Astrônomos descobrem o que pode ser um novo tipo de planeta

TOI 849 b tem tamanho similar ao de Netuno, mas é mais de 2x mais denso. Isso sugere que ele pode ser o núcleo exposto de um gigante gasoso
Rafael Rigues06/07/2020 13h06

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Astrônomos ingleses encontraram um objeto que pode ser o primeiro representante de uma classe de planetas que até agora era considerada puramente hipotética.

Batizado de TOI 849b, ele orbita a estrela TOI 849, similar ao nosso Sol, a 730 anos-luz da Terra. Apesar de ser apenas um pouco menor que Netuno ele tem o dobro da densidade, que é mais próxima a de “planetas terrestres” (com densidade similar à da Terra), como o nosso ou Vênus.

Isso intriga os cientistas, já que o coloca acima do que é considerado o “limite máximo” de tamanho para um planeta terrestre. Uma possível explicação é que ele seria o núcleo exposto de um gigante gasoso, cuja atmosfera foi arrancada: um planeta ctônico.

“O TOI 849b é o planeta terrestre – que tem uma densidade semelhante à da Terra – mais massivo já descoberto. Esperávamos que um planeta tão massivo tivesse acumulado grandes quantidades de hidrogênio e hélio quando se formou, se tornando algo como Júpiter“, afirmou o astrônomo David Armstrong, da Universidade de Warwick, no Reino Unido.

“O fato de não vermos esses gases nos permite saber que esse é um núcleo planetário exposto. É a primeira vez que descobrimos um núcleo exposto intacto de um gigante gasoso em torno de uma estrela”.

Reprodução

Telescópio espacial da Nasa, TESS. Foto: Reprodução

Descoberta do planeta

O planeta foi descoberto usando o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), um telescópio espacial “caçador de planetas” operado pela Nasa. Os dados obtidos sugerem que o TOI 849b orbita muito próximo de sua estrela, completando uma órbita a cada 18 horas, e tem uma temperatura na superfície de cerca de 1.500 ºC.

Sua massa foi calculada em 39,1 vezes a massa da Terra, ou 2,3 vezes a massa de Netuno. Isso resulta em uma densidade de 5,2 gramas por centímetro cúbico, muito próxima à da Terra (5,51 g/cm³) ou de Vênus (5,24 g/cm³).

“Este é o planeta deste tamanho mais massivo que conhecemos, extremamente denso para algo do tamanho de Netuno, o que nos sugere que este planeta tem uma história muito incomum. O fato de que está em um local estranho para algo com tanta massa também nos ajuda – não vemos planetas com esta massa e períodos orbitais tão curtos”, disse Armstrong.

Possibilidades

Há duas possibilidades para explicar TOI 849b: uma é que ele tinha uma imensa atmosfera como a de Júpiter, que foi arrancada devido ao calor e proximidade de sua estrela, um fenômeno que já vimos em outros exoplanetas como Gliese 3470b.

Outra possibilidade é que ele começou a se formar como um gigante gasoso, mas não completou o processo devido à falta de material, seja porque nasceu “tarde” durante a formação do sistema planetário ou se formou dentro de um “buraco” no disco de material ao redor da estrela.

“De uma forma ou outra, TOI 849b era um gigante gasoso ou não conseguiu se tornar um”, disse Armstrong. “É algo inédito, e nos mostra que planetas como este existem e podem ser encontrados. Temos a oportunidade de olhar para o núcleo de um planeta de forma que não podemos fazer em nosso sistema solar”.

“Ainda temos muitas questões em aberto sobre o núcleo de Júpiter, e exoplanetas estranhos e incomuns como este nos dão uma janela para observar a formação planetária que não podemos explorar de outra forma”, completa.

Fonte: Science Alert

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital