O ecossistema tecnológico na indústria automobilística

Carros são computadores sobre rodas. Fábricas são exércitos de computadores ordenando braços mecânicos.
Redação07/12/2018 20h37, atualizada em 07/12/2018 23h30

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Cadeia alimentar é a sequência de matéria e energia trocadas entre os seres vivos por meio da nutrição. Os organismos dependem uns dos outros para sobreviver nos ecossistemas e esse processo é muito bem representado por uma pirâmide: os vegetais são a base e, no próximo degrau, estão os herbívoros, que comem os vegetais. Esses, por sua vez, são devorados pelos carnívoros – os quais ficam no topo da pirâmide. Pode parecer inusitado, mas podemos fazer uma excelente analogia com o mundo high-tech, especialmente na fabricação de automóveis – seja para empresas do setor ou fornecedores de serviços e materiais.

Na indústria automobilística, no topo da pirâmide tecnológica, vivem os carnívoros: Manufatura 4.0 e Carros Autônomos (filhos da Inteligência Artificial – IA), que representam as fábricas e os carros. Ambos os processos dependem de uma grande quantidade de dados para as tomadas de decisão, por isso, o Big Data é essencial. A coleta das informações é realizada por meio de sensores inteligentes, celulares e computadores, que depois são armazenadas na nuvem.

Duas categorias de IA se tornarão, em breve, triviais em nos veículos: 1) infotainment, junção das palavras information e enternainment (informação e entretenimento), que faz interface com o ser humano via reconhecimento de voz e gestos, movimento dos olhos, monitoramento e assistência virtual de direção; e 2) Sistemas Avançados de Assistência ao Motorista (ADAS – abreviação em inglês de Advanced Driver Assistance System), que detecta objetos, realiza classificações básicas, alerta o condutor sobre condições perigosas nas estradas e, em alguns casos, desacelera ou para totalmente o veículo (por meio de sistemas de câmaras de visão, como os sensores LiDAR, essenciais para o funcionamento dos carros autônomos), além de detectar objetos utilizando sistema de laser.

A inteligência artificial – cada vez mais inserida também na base de fornecedores que buscam processos mais ágeis, robutos e integrados – atua como um “carnívoro” do topo da pirâmide, que se alimenta dos herbívoros da cadeia tecnológica: os algoritmos. Esses, por sua vez, chegam aos neurônios artificiais, que, como o próprio termo indica, são uma tentativa de copiar a forma como os seres humanos pensam. O aprendizado se faz pela comparação de entradas e saídas de um processo e alteração da força de conexão entre os neurônios, reforçando aquelas que parecem ser úteis.

Continuando a conhecer esta camada da pirâmide, encontramos a Comunicação. A tecnologia que faz os veículos “conversarem” nas ruas é a mesma que permite que as máquinas convivam no chão de fábrica. Se os carros possuem as comunicações V2V, V2I e V2X (Vehicle-to-Vehicle, Vehicle-to-Infrastructure e Vehicle to Everything), no ambiente fabril, essa é realizada por meio do M2M (Machine-to-Machine) com a Internet das Coisas Industrial. Assim, chegamos ao nível energético mais elevado, a base da pirâmide – a Vegetação – cujo cultivo mantém todos irrigados de nutrientes. Formada principalmente pela mecânica quântica e todas as vegetações que cresceram a partir dela: o entrelaçamento que permitirá o surgimento da computação quântica, a fotônica (na qual substituímos elétrons por fótons), a nanotecnologia e seu mais famoso filho, o grafeno – permitindo baterias de alto desempenho graças as suas propriedades de condutância elétrica e térmica.

Entre os pontos positivos da indústria 4.0 vale destacar o ambiente de implementação supervisionado que permite controlar deslocamentos, iluminação, temperaturas, contaminações, etc. Portanto, mais confiável e competitivo. Antes da inspiração de uma imagem futurista com robôs caminhando pelo chão de fábrica, o fundamental nessa revolução industrial é o imenso trabalho de transformar fábricas em manufaturas livres de desperdícios e, em seguida, digitalizá-las. Mesmo porque, os robôs vão muito além de máquinas antropomórficas com cabeça, corpo e membros. Hoje, empresas automotivas e também autopeças, fornecedores de tintas e até de matérias-primas, como o aço, já convivem com “bots” que estão aptos a preencher inúmeros formulários. Nos 0800, já conversamos com muitos deles e, uma vez nesse estágio, com uma ampla gama de sensores inteligentes gerando dados e mais dados, nada mais natural do que a criação de conhecimento de forma exponencial.

As profissões estão se transformando pelas novas habilidades técnicas e comportamentos pelos quais seremos sempre empreendedores trabalhando para uma empresa ou para nós mesmos; contratantes já têm sonhos futurísticos e precisam de parceiros que os acompanhem nessa jornada, e assim novas demandas profissionais atingem a todos. É necessário ter um genuíno interesse de mudar o mundo para melhor, resolvendo problemas que assombraram fábricas por décadas desde a distante Revolução Industrial trazida pela tecnologia a vapor. Nunca a polinização cruzada foi tão natural. Jamais vimos tanto pólen de uma flor fecundando outra tão distante, o conhecimento do psicólogo fertilizando o algoritmo do matemático para ser usado pelo engenheiro.

Nunca vislumbrei um mundo tão belo. Ser pessimista em um momento como esse é ser preguiçoso, citando o filósofo Mario Sergio Cortella. Como ser preguiçoso em um mundo com tantas possibilidades? E tudo começou com a mecânica quântica, cujas bases datam dos anos 1900. Em termos de cifras, cerca de 30% do Produto Interno Bruto norte-americano atual tem profundas raízes na mecânica quântica: smartphones, TVs, controles remotos, computadores, módulos eletrônicos, apenas para ilustrar timidamente o início desta transformação. Sem a revolução de 100 anos atrás, a ideia de carros e máquinas se conversando seria insana.

Carros são computadores sobre rodas. Fábricas são exércitos de computadores ordenando braços mecânicos. Os silos de conhecimentos se rompem transbordando e inundando áreas e fertilizando planícies que jamais se tocariam: psicólogos trabalhando com matemáticos para ajustar algoritmos, engenheiros conversando com sociólogos. Isso acontece porque o mundo é um imenso oceano de necessidades fluidas, como diria o sociólogo Zygmunt Bauman, em que engenheiros, físicos e matemáticos trabalham com marqueteiros, psicólogos e sociólogos. A tecnologia está redefinindo nossos estilos de vida. Afinal, você não tem um smartphone no bolso?

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital