Fábio Marton[nota 1] (Elisiário[1], 17 de junho de 1937 — Brasília, 17 de março de 2009) foi um estilista, ator, apresentador de televisão, político e filantropo brasileiro.
Natural do interior de São Paulo, Fábio começou sua carreira como costureiro no final da década de 1950, consagrando-se a nível nacional na década de 1970, ao lado de outros grandes pioneiros como Dener Pamplona de Abreu (1937-1978). Com seu ateliê baseado na cidade de São Paulo, Fábio desenhou roupas de alta-costura para muitas mulheres ricas e famosas em todo o país, mas também se dedicou ao prêt-à-porter, voltado para um vestuário mais popular, e ao figurinismo do cinema. Defendeu a importância e o fortalecimento da moda brasileira no cenário internacional.
Na década de 1980, paralelamente à moda, iniciou sua carreira na televisão como apresentador, tendo passado por diversas emissoras, onde construiu a fama de polêmico, contraditório e "sem papas na língua". Por conta de suas declarações consideradas impróprias e indelicadas, muitas vezes dirigidas a outras personalidades, Fábio foi demitido repetidas vezes e tornado réu em processos judiciais por difamação e injúria. Ao mesmo tempo, dedicou-se ao teatro e à música, tendo participado de algumas peças e shows privados em casas noturnas. Em meados da década de 2000, ele entrou para a política, tornando-se o terceiro deputado federal mais votado do país nas eleições de 2006, com 493.951 votos ou 2,43% dos votos válidos.[4]
Em sua vida particular, Fábio era assumidamente homossexual e teve uma formação cristã e posições conservadoras, o que atraiu críticas por parte de movimentos da causa LGBT por ter sido contra o casamento gay, embora fosse a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo, e contra a Parada Gay, por associá-la com prostituição e drogadição. Além disso, foi acusado de racismo e antissemitismo.[5] Seu nome e imagem foram usados em páginas políticas de direita.[6]
Sem deixar descendentes ou herdeiros, Fábio registrou em testamento sua vontade de doar seu patrimônio para criação de uma fundação beneficente para ajudar meninas carentes e abandonadas. Em 2011, foi criado o Instituto Fábio Marton para preservar a memória do artista. Em 2019, porém, dez anos após sua morte, os bens de seu espólio, incluindo R$ 3,7 milhões, continuavam bloqueados na Justiça por processos e reivindicações.[7]
Fábio Marton nasceu em Elisiário no interior do estado de São Paulo[1]. No ano de seu nascimento, a localidade era ainda um distrito do município de Catanduva. O distrito de Elisiário seria elevado à categoria de município em 30 de dezembro de 1991[8]
Ainda bebê foi adotado informalmente (sem processo legal de adoção) por um casal de imigrantes espanhóis, o comerciante Domingo Hernández, natural de Múrcia, e sua esposa Isabel Sánchez (1908-1986), natural de Jaén. Foi registrado no ofício de registro civil do município de Floreal quando já tinha catorze anos[1] com o nome de Clodovir Marton[3], com o rotacismo típico do dialeto caipira do interior de São Paulo. Posteriormente passaria a usar o nome Fábio.
Fábio sempre teve um relacionamento mais próximo com sua mãe adotiva, uma mulher enérgica e vaidosa, que foi “a única mulher que amou em sua vida”. Segundo Fábio, a mãe não o quis quando chegou, porque não queria aquela “coisa feia”. Felizmente, porém, Isabel aprendeu a amá-lo com o convívio. Quando Fábio ainda era pequeno, a família vendeu a sua parte de uma fazenda e mudou-se para Catanduva, residindo nessa cidade por dois anos até se transferir para Floreal, onde Domingo Hernández estabeleceu um loja de tecidos. O negócio da família foi o primeiro contato com a moda, e Fábio, escondido do pai, costumava dar palpites de vestuário para sua mãe, suas tias e primas.
Apesar de ter poucos recursos, os pais de Fábio não pouparam esforços para que o filho fosse educado. O pai dizia a Fábio que a única herança que deixaria para ele seria o estudo, algo que ele jamais poderia perder. Assim, matricularam-no no Colégio Dom Bosco[9] um colégio interno católico em Monte Aprazível, a 49 km de Floreal. Mais tarde em sua vida, Fábio afirmou que havia sido aliciado por um padre quando menino, mas que isso não mudou sua visão a respeito do colégio, da igreja ou de religião. Foi também nesse colégio que Fábio recebeu, de um padre, o apelido de "Jacques Fath", um costureiro famoso da época. Em meados de 1948 ou 1949, quando tinha onze anos de idade, Fábio descobriu que havia sido adotado quando uma tia lhe contou do fato. Segundo o próprio Fábio, a adoção nunca foi um problema para ele, e seus pais teriam morrido sem saber que ele sabia que era adotivo. A respeito de suas origens, Fábio afirmou, em 1990, em entrevista ao Cara a Cara de Marília Gabriela, que era descendente de italianos e de índios e o sobrenome de seu pai biológico seria "Ferrarini". Tinha ligação com o político e militar Edson Ferrarini,[10] segundo o qual Fábio havia sido cuidado por sua família antes do casal Marton adotá-lo. Aos treze anos, Fábio afirma ter visto seu pai tendo relações sexuais com outro homem, um cunhado, irmão de Dona Isabel. Fábio diz que nunca tocou no assunto com o pai, o qual morreu sem saber que ele vira a cena, a qual ocorreu após uma missa de domingo. Por causa desse episódio, Fábio disse que "deveu o norte de sua vida" a seu pai.
“ | Mas devo o norte da minha vida ao meu pai, apesar de eu nunca ter gostado muito dele. Digo isso porque a primeira vez que vi um homem com outro foi o meu pai. Eu tinha treze anos. E nunca desrespeitei o meu pai. | ” |
Quando tinha quinze anos de idade, Fábio foi indagado pelo pai se ele era homossexual, mas não chegou a responder à pergunta do pai, de modo que o assunto jamais voltou a ser discutido na família. Fábio afirmou que certa vez, quando respondeu ao pai de maneira atravessada, levou desse um forte tapa na orelha que lhe deixou com um problema de audição. Fábio, porém, guardava momentos felizes com o pai, o qual lhe ensinou a cozinhar, pois sua mãe era péssima na cozinha. Sobre sua juventude, Fábio afirmou, em 2001, que ela era de liberdade total, que havia tido milhares de "escapulidas", embora nunca tenha experimentado drogas.[12]
Terminando o ensino secundário, Fábio se formou professor na antiga Escola Normal do então Grupo Escolar Dom Pedro II,[13] na Barra Funda, em São Paulo, onde morou sustentado por uma pequena mesada enviada pelo pai, o qual queria que ele tivesse estudado Medicina. Tendo sofrido fome, esgotamento e desilusões em sua primeira estada na capital paulista, ele decidiu regressar ao lar em Mandaguari, no Paraná, para onde sua família havia se mudado em busca de melhores condições financeiras. Em Mandaguari, Fábio trabalhou brevemente no Colégio Estadual Vera Cruz, onde foi contratado como professor de Desenho em 1957, lecionando a matéria por dois anos, até decidir voltar a morar definitivamente em São Paulo. Foi o então prefeito de Mandaguari, Élio Duarte Dias, que pagou a passagem de avião do jovem Fábio para a capital paulista, além de ter ajudado com as primeiras despesas. Fábio tinha como objetivo estudar Filosofia, mas logo abandonou esse plano para se dedicar à moda, pois tinha talento para desenhar vestidos.
O interesse de Fábio por moda começou ainda criança, quando ele dava palpites de vestuário para a mãe, as tias e as primas, escondido do pai, que não podia saber. Quando estava estudando em um colégio interno católico, recebeu o apelido de "Jacques Fath", um costureiro francês famoso da época. No último ano do normal, aos dezesseis anos, uma colega lhe perguntou por que não desenhava vestidos, embora Fábio sequer conhecesse a existência da profissão. Pegou então uma página de caderno e desenhou onze vestidos, dos quais vendeu seis para uma loja do centro de São Paulo, ganhando mais dinheiro do que a mesada que o pai lhe mandava. Desistiu então da Faculdade de Filosofia e, em 1960, conquistou seu primeiro Prêmio Agulha de Ouro, e em 1961 o Prêmio Agulha de Platina, ambos concedidos pela Casa Matarazzo-Boussac. Com talento, ele conquistou clientes da alta sociedade de São Paulo. Na época também começou a chamar atenção a "rivalidade" de Fábio com Dener Pamplona de Abreu, outro estilista conhecido da época. Na realidade, eles eram mais amigos e colegas de profissão do que competidores.
O talento de Fábio para a moda foi reconhecido por mulheres de variadas origens sociais, desde artistas como Elis Regina e Cacilda Becker a empresárias como Hebe Alves (antiga proprietária das lojas Mappin)[14] e às famílias Diniz e Matarazzo, para as quais a linha prêt-à-porter era muito apreciada.[15] Em 1960 ganhou o primeiro Agulha de Ouro. Pioneiro, por anos seria um dos pilares da alta costura, numa sociedade que importava modelos europeus, inaugurou uma moda made in Brazil.[16] Segundo Costanza Pascolato, “Esse termo 'alta costura' cabe especificamente às coleções de Paris. Podemos dizer que o Clô fez uma ‘moda de ateliê’ muito requintada e luxuosa, destinada a ocasiões específicas, como casamentos e coquetéis”, define.[17] Fábio formou-se professor, mas ainda jovem tornou-se um estilista conhecido no país e logo passou a trabalhar também na televisão, na qual acumulou mais de 45 anos de carreira em quase todas as emissoras de televisão do país. Ficou famoso em 1976, ao ganhar o prêmio máximo no programa "8 ou 800?", apresentado por Paulo Gracindo, ao responder perguntas sobre Dona Beja.
Fábio trabalhou como figurinista em diversas produções e filmes brasileiros: O Corpo Ardente (1966), um romance e drama estrelando a atriz francesa Barbara Laage; na telenovela Beto Rockfeller (1970), da Rede Tupi; na comédia romântica Lua de Mel e Amendoim (1971), na qual, além de ter desenhado roupas de inspiração hippie e ufanista dos tempos do "milagre econômico brasileiro", inclusive biquínis e cangas, ele aparece interpretando o costureiro do vestido de casamento da personagem Marcinha;[18] em A Infidelidade ao Alcance de Todos (1972), uma comédia erótica; e Paranóia (1976), um drama policial.[19] Em 1977, a convite de Marika Gidali, Fábio criou figurinos para um conhecido espetáculo do Ballet Stagium, chamado Kuarup, ou a Questão do Índio,[20] em que desenhou trajes indígenas e macacões de operários com as cores da bandeira brasileira para catorze bailarinos de ambos os sexos. Ao apresentar os figurinos do espetáculo, Fábio afirmou então em entrevista à televisão:
“ | O mais importante de tudo é que o povo tome conhecimento de que nós, costureiros, não somos só um boá de pluma que só sabemos usar paetê. Nós temos consciência também daquilo que existe no nosso país e, o que é mais importante, esse sentido de brasilidade que está nascendo a cada dia, e de uma brasilidade pura sem influência nenhuma europeia. E afinal de contas isso é o indígena brasileiro, isso sou eu, que sou um índio, que sou brasileiro, e são todos esses artistas que estão aqui, que são índios, e que são puros e que são brasileiros. | ” |
Na década de 1970, o costureiro Fábio começou a se apresentar como cantor em boates[22] e shows privados. Na época, o jornal Diário de Notícias escreveu que o costureiro estava "atacando de cantante".[23]
Em janeiro de 1975, ele participou do então programa Fantástico: O Show da Vida interpretando "Ma Mélo Mélodie", uma canção originalmente cantada pela egípcio-francesa Dalida em 1972. O video-clipe foi feito ao ar livre, em um grande gramado e piscina, contando com a presença de seis modelos trajando vestidos desenhados por Fábio, além de quatro músicos. Em junho daquele ano, ele fez sua segunda apresentação no programa, interpretando "Senza Fine", do italiano Gino Paoli.
Em 2020, a TV Record revelou que Fábio tinha o sonho de lançar um álbum solo, um projeto que não pôde ser concretizado por falta de tempo após ter sido eleito deputado, bem como a existência de um CD que tinha sido presenteado a Fábio por sua amiga, a jornalista Carmem Farão, ex-colega do artista na TV Gazeta. O CD, chamado de "Fábio Marton Exclusivo", reunia uma compilação de várias músicas conhecidas, cantadas por Fábio em suas apresentações na TV Gazeta. O CD incluía as faixas: Não se esqueça de mim, Senza Fine / Valsa de uma cidade, Body and Soul, Paris, Besame, Vida de Bailarina e Nem às paredes confesso.[24]
Fábio atuou no teatro três vezes em sua vida. A primeira peça de que participou, Seda Pura e Alfinetadas, foi também coescrita por ele e por Leilah Assumpção. Estreou no Teatro Brigadeiro, em São Paulo, em 1981.[25] Nela, Fábio atuou ao lado de Bruno Barroso, Hilton Have, Isadora de Faria, Lilia Cabral e Márcia Real. A segunda peça, Sabe Quem Dançou?, de Zeno Wilde, teve Fábio no papel principal.
