Segundo a polícia da cidade de Tempe, no estado americano do Arizona, o acidente fatal no qual um veículo autônomo da Uber atropelou e matou uma mulher de 49 anos em maio era plenamente evitável. As investigações também colocaram uma boa parte da culpa nos ombros de Rafaela Vasquez, a operadora de segurança que teria a missão de assumir o controle do veículo em caso de emergência, mas não conseguiu reagir a tempo.
De acordo com o relatório de 318 páginas, Vasquez poderia ter percebido a pessoa na pista e agido para evitar o impacto se não estivesse distraída com o celular. As investigações indicaram que a operadora passou 42 minutos assistindo ao programa de TV “The Voice” no serviço de streaming Hulu, até o momento do acidente.
O vídeo divulgado na época mostrava Vasquez olhando para baixo instantes antes do acidente. A justificativa na ocasião era de que ela estava verificando o iPad acoplado ao carro, que funciona como interface com o veículo. Ela negou ter usado quaisquer celulares na ocasião. No entanto, as imagens mostram que ela passou 7 dos 22 minutos antes da colisão olhando para baixo, ocasionalmente rindo ou sorrindo, indicando que ela provavelmente estava assistindo a alguma coisa. Ela olhou para frente 0,5 segundo antes do acidente, passando os 5,3 segundos anteriores olhando para baixo, tentando frear com menos de um segundo de antecedência.
Na visão da polícia, a distração pode ter sido uma das causas do acidente, e agora Rafaela Vasquez pode ser acusada de homicídio culposo.
No entanto, a operadora não é a única responsável em um acidente como esse, já que era missão inicial do carro ser capaz de reconhecer uma pessoa na pista e desviar ou frear em segurança sem depender de interferência. O relatório mostra que os sistemas foram capazes de detectar que havia alguma anomalia na pista, mas não agiram de acordo.
Os sensores LIDAR (radares com lasers) chegaram a detectar a mulher na pista com 6 segundos de antecedência, o que é tempo suficiente para qualquer manobra de segurança. No entanto, o sistema classificou a mulher como um “objeto desconhecido”, um veículo e uma bicicleta. Essa falha de reconhecimento atrasou a reação; quando faltava apenas 1,3 segundo para a colisão, o sistema determinou que era necessária frear o carro em caráter emergencial. O problema é que esse recurso foi desabilitado pela Uber para reduzir problemas de “comportamento errático” do veículo.
A justificativa pode parecer estranha, mas também é uma questão de segurança garantir que o veículo não freie bruscamente em qualquer sinal de ameaça. Afinal de contas, existe também o risco de uma freada sem motivo inicie um engavetamento que também pode ser fatal.
A Uber fechou um acordo com a família da vítima, pagando uma indenização cujo valor não foi divulgado. O acidente também fez com que a empresa tivesse que encerrar definitivamente os testes com veículos autônomos no Arizona, e agora procura outro local para testar seus carros.