quanto mais ao norte estiver o observador, mais meteoros terá chance de ver. Pessoas em Roraima ou Amapá, em condições ideais poderão observar até 15,3 meteoros por hora. Em Brasília, serão até 11,6, no Estado de São Paulo, 9,9 e para os moradores do extremo Sul do Rio Grande do Sul, apenas 7,2 meteoros por hora.


ReproduçãoTaxa média de meteoros por hora para as Líridas em 2020 em condições ideais de observação

Todas essas taxas são estimadas considerando condições ideais de observação, ou seja, uma noite sem nuvens em um local afastado das luzes das grandes cidades. Essas luzes são prejudiciais porque ofuscam as estrelas e os meteoros mais tênues, então, se você está em uma cidade, procure desligar o máximo de luzes ao redor ou torça para um blackout nessa noite!

Como observar

A Líridas é uma das chuvas de meteoros mais visadas do ano. Ela ocorre entre 16 e 25 de abril, que é o momento em que a Terra atravessa a trilha de detritos deixada pelo Cometa C/1861 G1 (Thatcher) em passagens anteriores pelo Sistema Solar Interior. O momento de maior intensidade dessa chuva será na noite entre 21 e 22 de abril, quando passaremos pela região mais densa dessa trilha. Essa noite é, sem dúvida, o melhor momento para se observar a Líridas, especialmente, nas últimas horas da madrugada do dia 22, quando a atividade de meteoros estará mais intensa.

A melhor maneira de observar uma chuva de meteoros durante uma quarentena é ficando em casa. Procure um quintal, jardim, varanda, ou qualquer área que forneça uma boa visão do céu. De preferência um local escuro ou o mais escuro possível. Uma cadeira de praia é excelente para se deitar e observar o céu de forma mais confortável, mas se não tiver, pode utilizar um colchão ou algumas almofadas para se acomodar. Se a temperatura estiver baixa, cobertas e uma garrafa de café quente à mão podem ser boas companheiras para a noite de observação.

Apesar do radiante da Líridas ficar na Constelação da Lira, você não precisa estar olhando na direção dessa Constelação para ver seus meteoros, pois eles aparecerão em todas as partes do céu, apenas parecendo vir da direção da Constelação, conforme mostrado na imagem abaixo.

ReproduçãoMeteoros da  Líridas no Deserto do Atacama, Chile. Créditos: Yuri Beletsky

Para grande parte do Brasil, os meteoros vão começar a surgir após a meia noite e vão se intensificando até o amanhecer. Mas se não tiver disposição para acompanhar a noite inteira, o ideal é acordar por volta das 02h ou 03h da manhã e ficar até começar a clarear.

Evidentemente que, por conta da pandemia que o mundo enfrenta, esse ano não poderemos contar com atividades em grupo, viagens e observações em locais mais privilegiados pela natureza. Entretanto, para quem resolver encarar o desafio de uma observação em casa, poderá desfrutar ainda de um belo alinhamento planetário. Júpiter, Saturno e Marte, estarão muito próximos no céu, acompanhando os observadores durante quase toda a noite. Esse será o bônus e também um sinal de que, mesmo com todos os desafios e os medos que a humanidade enfrenta, a natureza continua a produzir seus espetáculos e não podemos perder a oportunidade de contemplá-los.

ReproduçãoCéu da madrugada de 22 de abril, com o radiante da Líridas e os planetas Júpiter, Saturno e Marte

Bons céus a todos!

 

Marcelo Zurita é presidente da Associação Paraibana de Astronomia, membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira e diretor técnico da Bramon – Rede Brasileira de Observação de Meteoros