Astrônomos detectam ‘pulsação’ no centro da Via Láctea

Pontos superaquecidos que orbitam o buraco negro no centro da nossa galáxia - com um raio menor do que a órbita de Mércurio - emitem um poderoso sinal a cada meia hora
Renato Mota22/05/2020 22h06

20200522071728

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Astrônomos usaram o telescópio Atacama Large Millimeter Array (Alma), no Chile, para encontrar oscilações quase periódicas em ondas milimétricas do coração da Via Láctea. Os pesquisadores interpretaram essas “pulsações” como efeitos da rotação de rotação de pontos de rádio que circulam Sagittarius A* (Sgr A*) o buraco negro supermassivo no centro da nossa galáxia.

“Sabemos que o Sgr A* às vezes brilha em milímetros de comprimento de onda”, explica o principal autor do estudo publicado no Astrophysical Journal Letters, Yuhei Iwata, da Universidade Keio, no Japão. “Desta vez, usando o Alma, obtivemos dados de alta qualidade da variação de intensidade de ondas de rádio por 10 dias, 70 minutos por dia. Em seguida, encontramos duas tendências: variações quase periódicas com uma escala de tempo típica de 30 minutos e variações lentas de uma hora”.

Os pontos de rádio detectados pelos pesquisadores orbitam o buraco negro em um raio menor que o de Mercúrio em relação ao Sol. Os dados coletados poderão contribuir com o estudo do comportamento do espaço-tempo sob a influência de uma gravidade extrema. Sgr A* tem uma massa equivalente a 4 milhões de sóis.

As oscilações no centro da galáxia foram observadas não apenas no comprimento de onda milimetrado, mas também na luz infravermelha e raios X. Entretanto, as variações detectadas com o Alma são muito menores que as detectadas anteriormente – e é possível que esses níveis de pequenas variações sempre ocorram nos arredores do buraco negro supermassivo.

O próprio buraco negro não produz nenhum tipo de emissão: a fonte é o gás superaquecido no disco de acreção ao redor do horizonte de eventos. A equipe se concentrou em pequenas variações na escala de tempo e descobriu que o período de variação de 30 minutos é comparável ao período orbital da borda mais interna do disco, com o raio de 0,2 unidades astronômicas (uma “unidade astronômica” corresponde à distância entre o Sol e a Terra: 150 milhões de quilômetros).

Para efeitos de comparação, Mercúrio, o planeta mais interno do Sistema Solar, circunda o Sol a uma distância de 0,4 unidades astronômicas. Considerando a massa colossal no centro do buraco negro, seu efeito de gravidade também é extremo no disco de acreção. “Essa emissão pode estar relacionada a alguns fenômenos exóticos que ocorrem nas proximidades do buraco negro supermassivo”, avalia Tomoharu Oka, professor da Universidade Keio.

O Alma detectou pontos quentes formados esporadicamente no disco de acreção e que circulam em torno do buraco negro, emitindo fortes ondas milimétricas. Segundo a teoria da relatividade especial de Einstein, a emissão é ampliada quando a fonte está se movendo em direção ao observador com uma velocidade comparável à da luz. A velocidade de rotação na borda interna do disco de acreção é bem alta, o que causa esse efeito perceptível aqui da Terra, a 25 mil anos-luz de distância.

Via: Phys.org

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital