Na manhã do dia 30 de junho de 1908, um flash surgiu tão brilhante e quente no céu de Tunguska, na Sibéria, que uma testemunha a dezenas de quilômetros de distância pensou que sua camisa tinha pego fogo. Após cerca de um minuto ouviu-se uma explosão, tão intensa que sua onda de choque derrubou milhões de árvores, destruiu janelas e arremessou ao chão pessoas a até 60 km de distância do local onde ela ocorreu.

“O céu se dividiu em dois, e sobre a floresta toda a parte norte do céu parecia estar em chamas”, disse outra testemunha.

Após muita especulação sobre a causa, que incluiu erupções vulcânicas, acidentes de mineração e até mesmo OVNIs, chegou-se ao consenso de que um meteoro rochoso ou cometa com diâmetro entre 100 a 200 metros entrou na atmosfera terrestre em um ângulo agudo e explodiu a uma altitude entre 5 a 10 km do solo.

Mas há um mistério: uma explosão desta magnitude deveria deixar uma cratera, ou ao menos coberto o solo com pedaços do meteoro, e nada foi encontrado. Em comparação o famoso meteoro de Chelyabinsk, que caiu sobre a Rússia em 2013, gerou fragmentos que foram encontrados em menos de uma semana.

Segundo Vladimir Pariev, pesquisador do Instituto de Física P. N. Lebedev da Academia Russa de Ciências de Moscou e co-autor de um novo estudo sobre o fenômeno, há outra hipótese: e se o meteoro fosse feito de ferro, e não rocha, e tivesse passado apenas “raspando” pela atmosfera do planeta, antes de retomar sua jornada pelo espaço?

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Árvores derrubadas pelo meteoro fotografadas em 1929, 21 anos após o incidente.

Para testar a hipótese, Pariev e sua equipe calcularam a trajetória de vários meteoros usando modelos de computador. Eles simularam rochas com tamanhos entre 50 e 200 metros de diâmetro, feitos de rocha, gelo ou ferro, em uma trajetória que os colocasse a uma altitude entre 10 a 15 km da superfície terrestre.

Os cálculos dos cientistas mostraram que meteoros feitos de rocha ou gelo seriam completamente desintegrados pela pressão gerada por sua passagem pela troposfera, mas que meteoros de ferro com diâmetros maiores do que 100 metros poderiam sobreviver sem se desintegrar em múltiplos pedaços.

Os pesquisadores estimaram que o meteoro de Tunguska entrou na atmosfera a uma velocidade de 72 mil km/h. Durante a passagem ele perderia um pouco de sua massa, mas isso ocorreria na forma de gás e plasma. O ferro seria oxidado pela atmosfera e então dispersado no solo, se tornando quase indistinguível do óxido de ferro encontrado em nosso planeta.

Estudos anteriores calcularam a intensidade da onda de choque produzida pelo meteoro considerando “uma entrada na atmosfera em um ângulo agudo e uma explosão em pleno ar ou colisão com o solo”, disse Pariev.

Mas segundo o pesquisador o meteoro de Tunguska teria entrado na atmosfera em um ângulo muito raso, cerca de 9 ou 12 graus tangenciais à superfície. Ele teria então criado uma onda de choque a 10 ou 15 km acima do solo, capaz de derrubar árvores por centenas de quilômetros e incendiar a superfície. Mas por causa de sua massa e momento, ele teria saído da atmosfera e retornado ao espaço sem se partir.

Nem todos concordam

Mas há quem discorde desta teoria. Segundo Mark Boslough, pesquisador da Universidade do Novo México e físico do Laboratório Nacional de Los Alamos, nos EUA, “um objeto que tenha sobrevivido a tal jornada por nossa atmosfera não poderia ter descido próximo o bastante à superfície para criar uma onda de choque capaz de causar o dano observado em Tunguska”, disse.

Além disso, o padrão das árvores derrubadas na região é radial, emanando de um único ponto de onde foi liberada uma tremenda quantidade de energia. Isso é mais consistente com uma explosão do que uma onda de choque, “mesmo que ela fosse forte o bastante para derrubar árvores”.

Boslough complementa dizendo que os relatos de testemunhas na época do incidente são “consistentes com um objeto que estava descendo em direção à superfície antes de explodir”.

Os autores do estudo não calcularam numericamente o impacto da onda de choque que seria causada por um meteoro que passou “raspando”, mas suas estimativas ainda sugerem que tal onda seria poderosa o bastante para derrubar árvores e danificar o solo como aconteceu em Tunguska, disse Pariev em um e-mail ao site Live Science,

“Cálculos detalhados das ondas de choque de um meteoro como o proposto são o assunto de uma pesquisa em andamento”, afirmou.

Fonte: Live Science