Quando você pensa em veículos autônomos, o que vem à mente? Carros e caminhões? Ônibus e trens? São esses veículos que recentemente dominaram as notícias sobre mobilidade autônoma, mas ainda há um meio que é negligenciado nestas discussões: as motos.

Presença constante e corriqueira nas ruas das grandes metrópoles da América Latina, as motocicletas e scooters não estão ficando para trás na revolução dos transportes que se aproxima. Empresas e pesquisadores de todo o mundo estão explorando maneiras de como as novas tecnologias podem melhorar as motos, e as vantagens não são apenas para os motociclistas e passageiros, mas para todos com quem compartilham o mesmo ecossistema que envolve o transporte.

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O movimento para tornar motocicletas e scooters “mais inteligentes” é similar ao modo como os Sistemas Avançados de Assistência ao Motorista (ADAS, em inglês) evoluíram nos carros ao longo das últimas décadas. Mas enquanto os motoristas se beneficiaram de recursos como controle adaptativo de velocidade, alertas de saída de faixa de rolagem e assistência a estacionamento, os motociclistas por sua vez precisam de um conjunto diferente de ferramentas e tecnologias que possam tornar suas viagens mais seguras.

O conceito Motoroid da Yamaha dá passos nesse sentido. A tecnologia de auto-balanceamento torna a viagem mais fácil e segura para o motociclista, permitindo que ele se concentre em mudar de marcha e manter a direção sem ter que se preocupar com a estabilidade, enquanto câmeras e um sistema de inteligência artificial podem reconhecer gestos de outros condutores e levar essas informações a decisões de movimento.

Na CES 2019 em Las Vegas, a BMW Motorrad demonstrou o protótipo de uma motocicleta sem piloto de sua série R 1200 GS, que tem a capacidade de partir, dirigir, girar, acelerar, desacelerar e parar por si só. Ela foi desenvolvida exclusivamente para ajudar a fornecer dados valiosos sobre a dinâmica de condução para pilotos humanos, bem como para garantir que as motocicletas sejam parte integrante da conversa em curso sobre o futuro da mobilidade.

De maneira semelhante, pesquisadores do MIT testaram um triciclo autônomo construído para o transporte tanto de pessoas quanto de mercadorias. O “Veículo Elétrico Persuasivo”, como é chamado, pode ser convocado por um aplicativo e através deste mover pessoas e objetos do ponto A para B – tudo sem precisar de um piloto humano. Embora essas tarefas também possam ser alcançadas por um carro ou caminhão autônomo, o protótipo por sua vez compartilha as vantagens das motos: sua forma compacta, flexibilidade de manobras e velocidade podem ajudar a aliviar o congestionamento nas grandes cidades mantendo a rapidez e a segurança durante a viagem.

Obviamente, motos possuem algumas desvantagens. Seu tamanho pode torná-las difíceis de serem vistas e seus movimentos podem ser imprevisíveis – não apenas para motoristas, mas para a inteligência artificial por trás de veículos autônomos, que tem sido historicamente deficiente na detecção de veículos de duas rodas.

Esta é mais uma razão para garantir que os testes de veículos sem condutor envolvam também as motos. É o que a AB Dynamics, sediada no Reino Unido, está fazendo com seu projeto de scooter autônoma. A empresa montou scooters com inteligência artificial, GPS e vários outros tipos de sensores para criar motos autônomas circulando ao lado de carros autônomos. Ao usar esses veículos em conjunto, a tecnologia por trás dos carros pode se tornar melhor em reconhecer o comportamento das motos sem o perigo e as preocupações éticas e de segurança de se testar com motociclistas humanos. E é fácil ver como isso pode ser melhorado com a comunicação “veículo-veículo”, como o conceito Safe Swarm (que utiliza propriedades da biomimética para conceber uma experiência de condução mais segura, eficiente e agradável), e habilitando-o entre carros e motocicletas.

E por falar em segurança, existe um entendimento equivocado de que as motos são as maiores causadoras de acidentes envolvendo outros veículos de quatro ou mais rodas rodas. Porém, o fato é que nem todos os acidentes de moto envolvem outros veículos. Por exemplo, um relatório de 2017 descobriu que mais de 40% dos incidentes fatais de motocicletas na Austrália envolvem apenas um veículo, ou seja, a própria moto. Isso ocorre parcialmente porque estes veículos são muito mais suscetíveis às condições das estradas – e neste sentido, as tecnologias modernas oferecem uma solução. Equipando estes veículos com ferramentas como o LIDAR, dados geográficos altamente detalhados (como o HD Live Map) e serviços avançados de predição das condições da via como o Electronic Horizon, motocicletas e scooters poderao enfim ter uma compreensão mais detalhada das características de qualquer rua ou estrada, permitindo que um sistema de inteligência artificial adapte seu comportamento de condução com base nas mudanças de condições da via, como curvas acentuadas, e anomalidades do pavimento como buracos, lombadas e valetas.

A mobilidade está mudando e, assim como todas as outras formas de transporte, as motos também estão em processo de transformação. Com o uso da tecnologia que está sendo trazida para motocicletas e scooters, a pilotagem em breve será mais eficiente e – o mais importante – muito mais segura.