Mesmo com uma superfície “caótica” formada por elevações muito irregulares e um calor extremo de até 400 ºC, Mercúrio pode apresentar um elemento essencial à origem da vida: a água. É o que defende um novo estudo publicado por pesquisadores do Instituto de Ciência Planetária (EUA) na revista científica Scientific Reports.

A pesquisa oferece novas explicações sobre as causas que fazem o solo do planeta ser extremamente acidentado. Segundo os cientistas, a superfície de Mercúrio consiste em grandes crateras colapsadas, fragmentos de rochas e relevos irregulares.

Por 50 anos, astrônomos apontam que essas características são consequência de terremotos provocados pelo impacto de um asteroide massivo há milhões de anos. A nova teoria, entretanto, descarta esta hipótese com base no argumento de que o terreno já apresentava tais particularidades dois mil anos antes de ocorrer a colisão.

Segundo estudo, o fenômeno é resultado de ações de elementos voláteis – isto é, que podem facilmente passar do estado sólido para o líquido ou gasoso. Essas transições seriam provocadas pelo calor do magma abaixo da superfície do planeta. Uma vez que os elementos assumem a forma gasosa, eles forçam o terreno para cima, que colapsa, constituindo a superfície desordenada.

Embora a pesquisa não aponte quais são os elementos voláteis, na perspectiva dos autores, a água pode ser um deles. “É uma descoberta fascinante já que esses voláteis – em especial a água – são necessários para a origem da vida”, disse Deborah Domingue, uma das autoras do projeto, ao The New York Times.

Já Paul Hayne, um cientista planetário da Universidade do Colorado que não esteve envolvido na pesquisa, afirma que a descoberta é consistente com o que já se observou em Marte, onde superfícies similares também são resultados da atividade de elementos voláteis.

A temperatura do planeta, no entanto, pode ser um impeditivo para o desenvolvimento de formas de vida. A superfície de Mercúrio chega a registrar 426 ºC durante o dia e até -137 ºC à noite. Mesmo assim, os cientistas não descartam tal possibilidade.

Segundo Jeffrey Kargel, coautor da pesquisa, uma pequena região abaixo do solo mercuriano apresenta temperaturas que seriam suscetíveis a “pelo menos para algumas formas de vida”. Ele reforça, contudo, que todos os apontamentos são hipóteses e devem ser discutidos com cuidado, apesar de não esconde a empolgação.

“Quanto mais pesquisamos evidências geológicas, mais aprendemos sobre as condições físicas e químicas [em Mercúrio], maiss sou convencido da ideia [de possibilidade de vida no planeta] — podemos estar loucos, mas não totalmente loucos”, afirmou o cientista.

Dr. Hayne, por outro lado, argumenta que se de fato existir água em mercúrio a substância pode estar restrita dentro ou no limite de rochas. “Eu não acho que veremos grandes piscinas de água e lagos subterrâneos ou qualquer coisa do tipo”, ponderou.

Fonte: The New York Times