Cientistas encontram enorme ‘berçário’ de estrelas na Via Láctea

Estrutura em forma de onda, que tem 9.000 anos-luz de comprimento e 400 anos-luz de largura, fica no braço espiral mais próximo da Terra
Renato Mota08/01/2020 15h49, atualizada em 08/01/2020 16h10

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Astrônomos da Universidade de Harvard encontraram uma estrutura gasosa monolítica em forma de onda – a maior já vista em nossa galáxia – que serve como um super berçário estelar interconectado. A estrutura, com cerca de 9.000 anos-luz de comprimento e 400 anos-luz de largura, alcança 500 anos-luz acima e abaixo do plano médio do disco da Via Láctea, e fica no braço espiral mais próximo da Terra.

Os pesquisadores apelidaram a descoberta de Onda de Radcliffe, em homenagem à sede do Instituto Radcliffe de Estudos Avançados. “Nenhum astrônomo esperava que morássemos ao lado de uma gigantesca coleção de gás como uma onda – ou que ela formasse o braço local da Via Láctea”, explicou Alyssa Goodman, professora de astronomia aplicada, à Harvard Gazette.

“Ficamos completamente chocados quando percebemos o quanto a Onda de Radcliffe é longa e reta, olhando-a de cima em 3D – mas quão sinuosa é quando vista da Terra. A própria existência da onda está nos forçando a repensar nossa compreensão da estrutura 3D da Via Láctea”, completou.

Até então, os astrônomos acreditavam que muitos dos nascedouros de estrelas que formam esta estrutura faziam parte do chamado Cinturão de Gould, uma faixa de regiões de formação de estrelas que se acreditava estarem orientadas em um anel ao redor do sol. “Gould e Herschel observaram estrelas brilhantes se formando em um arco projetado no céu, então por muito tempo as pessoas tentam descobrir se essas nuvens moleculares realmente formam um anel em 3D”, afirma o professor de física e astronomia na Universidade de Viena, João Alves.

“Em vez disso, o que observamos é a maior estrutura de gás coerente que conhecemos na galáxia, organizada não em um anel, mas em um filamento maciço e ondulado. O sol fica a apenas 500 anos-luz da onda no ponto mais próximo. Está bem diante dos nossos olhos o tempo todo, mas não conseguimos vê-lo até agora”.

Ainda não se tem certeza sobre o que causou essa forma na estrutura, que os pesquisadores compararam ao movimento que a água de um lago faz quando se atira uma pedra sobre ela. “O que sabemos é que nosso sol interage com essa estrutura. É como se estivéssemos ‘surfando a onda’”, explicou o professor João Alves.

A pesquisadora de Harvard, Catherine Zucker, acredita que existam estruturas maiores na nossa vizinhança galáctica, que simplesmente não pudemos colocar em contexto. “Para criar um mapa preciso, combinamos observações de telescópios espaciais, como Gaia, com astro estatística, visualização de dados e simulações numéricas”.

Via Harvard Gazette

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital