Bolhas misteriosas na Via Láctea podem ser ‘indigestão’ de buraco negro; entenda

Estruturas formadas por poeira, gás e raios cósmicos ficam bem no centro da galáxia
Vinicius Szafran28/05/2020 22h12, atualizada em 28/05/2020 22h29

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O centro da Via Láctea é um confuso quebra-cabeças de bolhas invisíveis e interconectadas. Existem partes “visíveis” apenas em comprimentos de onda de rádio, cicatrizes de raio X em forma de ampulheta e, acima de tudo, as misteriosas Bolhas de Fermi.

Essas bolhas são duas esferas gêmeas de poeira, gás e raios cósmicos que emergem do centro da galáxia, uma de cada lado do buraco negro central da Via Láctea. De uma ponta a outra, as bolhas se estendem por cerca de 50 mil anos-luz de diâmetro (metade do diâmetro da própria galáxia), mas são visíveis apenas sob luz de raios gama de alta energia.

Ninguém realmente sabe de onde elas surgiram, mas um estudo publicado neste mês no The Astrophysical Journal argumenta que as bolhas, assim como outras estruturas misteriosas que habitam o centro da galáxia, estão todas ligadas à mesma série de “arrotos” do buraco negro que começaram há cerca de seis bilhões de anos.

Reprodução

As gigantescas Bolhas de Fermi. Imagem: Nasa

Usando várias simulações em computador, pesquisadores mostraram que tanto as Bolhas de Fermi quanto as estruturas de raio X próximas poderiam ter se formado de uma só vez, após uma onda de choque massiva explodir no buraco negro, chamado Sagitário A* (ou Sgr A*). Essa onda de choque pode ter começado quando o Sgr A* repentinamente soltou dois jatos enormes de matéria ionizada, se espalhando em direções opostas quase na velocidade da luz. Os astrônomos já observaram jatos como esse explodindo galáxias com grandes buracos negros, mas não sabem exatamente como isso acontece.

Segundo os cientistas, se os jatos fossem largos e poderosos o bastante, poderiam ter criado duas ondas de choque que explodiriam através do gás quente. Onde as ondas de choque comprimiam e aqueciam o gás, as estruturas de raio X em forma de ampulheta se formavam; as margens das ondas, expandindo-se por milhares de anos-luz em qualquer direção, formaram as Bolhas de Fermi. Todo o processo teria durado cerca de um milhão de anos.

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Diagrama mostrando as Bolhas de Fermi (em vermelho) se sobrepondo às estruturas de raio X (pretas). Imagem: Fox et al.

De acordo com o estudo, a hipótese das ondas de choque explica várias características do centro da galáxia, incluindo as temperaturas extremamente altas das bolhas e o fato de suas bordas inferiores se sobreporem perfeitamente às estruturas de raio X. Se um evento semelhante de menores proporções acontecer alguns milhões de anos depois, pode explicar bolhas menores de rádio observadas no centro galáctico recentemente.

Em outras palavras, essas grandes e invisíveis peças do quebra-cabeças universal podem se encaixar muito melhor do que os cientistas imaginavam.

Via: Live Science

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital