Um novo estudo publicado no jornal científico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society questiona a interpretação de um artigo publicado por pesquisadores franceses na revista Astronomy & Astrophysics, que sugere que perturbações no disco de poeira ao redor da estrela AB Aurigae podem indicar o nascimento de um novo exoplaneta.

Segundo o astrônomo Pedro Poblete, da Pontifícia Universidade Católica do Chile e um dos autores do novo estudo, o que estamos vendo é, na verdade, o surgimento de uma segunda estrela, que transformará AB Aurigae em um sistema binário.

“AB Aurigae tem um apanhado de características interessantes. Temos uma enorme cavidade central, espirais, aglomerados de poeira, entre outros. O cenário protoplanetário foi proposto para explicar algumas dessas características”, diz Poblete.

“É verdade que o nascimento de um planeta pode explicar os aglomerados de poeira, mas não a enorme cavidade central, e também é verdade que pode explicar espirais, mas não as espirais que observamos em AB Aurigae. Em contraste, um binário estelar pode facilmente explicar todas estas características”, afirma.

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Exoplaneta/Foto: Sicentific American

Nasce uma estrela?

AB Aurigae é de interesse para os astrônomos pois é uma estrela jovem, com cerca de 4 milhões de anos, e ainda cercada por um disco de poeira e gás que pode nos ajudar a entender a formação dos planetas.

O surgimento de um sistema binário é uma explicação plausível. Cientistas estimam que 85% de todas as estrelas fazem parte de sistemas multiestelares, com sistemas trinários (compostos por três estrelas) sendo os mais comuns, e septenários (com sete estrelas) os mais raros.

Em um modelo de formação de um sistema binário, o círculo de poeira ao redor de uma jovem estrela se fragmenta, e parte dele sofre um colapso gravitacional e forma uma segunda estrela que atrai o material ao seu redor para formar um segundo disco de poeira, menor, dentro do disco maior.

No modelo proposto por Poblete e sua equipe, a espiral observada na cavidade de AB Aurigae pode ter sido produzida por uma pequena estrela com cerca de metade da massa do nosso Sol, isso se comparada às duas massas solares de AB Aurigae. Reforçando a hipótese, os braços espirais observados no disco de AB Aurigae são similares aos vistos em outros sistemas binários em formação.

Novos dados do SPHERE

Mas o nascimento de um exoplaneta não pode ser descartado. Segundo Anthony Boccaletti, autor do estudo original na Astronomy & Astrophysics, embora o modelo da equipe de Poblete seja mais complexo que o trabalho de sua própria equipe, seu time teve acesso a mais informações.

“Temos novos dados do SPHERE”, disse Boccaletti à ScienceAlert, referindo-se ao sistema de óptica adaptativa conectado ao Very Large Telescope (VLT) no deserto de Atacama, no Chile.

Segundo ele o ALMA (Atacama Large Milimeter Array, outro telescópio chileno usado na pesquisa) e o SPHERE “não estão observando a mesma luz e não são sensíveis ao mesmo componente. SPHERE é sensível à luz espalhada pela poeira estelar. Também é muito sensível às próprias estrelas.”

“Embora tenhamos usado informações diferentes”, acrescentou, “há uma boa chance de que se um companheiro estelar fosse responsável pela espiral, teria sido um sinal óbvio na imagem do SPHERE, a menos que o obscurecimento causado pelo gás e poeira seja enorme. “

Ou seja, nenhuma das equipes está reivindicando firmemente uma descoberta neste momento, já que simplesmente não há dados suficientes. Não há detecção de um exoplaneta ou de uma protoestrela – apenas ondulações em nuvens de gás que, dependendo do modelo e conjunto de dados que você aplica, podem ser interpretados como de uma forma ou outra.

“Não podemos reivindicar a descoberta com base em um modelo”, disse Price. “O que podemos dizer é que o protoplaneta reivindicado é implausível com base em nossa modelagem, porque acreditamos que há algo muito maior lá (e não no local proposto). Isso também não significa que nossas reivindicações estejam corretas, é apenas um debate saudável”.

Fonte: Science Alert