São Paulo, manhã de um dia em 2050. Uma reunião de negócios em Campinas é marcada de última hora. Você abre um aplicativo de compartilhamento de viagens no seu celular e vê que em meia hora um carro vai sair do lado do seu escritório – e chegar um quarteirão do seu destino final – com outras três pessoas. No ponto de partida, as quatro pessoas entram no carro como passageiros – o carro é autônomo, sem motorista.

No caminho, todos os carros são autônomos. Mais que isso, eles se comunicam entre si e com sensores na estrada, que indicam, por exemplo, a velocidade máxima permitida. Os veículos negociam ultrapassagens (se ainda necessárias!) em tempo real e tem conhecimento da posição de todos os carros na área. Acidentes graves são coisa de museu desde 2046.

Depois de uma hora de bate-papo com seus companheiros de viagem, o carro chega ao destino final e, após os passageiros desembarcarem, não vai colocar combustível no tanque, mas sim recarregar a bateria – afinal, o carro é elétrico.

Parece distante, mas, pensando bem, já vimos esse filme. Tudo o que acontece aí é reflexo de quatro macro-tendências dos setores automotivo e de mobilidade: o carro do futuro será compartilhado, autônomo, conectado e elétrico. São tendências interligadas naturalmente, como veremos a seguir.

Compartilhado

Este é o aspecto mais forte já em 2018: muitos de nós já usamos aplicativos de transporte individual, de carona ou de carros compartilhados para nos deslocarmos nas grandes cidades ou pegar a estrada. O carro está se tornando cada vez mais compartilhado – ou seja, utilizado por outras pessoas além do dono do veículo. A posse de veículos por pessoas físicas, por sinal, será substituída por frotas geridas por empresas: locadoras de carro (tradicionais ou sob demanda), operadoras de frota ou até as próprias montadoras. Outra maneira de enxergar esse fenômeno é que cada vez mais pessoas vão preferir contratar o serviço de transporte entre A e B ao invés de comprar o carro.

Note que o compartilhamento é um elemento quase obrigatório – um passo intermediário – na migração de carros conduzidos por humanos para carros autônomos (ver mais abaixo), pelo menos pensando no carro de passeio tradicional. A recíproca é verdadeira: carros autônomos tornarão o ‘matching’ das plataformas de compartilhamento muito mais eficiente.

Autônomo

Ninguém sabe se vai levar dois, cinco, dez ou vinte anos, mas os carros autônomos estão próximos de virar realidade. Eles virão em ondas, de acordo com casos de uso específicos: primeiro na estrada (já estão em teste veículos já são quase 100% autônomos em estradas bem sinalizadas), depois em ruas suburbanas, depois em ruas movimentadas dos grandes centros.

Uma lista não-exaustiva dos benefícios:

  • Menos acidentes: afinal, a maior parte dos acidentes graves ocorre por falhas humanas. A médio e longo prazo não será surpreendente se os carros não-autônomos passarem a ser banidos
  • Ganhos ambientais: veículos autônomos devem eliminar congestionamentos, tornando deslocamentos mais rápidos e, portanto, consumindo menos combustível (ou energia!). Adicionalmente, com uso compartilhado
  • Mais tempo livre e produtividade: o tempo dirigindo (e o economizado nos deslocamentos) será destinado para lazer/ bem-estar ou trabalho

Os carros autônomos estão sendo viabilizados por uma combinação de muitas tecnologias: hardware (sensores, scanners, câmeras, chips de processamento) e software (algoritmos de roteamento e interpretação de imagens, entre muitos outros), isso sem falar do ‘básico’, como o GPS ou dados de plataformas de mapas.

Conectado

Em março de 2015, a Tesla Motors anunciou a liberação de um upgrade do sistema operacional “pelo ar” (over-the-air, ou OTA) para todos os seus carros sedan Model S. “Projetamos o Model S para ser um computador sofisticado sobre rodas. (…) a atualização do software funciona do mesmo jeito que atualizamos um notebook ou um smartphone”, dizia o fundador Elon Musk, durante o anúncio.

Mas por que essa lembrança? Para mostrar que carros conectados já eram uma realidade naquele ano. Passados três anos, esse movimento só evolui.

Vale observar: quando falamos de carro conectado, não estamos falando do carro com conectividade (acesso a bluetooth etc). Isso é o começo da história. A conexão de veículos tem possibilidades múltiplas:

  • V2I (Vehicle-to-Infrastructure): comunicação entre os veículos e semáforos, estradas, pontes e qualquer peça de infra-estrutura. Ou seja, um semáforo pode avisar aos veículos próximos que vai ficar vermelho, permitindo que eles diminuam a velocidade preventivamente
  • V2V (Vehicle-to-vehicle): comunicação entre os veículos. No exemplo acima, os veículos podem não somente receber a mensagem do semáforo, como também enviá-la para todos os carros próximos, para garantir que eles também vão parar
  • V2X (Vehicle-to-everything): comunicação com qualquer outra entidade, para monitoramento (localização, velocidade), diagnóstico, atualização e até manutenção em tempo real

A grande vantagem é, naturalmente, a segurança, visto que carros e infra-estrutura podem se coordenar, evitando acidentes.

Elétrico

A França planeja banir carros não-elétricos a partir de 2040. A Volvo quer que metade dos seus carros novos, já em 2025, sejam totalmente elétricos. A Porsche tem planos semelhantes.

Não é à toa que a indústria automotiva está abraçando os carros elétricos. Afinal, são carros com emissão de poluentes virtualmente zero, principalmente se carregados com energia gerada a partir de fontes renováveis. Adicionalmente, os carros elétricos são mais baratos de “abastecer” e também de manter, por terem menos peças móveis que um carro com motor à combustão, além de não terem exaustores, radiadores, injeção, etc.

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*Ainda não chegamos em 2050. Mas o futuro já está aí. O que está por vir? O momento em que essas tendências começarem a se disseminar. Até lá, teremos muitos testes, atualizações, melhorias. E aprendizados.