Um buraco negro gigante foi identificado por uma equipe de cientistas e observadores espaciais do Grande Telescópio das Canárias, na Espanha. O time, constituído de especialistas espanhóis, americanos e alemães, argumenta que este é o mais distante objeto de sua categoria já encontrado e pode mudar a forma como astrônomos compreendem a passagem do tempo nos estudos sobre o espaço.
Entrando no jargão da astronomia, os cientistas encontraram uma “BL Lacertae”, um tipo de galáxia incrivelmente raro que emite radiação gama, uma das formas mais extremas da luz. O entendimento é o de que a radiação emitida tem seu ponto de origem nas proximidades de um buraco negro supermassivo que provavelmente se posiciona ao centro de referidas galáxias. O buraco negro engole matéria de suas regiões mais próximas, emitindo “jatos” de radiação gama (algo que os especialistas chamam de “Blazar”) – menos de 1% desse tipo de evento ocorre de forma direcionada à Terra e, vale citar, os “blazares” são uma das formas mais poderosas de radiação.
Representação de um buraco negro em estado de aceleração. Imagem: Nasa/Divulgação
Agora, os blazares vêm em duas formas: as já referidas BL Lacertae, ou então os “quasares de espectro fixo de rádio” (da sigla em inglês, “FSRQ”). Ambos são relacionados, já que os FSRQs são objetos de idade relativamente jovem, que vão engolindo matéria do espaço até que, eventualmente, “evoluem” para um objeto de uma BL Lacertae. “Em outras palavras, as ‘BL Lacs’ podem representar uma fase mais idosa e evoluída da vida de um Blazar, enquanto os FSRQs representam um jovem adulto”, explicou Vaidehi Paliya, uma pesquisadora que participou da descoberta.
O problema: o buraco negro descoberto pela equipe aparenta ter cerca de 1,7 bilhão de anos. Em termos astronômicos, esta é uma idade bastante jovem. Porém, a presença de uma BL Lacertae é um indicativo de que a galáxia onde ele se localiza é, na realidade muito, mas muito mais velha. “Esta descoberta desafia o entendimento atual de que as BL Lacs são uma fase evoluída dos FSRQs”, disse Nicolás Cardiel, o co-autor da pesquisa.
Em termos menos técnicos: o novo buraco negro supermassivo descoberto pelos astrônomos se apresenta como sendo do tipo para o qual outros acabam evoluindo, mas a análise temporal pertinente a ele mostra que ele é jovem demais para que essa hipótese faça algum sentido.
Buraco negro descoberto por pesquisadores na Espanha pode ter idade próxima ao literal início do Universo. Imagem: Van Van/Shutterstock
Por isso, a comunidade internacional estima que o buraco negro em questão pode pertencer a uma era bastante longínqua – algo “de quando o Universo tinha menos de 2 bilhões de anos” de idade, segundo os pesquisadores. Considerando que o consenso é o de que, entre o Big Bang e o período atual, passaram-se cerca de 13,8 bilhões de anos, este buraco negro pode ter 12,1 bilhões de anos.
Considerando que as medidas normalmente praticadas para determinar idade ou passagem de tempo no espaço podem estar erradas graças a essa descoberta, os cientistas especializados em astronomia ainda estão reavaliando o material descoberto pelo telescópio infravermelho – o maior do mundo em sua categoria – a fim de obter informações mais precisas para análise.
Fonte: Phys.org