Observações do telescópio espacial Hubble indicam que a perda de brilho repentino da estrela gigante Betelgeuse entre o fim de 2019 e o início deste ano foi provavelmente causada por uma imensa quantidade de material quente ejetado pelo astro no espaço.
Um estudo publicado na revista The Astrophysical Journal, nesta quinta-feira (13), relata que a estrela liberou um plasma superquente, que foi resfriado ao atingir as camadas externas mais frias da atmosfera e resultou na formação de uma nuvem de poeira. Essa nuvem bloqueou a luz de um quarto da superfície da estrela. Por volta de abril de 2020, no entanto, a Betelgeuse retomou seu brilho característico.
Em dezembro, uma série de telescópios terrestres detectaram a perda de brilho da estrela, o que levantou hipóteses de que o astro estava perto de uma explosão de supernova. Após a Betelgeuse recuperar seu brilho típico, cientistas apresentaram teorias de que o fenômeno pode ter sido provocado por uma nuvem de poeira ou até por manchas magnéticas.
A nova pesquisa reforça a primeira hipótese. Os pesquisadores capturaram sinais do movimento do material quente e denso na atmosfera da estrela entre setembro e novembro de 2019.
“Com o Hubble, detectamos o material assim que ele deixou a superfície visível da estrela e se moveu pela atmosfera, antes que a poeira se formasse”, afirmou a autora principal, Andrea Dupree, diretora associada do Centro de Astrofísica de Harvard & Smithsonian, em um comunicado divulgado pela Nasa.
Segundo Dupree, o plasma liberado era duas a quatro vezes mais luminoso que o brilho normal da estrela. Ela diz que um mês após o monitoramento do fenômeno, a parte sul da Betelgeuse ‘escureceu’ visivelmente. “É possível que uma nuvem escura tenha resultado do fluxo que identificamos com o Hubble”, diz a cientista.
Ilustração da formação da nuvem de poeira que teria bloqueado o brilho da estrela em relação à observação da Terra. Imagem: Nasa/ESA
O estudo não identifica o que motivou a explosão que acarretou a ejeção do plasma. Dupree acredita, no entanto, que o episódio pode ter relação com o ciclo de pulsação da estrela – este fenômeno descreve constantes expansões e contrações das camadas mais externas da atmosfera dos astros.
A hipótese ganhou força, uma vez que Klaus Strassmeier, coautor da pesquisa e astrônomo do Instituto de Astrofísica de Leibniz, detectou que a estrela estava em processo de expansão quando liberou o plasma. O movimento pode ter ajudado a levar o material para fora da atmosfera da gigante vermelha.
Supernova ainda distante
Dupree planeja seguir estudando a Betelgeuse com o Hubble, e outros astrônomos, sem dúvida, manterão os olhos atentos sobre a estrela também. Com massa de 10 a 25 vezes maior que a do Sol, a supergigante está a 700 anos-luz de distância da Terra. Isso atribui um interesse adicional de cientistas à eventual supernova da estrela. Para a cientista, no entanto, as chances do fenômeno acontecer em um futuro próximo são pequenas.
“Ninguém sabe o que uma estrela faz antes de se transformar em supernova, porque isso nunca foi observado”, disse. “Os astrônomos observaram estrelas talvez um ano antes de se transformarem em supernovas, mas não dias ou semanas antes de acontecer. Mas a chance de a estrela se tornar supernova em breve é ââmuito pequena.”