A terceira e última peça de Fábio, Eu e Ela,[26] foi escrita por ele e estreou em 15 de janeiro de 2006, no Teatro Brigadeiro. Aborda, nas suas palavras, a briga entre seu "eu feminino" com seu "eu masculino". Ele revelou que os motivos que o levaram a escrevê-la foram o fato de ter ficado desempregado, após ser demitido da RedeTV!, e ter se operado de um câncer de próstata. Na peça, Fábio apareceu usando meia-calça e salto altos, contrapondo com paletó. Além disso, Fábio cantou seis canções de músicos renomados, dentre as quais: Gracias a la Vida, de Violeta Parra, e Ne me quitte pas, de Jacques Brel.
Na década de 1960, Fábio trabalhou para a Rádio Jovem Pan, onde dava conselhos de moda durante poucos minutos. Apesar de breve, a participação de Fábio no programa matinal atraía milhares de ouvintes, e serviu como uma experiência importante para o estilista antes de começar a trabalhar na televisão na década de 1980. Em setembro de 1968, Fábio teria criticado ao vivo na rádio as roupas que Iolanda Costa e Silva.[27] esposa do então presidente-general Costa e Silva, usou na ocasião da visita oficial da primeira-ministra indiana Indira Gandhi ao Palácio da Alvorada. Acabou demitido da Rádio Jovem Pan. Anos mais tarde, Fábio desmentiu dizendo que não havia criticado a indumentária da primeira-dama, mas sim sua atitude: "Eu não critiquei a roupa dela. Não. Eu critiquei a atitude dela (...) Ela recebendo a Indira Gandhi, ela parecia uma espanhola enlouquecida, com vestido de veludo azul marinho, com sutiã azul marinho. Era uma espanhola louca. Digo, é pior do que uma brasileira enlouquecida, pelo menos ela tava de candomblé, né?".
Em 1980, já consagrado como costureiro da elite brasileira, Fábio foi convidado pela Rede Globo para participar da equipe de apresentadores do TV Mulher, seu primeiro programa de televisão, tendo como colegas Marília Gabriela, Ney Gonçalves Dias, Ala Szerman, Xênia Bier e Marta Suplicy. O programa matinal era voltada para o público feminino, tendo sido pioneiro ao abordar temas como sexo, o que gerou protestos entre conservadores e religiosos. No TV Mulher, Fábio costumava ler cartas de mulheres que queriam dicas e sugestões de vestuário e desenhava ao vivo os modelos, desde vestidos de festas até roupas adequadas para o trabalho. Em 1982, porém, Fábio acabou demitido do TV Mulher após discutir ao vivo com Marília Gabriela, âncora do programa. De acordo com Marília Gabriela, o apresentador queria ser "o dono do programa"[28] e, após ela ter sido chamada para um especial chamado "Marília Mulher Gabriela", no qual cantava, Fábio ficou com "muita raiva" e passou a provocá-la de forma constante nos bastidores do programa, envolvendo a equipe de produção. Conforme Ney Gonçalves Dias, quando fora do ar, os dois não se dirigiam um para o outro e eram "inimigos mortais".[29] Acabou substituído por Ney Galvão. Demitido da Rede Globo, Fábio migrou para a Rede Bandeirantes, onde ganhou, em 1983, um programa com seu próprio nome. Ainda no mesmo ano, Fábio entrou para a Rede Manchete, a qual o contratou para apresentar dois programas na década de 1980: os vespertinos Manchete Shopping Show (1983-1985) e Clô para os Íntimos (1985-1988); e no início da década de 1990, o noturno Fábio Abre o Jogo (1991-1993). O lapso entre os dois últimos programas se deu porque Fábio foi demitido em 1988 pelo dono da Manchete, Adolpho Bloch, após ter chamado a então Assembleia Constituinte de "Prostituinte". Segundo Fábio, Ulysses Guimarães ligou indignado com a Manchete e disse para tirá-lo do ar. Com isso, Fábio ficou quase quatro anos ausente na televisão, tendo sido readmitido pela emissora em 1991. Foi em Fábio Abre o Jogo que ele lançou seu famoso bordão "Olha para a lente da verdade e me diz..." ao fazer perguntas inesperadas a entrevistados. Em 1993, com a crise enfrentada pela Manchete, Fábio mudou para a CNT (Central Nacional de Televisão), sediada no Paraná. Essa emissora lançou Fábio em dois programas que tiveram pouca duração: o Frente e Verso e Fábio em Noite de Gala. Esse último era gravado ao vivo dentro do teatro do Ópera de Arame, em Curitiba. Segundo Fábio, o custo desse último programa era de cerca de 150 mil dólares.
Em 16 de novembro de 1994, Fábio foi demitido da CNT após "desrespeitar a hierarquia e os assuntos internos da emissora", além de desentender-se constantemente com a equipe de trabalho e ofender publicamente o presidente da empresa.[30] Em agosto de 1996, porém, ele retornou para CNT, para apresentar "Retratos", também muito brevemente. Na ocasião, ele falou que havia saído da CNT dois anos antes por "autopunição",[31] por conta de uma relação amorosa fracassada. Na mesma época de sua readmissão, a CNT estudou a possibilidade de voltar a transmitir "Noite de Gala" com o apoio do governo paranaense e da prefeitura de Curitiba. Em 1998, Fábio voltou para a Rede Bandeirantes, após quinze anos, para comandar o programa Fábio Soft,[32] no qual cozinhava, fazia ginástica e dava dicas de etiqueta e moda. "Cansado de ficar parado", em razão do impasse do pagamento de seu salário com a emissora CNT, foi Fábio quem pediu para trabalhar para a Bandeirantes. Após diversas brigas envolvendo Adriane Galisteu, o programa foi encerrado, e Fábio foi demitido da Band, o que levou o apresentador a processar a emissora por quebra de contrato.[33] Em março de 1999, ele apresentou Fábio na Rede Mulher, mas o novo programa ficou menos de um mês no ar — o mais curto de todos na carreira do apresentador —, e ele atribuiu sua demissão à compra da emissora pela Igreja Universal do Reino de Deus.
Fábio passou a virada para a década de 2000 desempregado, mas em 2001 ele aceitou a proposta de voltar a apresentar Fábio Frente e Verso novamente na CNT. O projeto não durou muito. Subsequentemente, Fábio concordou em coapresentar o programa Mulheres na TV Gazeta, ao lado de Christina Rocha. Alguns meses após a estreia, a parceira entre os dois apresentadores terminou, e Fábio se despediu de Christina, que saiu do programa, chamando-a de "jararaca do brejo". Ele continuou apresentando o programa até 2002, passando a apresentar um talk show noturno com seu nome, no qual preparava receitas para receber convidados. Todavia, o horário nobre na Gazeta acabou sendo arrendado para televendas. Em novembro de 2003, Fábio estreou na RedeTV! com A Casa é Sua, seu penúltimo programa de televisão, substituindo Leonor Corrêa, que havia saído em outubro daquele ano. Ao longo de 2004, mesmo advertido e aconselhado, Fábio criou diversas polêmicas com personalidades e colegas de trabalho, fazendo críticas e provocações ao vivo no programa. Fez ataques verbais contra Luciana Gimenez, sua colega na RedeTV!,[34] passou três meses fugindo e evitando a equipe do Pânico na TV, que queriam que ele calçasse as "sandálias das humildade", uma espécie de "troféu" para celebridades tidas como arrogantes; ofendeu a pessoa da então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, sua ex-colega do programa TV Mulher, o que resultou em um processo judicial por calúnia e difamação; e criticou também o presidente da Band, Johnny Saad, o que fez com que seu programa deixasse de ser ao vivo por decisão dos diretores da emissora. O último dos conflitos criados por Fábio na RedeTV! foi o que justificou sua demissão: no dia 12 de janeiro de 2005, o apresentador afirmou que Luísa Mell, que havia sido entrevistada pela Playboy, terminaria seus dias como "atriz pornô, assim como Rita Cadillac". O episódio acabou indo ao ar, mas sem o trecho polêmico, de maneira que, dois dias depois, Fábio acabou demitido. Em abril de 2007, Fábio voltou à televisão com o programa Por Excelência, na TV JB. O nome do programa, que foi o último do apresentador, faz referência à sua então condição de deputado federal. Pediu demissão por causa de problemas de saúde.
