Cientistas encontraram um buraco negro tão grande que, em teoria, ele não deveria existir. O chamado LB-1 foi detectado na Via Láctea a 15 mil anos-luz de distância da Terra e possui uma massa 70 vezes maior que a do Sol, de acordo com a Academia Chinesa de Ciências. A descoberta foi publicada na revista Nature, na quarta-feira (27), e pode romper com os atuais conhecimentos de evolução estelar.
O LB-1 é um buraco negro estelar, do tipo que se forma quando as estrelas morrem e explodem. Os pesquisadores acreditavam anteriormente que o limite de tamanho destes buracos negros não poderia ser superior a 20 vezes a massa do Sol. Isso porque, mortas, as estrelas perdem grande parte de sua massa por meio de explosões que expelem matéria e gás varridos pelos ventos estelares. “Agora, os teóricos terão que assumir o desafio de explicar sua formação”, afirma Liu Jifeng, chefe da pesquisa.
A equipe chinesa propôs uma série de teorias. O tamanho do LB-1 sugere que ele “não foi formado a partir do colapso de apenas uma estrela”, explica o estudo. Em vez disso, podem ser dois buracos negros menores orbitando um no outro.
Outra possibilidade é que este buraco negro estelar se formou a partir de uma “supernova fallback”. O fenômeno acontece quando, durante a explosão, uma supernova – o último estágio de uma estrela que explode – ejeta material e este volta a cair na supernova, criando um buraco negro. O fenômeno é possível, em teoria, mas os cientistas nunca foram capazes de prová-lo.
Acredita-se que os buracos negros estelares estejam espalhados pelo universo, mas são difíceis de detectar porque normalmente não emitem raios-X – apenas quando absorvem gás de uma estrela próxima. Por isso, em vez de procurar raios-X emitidos por buracos negros, a equipe chinesa foi atrás de estrelas que estavam orbitando algum objeto invisível, sendo atraídas pela gravidade. Até hoje, apenas duas dúzias de buracos negros estelares foram identificados e medidos no mundo.
Abalo na ciência espacial
A descoberta pode forçar uma significativa reviravolta na concepção científica de formação dos buracos negros estelares. Isso, consequentemente, pode mudar a forma como entendemos a atividade galáctica em um nível mais amplo. “Ela nos obriga a reexaminar nossos modelos de como os buracos negros de massa estelar se formam”, afirma David Reitze, físico da Universidade da Flórida.
Em maio, a equipe de Reitze observou a colisão nunca antes vista de uma estrela de nêutrons e um buraco negro, o que provocou ondulações no espaço e no tempo. Essas descobertas gêmeas – a colisão, e agora o LB-1 – indicam que os cientistas estão alcançando, nas palavras de Reitze, “um renascimento em nossa compreensão da astrofísica dos buracos negros”.