Como a inteligência artificial está ajudando a NASA a buscar vida fora da Terra

Tecnologia permite identificar exoplanetas com mais facilidade e simular condições ideais para a existência de vida em outros mundos
Renato Santino17/04/2019 23h53, atualizada em 18/04/2019 00h00

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Será que estamos sozinhos no universo? É o tipo de pergunta que surge naturalmente em rodas de discussão informais como, por exemplo, uma mesa de bar. No entanto, existem estudos sérios que visam criar uma resposta científica para esta pergunta que muitas vezes é mais retórica e filosófica do que prática.

Para tentar chegar a uma conclusão, a NASA possui um projeto usa inteligência artificial com o objetivo de detectar padrões que permitam identificar sinais de vida em outras partes do universo. Chamado de FDL (Laboratório de Desenvolvimento de Fronteiras, na sigla em inglês), o programa utiliza os serviços de computação em nuvem do Google para processar toneladas de dados e alcançar em minutos respostas que levariam meses para serem alcançadas por cérebros humanos.

O primeiro passo na identificação de um planeta que possa abrigar vida é… encontrá-lo. Pode parecer redundante, mas não é uma tarefa fácil. Exoplanetas, como são chamados os planetas que orbitam outras estrelas que não são o nosso Sol, estão incrivelmente distantes, o que torna a missão de encontrá-los bastante complicada.

Como explica Massimo Mascaro, diretor do Google Cloud para inteligência artificial aplicada, a descoberta de um planeta acontece quando um deles acaba cruzando a linha de visão dos equipamentos que a NASA têm apontados para estrelas pelo espaço. Neste momento, os sensores detectam uma breve interrupção na emissão de luz; é o momento em que o exoplaneta bloqueia a luz da estrela.

Esse trabalho é feito pelo satélite TESS (Satélite de Pesquisa de Exoplanetas em Trânsito, em inglês), que a cada 27 dias despeja terabytes de dados sobre uma porção do céu analisada durante o mês. A partir destas informações, os pesquisadores precisam encontrar o padrão mencionado previamente: uma luz que brevemente perde a intensidade como resultado de um objeto que cruza o seu caminho até os sensores do satélite. É um padrão bastante delicado, e que muitas vezes levou a falsos positivos quando esse trabalho era feito por mentes humanas.

Reprodução

O satélite TESS, responsável por vasculhar o universo atrás de exoplanetas

Graças à tecnologia de aprendizado de máquina, no entanto, a NASA se tornou capaz de treinar uma inteligência artificial que é capaz de identificar em “um piscar de olhos”, como define o astrônomo Hugh Osborn, o que é e o que não é um planeta, com a capacidade de identificar e classificar rapidamente as diferentes curvas de luz e observar variáveis que não haviam sido percebidas pelos cientistas. Os pesquisadores notaram que a precisão da análise subiu de 94% para 96% quando a máquina começou a fazer essa função; a diferença pode parecer marginal, mas os humanos levavam dias para concluir a tarefa, enquanto a máquina leva apenas alguns segundos para isso, com uma taxa de acerto maior.

Essa, no entanto, é apenas uma das partes da pesquisa de vida alienígena. Encontrar novos exoplanetas é útil como ponto de partida, mas como sabemos apenas de olhar para o nosso Sistema Solar, nem todos os planetas têm condições de abrigar vida.

Essa tarefa é complicada. Desde que a humanidade começou a olhar para o espaço, apenas alguns milhares de exoplanetas já foram confirmados, o que é uma base muito pequena de comparação e análise. Diante disso, os pesquisadores se dedicaram a criar uma base de 3 milhões de planetas simulados por computador, cada um com características únicas, mas similares à Terra por possuírem um solo rochoso, o que pode ajudar os astrobiólogos a testarem suas teorias de forma mais ampla, para analisar o que faz ou não um planeta ser possivelmente habitável. Esse banco de dados ajuda na comparação com exoplanetas reais que venham a ser encontrados pelo TESS para analisar potenciais candidatos a abrigar vida.

A última questão a ser resolvida é entender, afinal de contas, o que é a vida. É mais do que uma questão meramente filosófica, já que nós só conhecemos um planeta habitado até hoje: o nosso. Pode haver outros planetas com características diferentes da Terra e que tenham desenvolvido outros tipos de vida ao longo de bilhões de anos, e isso pode fazer com que tenhamos dificuldades de identificar seres vivos em outros mundos.

Por este motivo, um outro grupo de pesquisadores se dedicou a simular atmosferas, criando propriedades ambientais que possam divergir da Terra e analisar quais delas são quimicamente viáveis. Para isso, foi utilizada a plataforma de computação em nuvem do Google para simular composição elemental e a pressão do ar 270 mil atmosferas utilizando 12 elementos gasosos tipicamente associados com funções biológicas. A ideia é estabelecer quais combinações geram mundos quimicamente viáveis para a vida, o que permitiria comparar essas informações com os exoplanetas que forem detectados.

Tudo isso, no entanto, não oferece qualquer garantia de que vida será encontrada no espaço. Todos esses esforços, afinal de contas, são métodos para evitar que sinais passem diante dos nossos narizes e não percebamos, mas a descoberta ainda depende de uma boa dose de sorte. Isso, claro, se houver algum tipo de vida lá fora.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital