Um estudo de neurocientistas de universidades europeias sugere que a estadia na Estação Internacional Espacial (ISS) pode provocar alterações reversíveis no sistema nervoso central de astronautas. A pesquisa indicou que a microgravidade no laboratório orbital afeta a distribuição de líquidos no encéfalo e provoca um deslocamento do cérebro para cima.

Os autores analisaram centenas de imagens de tomografia do cérebro de 11 astronautas homens da agência espacial russa Roscosmos. Eles compararam registros de datas anteriores à viagem ao espaço com chapas coletadas nove dias depois dos astronautas retornarem à Terra. Oito participantes ainda passaram por mais uma bateria de exames após 239 dias do desfecho da missão. O tempo médio de permanência dos astronautas na ISS foi de 171 dias, pouco menos de seis meses.

Entre as descobertas está um aumento no tecido de massa branca na região do cerebelo. A substância consiste em um conjunto de células que oferecem suporte nutritivo aos neurônios, enquanto o cerebelo corresponde a um órgão do sistema nervoso central responsável por garantir o equilíbrio e o aprendizado motor do nosso corpo.

Além disso, foi identificado uma redistribuição do fluido cerebrospinal (LCR), que exerce a função de proteger os órgãos do sistema nervoso central contra impactos mecânicos externos. Segundo os pesquisadores, o volume do líquido aumentou na parte inferior do cérebro e diminui ao longo da convexidade cerebral superior.

“Esses resultados apontam para um deslocamento cerebral para cima, induzido pela microgravidade dentro do crânio”, diz o artigo publicado na Science Advances. As descobertas também sugerem o mesmo tipo de deslocamento para o cerebelo.

Os autores observaram ainda um aumento significativo de tecidos de massa cinzenta – que abriga os neurônios – nas áreas frontais superiores do cérebro. Por outro lado, eles encontraram uma correlação inversa entre a presença da substância e o fluido cerebrospinal. De acordo com os pesquisadores, as mudanças na substância cinzenta são resultados de alterações estruturais do sistema nervoso e não de perdas de tecidos.

“As mudanças que observamos no tecido GM [massa cinzenta] e WM [massa branca] parecem resultar de efeitos morfológicos, que provavelmente não afetarão a função cerebral na área cerebral correspondente”, diz o estudo.

Ainda assim, o volume do fluido cerebrospinal pode provocar uma expansão dos ventrículos cerebrais e levar a quadros de SANS. Comum em astronautas que retornam à Terra após muito tempo no espaço, a síndrome afeta a visão de curta distância. A pesquisa, entretanto, aponta que a maior parte das alterações observadas foram revertidas após sete meses do retorno dos astronautas.

Para os cientistas, o trabalho pode contribuir com evidências para agências espaciais adaptarem ‘estratégias motoras’ em missões espciais.

Via: Science Advances