Em junho de 2019, um foguete Falcon Heavy, da SpaceX, decolou da base de lançamento Kennedy Space Center, na Flórida, com 24 satélites Starlink. Além dos equipamentos, a espaçonave carregava os restos mortais de 152 pessoas. As cinzas foram enviadas e espalhadas na órbita terrestre por ordem de familiares, que contrataram o serviço da empresa Celestis para prestar homenagens em memória aos falecidos.
Os funerais na órbita do planeta compõe apenas uma das opções de rituais oferecidos pela Celestis. Os serviços variam desde a categoria “Earth Rise”, em que restos mortais viajam ao espaço e retornam à superfície do planeta, até alternativas de missões no espaço profundo, incluindo expedições à Lua.
Os preços variam entre US$ 2.500 a US$ 12.500 (R$ 13.350 a R$ 66.700 em conversão direta), de acordo com a complexidade da missão e a quantidade de restos mortais transportados.
Funerais espaciais
Ao todo, a Celestis já realizou pelo menos 16 lançamentos. A companhia ainda tem cinco missões marcadas para os próximos dois anos. Os familiares podem acompanhar todo o processo, desde a decolagem dos foguetes, até o monitoramento em tempo-real da espaçonave. Segundo o CEO da empresa, Charles Chafer, a procura por funerais espaciais cresce à medida que pessoas deixam de dar ênfase a tradições culturais e religiosas diante da morte de entes queridos.
Foguete Falcon Heavy. Imagem: Divulgação/SpaceX
Os funerais realizados pela Celestis são viabilizados em grande parte pelo desenvolvimento da exploração comercial do espaço. Os restos mortais são transportados pela empresa sempre como carga secundárias nas espaçonaves de expedições que miram outros objetivos, a exemplo das missões Starlink, da SpaceX. Os técnicos da companhia colam pequenas cápsulas cheias de cinzas em componentes de metal. Esses objetos são acoplados a um foguete ou a um satélite.
Os materiais são projetados para serem totalmente consumidos ao completarem sua viagem na órbita e entrarem novamente na Terra. O processo pode levar de alguns meses até centenas de anos. A Celestis ainda instala dispositivos de rastreamento nos componentes para permitir que os familiares monitorem a localização dos restos mortais.
Os serviços, no entanto, podem falhar. A empresa pede aos clientes que enviem pelo menos o dobro de cinzas necessárias para as viagem. O excedente é reservado para caso ocorram falhas na operação do funeral. Se não for necessário utilizar as cinzas novamente, a Celestis oferece aos familiares a opção de espalhar os restos mortais nos arredores do local de lançamento da missão.
Balões de gás
A Aura Flights é outra empresa que oferece opções de homenagens fúnebres espaciais. Mas, diferente da Celestis, os serviços da Aura contam com balões de gás que levam um vaso com os restos mortais até 30 quilômetros acima da superfície da Terra. Ao atingir a altitude planejada, o vaso se abre e espalha as cinzas na mesosfera. O sistema conta com uma câmera, que captura imagens do processo para os familiares.
Após os restos mortais serem liberados, os balões de gás da Aura seguem ganhando altitude. Eventualmente, eles estouram e o equipamentos da companhia para monitorar o funeral retorna a Terra com ajuda de um sistema de paraquedas. As equipes da empresa então recuperam os equipamentos e fazem simulações computadorizadas com dados meteorológicos para estabelecer uma estimativa do trajeto realizado pelos balões.
No início de março, Rafal Zebrala, reuniu-se com quase uma dúzia de familiares e amigos próximos para prestar homenagens ao seu companheiro Marek Moch, que morreu em janeiro, vítima de um câncer. O grupo se dirigiu para um local de lançamento nos arredores de Sheffield, Reino Unido. Eles compartilharam memórias e levantaram uma taça de champanhe antes que Moch fosse lançado ao céu.
“Por um lado, foi um período difícil, por outro, foi uma cerimônia muito calma, emocional e até relaxante”, disse Zebrala, em entrevista ao CNET. “[Marek] sonhava em se tornar piloto, e agora ele está lá em cima. Eu sempre posso falar com ele levantando minha cabeça.”.
Fonte: CNET