Cientistas encontram possível sinal de vida na atmosfera de Vênus

Na Terra, Fosfina só é produzida pela atividade de bactérias anaeróbicas; substância já vinha sendo considerada uma possível assinatura de atividade biológica em outros planetas
Rafael Rigues14/09/2020 15h10, atualizada em 14/09/2020 15h57

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Cientistas da Sociedade Astronômica Real no Reino Unido detectaram, de forma “inequívoca”, a presença de moléculas de Fosfina (PH3) na atmosfera de Vênus. A descoberta é significativa, afinal, na Terra, a substância só é produzida pela atividade de bactérias anaeróbicas, e ela já vinha sendo considerada como uma possível “assinatura” de atividade biológica.

A superfície de Vênus é inóspita à vida como conhecemos, com temperaturas que podem chegar aos 464 ºC e pressão atmosférica equivalente a 92 vezes a encontrada na Terra ao nível do mar. Entretanto, no topo da troposfera do planeta, a 65 km de altitude, a temperatura e pressão não são muito diferentes do encontrado em nosso planeta. Foi nesta região que a Fosfina foi encontrada, em concentração de 20 partes por bilhão.

Segundo os pesquisadores, há apenas duas possibilidades para explicar a quantidade de fosfina encontrada: um processo químico completamente desconhecido pela ciência atual, ou a presença de organismos vivos.

Reprodução

Fotos da superfície de Vênus, obtidas pela sonda soviética Venera 13 em 1982

Em dezembro passado um artigo na publicado na revista Astrobiology postulou que se a fosfina fosse produzida em quantidades semelhantes ao metano na Terra, o gás geraria um padrão de luz característico na atmosfera de um planeta. Foi exatamente este o método usado para detecção da substância, com dados capturados por telescópios de grande porte como o James Clerk Maxwell Telescope, no Havaí, e o ALMA (Atacama Large Millimiter Array), no Chile.

Segundo um artigo publicado na revista Nature, “a presença de PH3 é inexplicada após um estudo exaustivo de caminhos químicos e fotoquímicos, com nenhuma forma atualmente conhecida de produção abiótica na atmosfera, nuvens, superfície e subsolo de Vênus, ou como resultado de raios, atividade vulcânica ou transporte por meteoros”.

Os cientistas são cautelosos e não afirmam que descobriram vida, mas sim um possível indicador dela. Dados mais concretos poderão ser obtidos com futuras missões a Vênus, possivelmente incluindo balões capazes de mergulhar na atmosfera do planeta, coletar amostras e realizar análises a longo prazo.

Uma visita em 2023?

Recentemente o CEO e fundador da Rocket Lab, Peter Beck, afirmou em uma sessão de perguntas e respostas transmitida pelo YouTube que está “loucamente apaixonado por Venus” e que está “trabalhando muito para montar uma missão privada para ir a Vênus em 2023”.

A Rocket Lab, sediada na Califórnia, projeta e fabrica foguetes e satélites, e quer dar seu salto para a exploração espacial com uma missão de astrobiologia para Vênus. Beck descreveu o planeta como “a Terra após um desastre climático”.

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital