A Via Láctea tem pelo menos quatro grandes braços espirais, e o nosso Sol está quase exatamente no plano central de um deles. Os astrônomos sabem surpreendentemente pouco sobre a estrutura da nossa galáxia, mas estudos recentes permitiram a construção do melhor mapa até agora, usando dados de vários novos projetos de pesquisa.

Estudar estrutura da Via Láctea apresenta um problema bem óbvio: não dá para sair dela e tirar uma foto de fora para dentro. Os esforços estão concentrados em mapear a galáxia de dentro para fora. Vários grandes projetos envolvendo telescópios avançados reuniram uma quantidade sem precedentes de tempo de observação – cinco mil horas de registros galácticos para nos oferecer uma visão nova e aprimorada da Via Láctea.

Uma razão pela qual sabemos tão pouco sobre a nossa vizinhança é que a galáxia contém uma enorme quantidade de poeira. A poeira absorve a luz óptica com eficiência, o que não nos deixa ver muito longe quando observamos na direção do centro do disco galáctico. Outra razão é a imensidão da Via Láctea – a luz das estrelas do outro lado da galáxia leva mais de 50 mil anos para chegar à Terra. Tais distâncias dificultam a identificação de quais estrelas estão próximas e quais estão distantes.

ESA/Reprodução

Por isso a combinação de telescópios que operam com comprimentos de onda ópticos no espaço e com comprimentos de onda de rádio em todo o mundo estão fazendo grandes progressos.  Dois grandes projetos que agora mapeiam a Via Láctea usam uma técnica de radioastronomia chamada Interferometria de Linha de Base Muito Longa (VLBI). Com essa tecnologia podemos medir a posição de uma estrela em relação aos quasares de fundo (buracos negros ativos brilhantes no centro de galáxias distantes) com uma precisão próxima de 0,00001 segundo de arco.

Fazer essa comparação permite aos pesquisadores examinar distâncias muito grandes observando o efeito de paralaxe, pelo qual um objeto próximo, visto contra um fundo distante, aparecerá em diferentes posições quando visto de diferentes pontos de vista. Astrônomos já acumularam cerca de 200 medições de distância baseadas em paralaxe para jovens estrelas quentes em grandes regiões da Via Láctea. Esses dados revelam quatro braços que são contínuos por grandes distâncias na nossa galáxia.

Foto: iStock/ Freder

O mapa também mostra que o Sol está muito próximo de um quinto elemento chamado “braço local”, que parece ser um fragmento isolado de um braço espiral – um segmento órfão de um braço que envolve menos de um quarto da Via Láctea. Foi constatado ainda que a distância do Sol até centro da galáxia é de 26,6 mil anos-luz, e que a Via Láctea está girando a 236 quilômetros por segundo – que é cerca de oito vezes a velocidade com a qual a Terra orbita o Sol.

Com base nesses valores de parâmetro, foi observado ainda que o Sol circula a Via Láctea a cada 212 milhões de anos. Colocando isso em perspectiva, a última vez que nosso Sistema Solar esteve nesta parte da Via Láctea, os dinossauros dominavam o planeta. A localização do Sol em relação ao plano do disco galáctico tem sido controversa: astrônomos estabeleceram um valor de 82 anos-luz acima do plano, mas os resultados recentes colocam a nossa estrela apenas a 20 anos-luz acima da região central do disco galáctico (0,07% distante do centro).

Via: Scientific American