Há quase 10 anos, cientistas monitoram a incidência de estranhos sinais de rádio conhecidos como FRB (“fast radio bursts”, ou “rápidos estouros de rádio”, em português). São sinais breves, muito fortes, e que são detectados mais de uma vez ao longo do ano.

Nesta semana, pesquisadores da Universidade de Cornell, nos EUA, publicaram na revista Nature e na Astrophysical Journal Letters o resultado de um estudo minucioso sobre alguns desses sinais de rádio. Os astrônomos dizem ter finalmente descoberto de onde eles vêm.

De acordo com Shami Chatterjee, líder da equipe que publicou a descoberta, uma grande rede de radiotelescópios instalados ao redor do mundo foi usada para coletar dados a respeito de um sinal específico, catalogado como FRB 121102.

O que o estudo descobriu foi que esses sinais vêm de uma galáxia anã localizada a 3 bilhões de anos-luz de distância da Terra. Ainda não se sabe a causa dessas estranhas emissões de radiação, mas nenhuma hipótese – inclusive a de extraterrestres – foi descartada até agora.

Histórico

Os primeiros FRBs foram detectados em 2007 pelo Observatório de Parkes, na Austrália. Uma erupção de radiação, com energia equiparável à de 500 milhões de estrelas, durou apenas 5 milissegundos, mas foi detectada novamente outras 18 vezes ao longo dos últimos 10 anos.

Em 2015, cientistas do Observatório de Parkes descobriram que um dos sinais que eles andavam investigando vinha, na verdade, de um forno de microondas dentro da instalação. A “descoberta” ajudou os pesquisadores a descartar algumas hipóteses, mas o mistério continuou acerca dos outros FRBs detectados em outras partes do mundo.

Uma possível explicação é de que esses estouros de radiação surgem quando densas estrelas de nêutrons – remanescentes de uma estrela gigantesca que “morreu” em uma supernova – se chocam umas com as outras ou com cometas. Há também a hipótese de que os FRBs sejam causados por estrelas sendo engolidas por buracos negros.

Uma equipe de cientistas do Instituto de Análise de Dados da Alemanha chegou a identificar, em 2015, o que parecia um padrão matemático “escondido” na frequência dos FRBs. Um tempo maior de estudo sobre esses fenômenos, porém, acabou revelando que esses “padrões” não se repetiam sempre, reduzindo as chances de se tratar de uma civilização alienígena.

Complicações

“Não temos olhos nos céus como as pessoas imaginam”, disse Chatterjee em entrevista ao site da revista National Geographic. Segundo o pesquisador, é difícil identificar a natureza dos FRBs porque eles são extremamente rápidos e imprevisíveis. “Estamos monitorando ativamente apenas uma pequenina fração dos céus em um espaço de tempo específico”, argumenta.

Além disso, o astrônomo destaca que o local de onde esses sinais partem – uma galáxia a 3 bilhões de anos-luz da Terra – indica que o que estamos detectando agora é o “eco” de algo que aconteceu cerca de 3 bilhões de anos atrás. Ou seja, descobrir a origem desses sinais de rádio pode ser uma importante descoberta a respeito das origens do universo.

“Uma possibilidade é de que isso tenha algo a ver com a evolução do universo”, diz Chatterjee, considerando como indício o fato de que esses FRBs nunca foram detectados na nossa própria galáxia. “É estranho: isso acontecia 3 bilhões de anos atrás, mas não 3 milhões de anos atrás”, complementa.

A equipe de Chatterjee pretende continuar observando o FRB 121102 em busca de novas informações. Mas o cientista destaca que, como quase todos os mistérios desvendados nos últimos anos pela ciência, é bem provável que a solução para este esteja em algum fenômeno natural, e não na ação de extraterrestres.