A Toyota, montadora mais valiosa do mundo, é uma das fabricantes que aposta muitas fichas nos carros movidos a hidrogênio, opção para motoristas que querem investir em um veículo a base de energia limpa. Segundo reportagem do Washington Post, a companhia japonesa deve multiplicar em 10 vezes a produção de veículos com essa tecnologia, até 2021.
O modelo Toyota Mirai corresponde a uma das linhas mais populares de veículos com essa tecnologia – o motor elétrico é combinado a uma célula de combustível que mistura hidrogênio com oxigênio para gerar energia, enquanto descarta água como resíduo.
No entanto, o mesmo artigo do jornal americano revela os pontos baixos dessa espécie de carros, incluindo um de seus principais mercados no mundo: o estado da Califórnia, nos Estados Unidos.
Hidrogênio x Carros Elétricos
O primeiro entrave corresponde a competição dos automóveis movidos a hidrogênio com os veículos elétricos. Diferente do primeiro, os carros puramente elétricos funcionam com uma bateria de lítio que pode fornecer energia por centenas de quilômetros com apenas uma carga.
Enquanto o CEO da Tesla, Elon Musk, não cumprir a promessa de construir um veículo puramente elétrico com alcance de 643 km, neste quesito, as duas tecnologias estão par a par. Afinal, veículos com células de hidrogênio podem rodar de 300 a 400 quilômetros com um único tanque completo de combustível.
O desafio para as células de hidrogênio, no entanto, é justamente o abastecimento. O preço comum de um galão de hidrogênio, na Califórnia, corresponde a US$ 13,99 por quilograma, isso seria o mesmo que pagar US$ 5,60 por um galão de gasolina – o preço médio da gasolina nos EUA é US$ 2,59. Por outro lado, segundo o Washington Post, laboratórios de energia renovável esperam que o preço do hidrogênio por quilograma seja reduzido para a faixa de US$ 8 a US$ 10 até 2025.
Ainda mais preocupante é a disponibilidade de postos e do próprio combustível nas bombas de abastecimentos. Um estudo feito pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos mostra que em 2019 havia 61 postos de abastecimento ao longo do país, apenas três a mais do que em 2012. O crescimento foi concentrado na Califórnia, que dobrou a quantidade, enquanto outras cidades, como Nova York, apresentaram queda na oferta de locais. Em contrapartida, o mesmo estudo detectou uma expansão muito maior na infraestrutura de carregamento de carros puramente elétricos.
Embora a Califórnia tenha sido privilegiada com novos postos de abastecimentos, isso não significa que o estado não tenha encarado problemas. Em junho do ano passado, uma explosão nas instalações da Air Products e Chemicals, em São Francisco, causou a escassez de hidrogênio nas bombas do estado. A situação fez com que muitos motoristas de carros movidos a hidrogênio deixassem de usar os próprios automóveis e fizessem pedidos a Toyota, Honda e outras montadoras para garantir o aluguel de veículos emergenciais.
Vantagens e subsídios
Apesar das dificuldades, os carros movidos a hidrogênio são atrativos por conta de subsídios. Na Califórnia, por exemplo, o governo incentiva a adoção da tecnologia com um desconto de US$ 10 mil em impostos e um “vale combustível” no valor de US$ 15 mil. Isso abate a preocupação com o custo elevado dos galões de hidrogênio por quase três anos. Essas vantagens fazem o preço de modelos caírem para abaixo de US$ 60 mil.
Outro fator é que automóveis movidos a hidrogênio apresentam uma maior flexibilidade, se comparados com os carros elétricos, uma vez que teoricamente não precisam ser “carregados” frequentemente ou entrar em disputadas por fontes de abastecimento de energia.
Para fabricantes dos carros movidos a hidrogênio, a tecnologia democratiza o acesso a automóveis de energia limpa. Mas claro que isso só vai acontecer quando os desafios de abastecimento de hidrogênio forem, de fato, superados.
Fonte: Washington Post