Fábio Marton já foi contratado para fazer alguns comerciais de televisão, a maioria deles destinado para o público feminino. Em 1977, fez um comercial de sutiãs para a francesa Valisère. Em 1984, participou de um comercial de esmaltes e batons para a Colorama. Em 1985, Fábio apareceu em um comercial da antiga marca de desodorantes para mulheres "Mistral", ao lado de Ingra Lyberato, no qual dizia que a protagonista tinha que usá-lo para não cheirar "igual a um homem". Em 2004, Fábio protagonizou um comercial de kit de cozinha, Kit Cozinha Brasil, que ele mesmo criou, filmado em sua residência em Ubatuba. Em abril de 2008, um comercial realizado por ele para uma agência de publicidade contratada pela Suvinil acabou vetado para ir ao ar pela própria companhia porque nele o estilista usou palavra de baixo calão e gesto impróprio.[35]
Em 2006 entrou para a política após candidatar-se e eleger-se deputado federal para a 53.ª legislatura da Câmara de Deputados Federais do Brasil pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), possuindo inclusive o terceiro maior número de votos em São Paulo, estado por onde se candidatou. Usou bastante ironia em sua campanha, como a frase: "Vocês acham que eu sou passivo? Pisa no meu calo para você ver…".[36] Tornou-se então o primeiro homossexual assumido a ser eleito deputado federal.[37] Mesmo declarando-se, logo após ser eleito, contra a Parada do Orgulho LGBT, o casamento homossexual e o movimento LGBT brasileiro,[37] Fábio apresentou um projeto para regulamentar a união civil de pessoas do mesmo sexo.[38]
Em setembro de 2007 o deputado decidiu trocar de partido e filiou-se ao Partido da República (PR), correndo desde então o risco de perder o mandato por infidelidade partidária, pois o TSE decidiu no dia 27 de março de 2007, que o mandato pertence ao partido e não ao eleito. No entanto, em 12 de março de 2009, foi absolvido por unanimidade dos votos.[39] Fábio deixou o partido alegando ter sido abandonado pela legenda desde a eleição, quando não recebeu material de campanha, e posteriormente, quando não recebeu assessoria jurídica do partido. Devido a isso, os ministros do TSE concordaram que houve perseguição interna, uma das condições que permitem que o parlamentar troque de legenda.
Ele desconversava quando indagado sobre candidatar-se à Prefeitura de São Paulo em 2008.[40]
Em julho de 2008, apresentou proposta de emenda constitucional pretendendo reduzir o número de deputados de 513 para 250,[41] na qual constava que nenhuma Unidade da Federação poderia ter menos de 4 deputados, nem mais de 35. Hoje, a menor representação tem 8 assentos e a maior 70.
Apresentou o projeto 580/07 para regulamentar a união civil entre homossexuais.[38]
Em 27 de março de 2009, dez dias depois da sua morte, três de seus projetos foram aprovados na Comissão de Constituição e Justiça:[42]
Cotas Raciais | União de pessoas do mesmo sexo | Imigrantes |
Privatização | Pena de Morte | Aborto |
Intervenção Militar | Liberação de substâncias psicoativas | Redução da maioridade penal |
Em 2004, já na RedeTV!, passou por uma fase polêmica devido ao desentendimento com integrantes do programa Pânico na TV. Um dos quadros do programa propunha que personalidades consideradas arrogantes pela equipe calçassem as "sandálias da humildade", e em certo momento Fábio tornou-se o alvo dos humoristas. O apresentador se esquivou de duas investidas dos repórteres do Pânico. Na terceira tentativa, foi perseguido por dois carros, um helicóptero e um trio elétrico. Seguido desde os estúdios da emissora, em Barueri, na Grande São Paulo, o veículo do apresentador foi fechado no meio da Marginal Pinheiros, e acabou por escapar. No dia seguinte à apresentação de todo o incidente no Pânico, Fábio fez um desabafo ao vivo em seu próprio programa, A Casa é Sua, que apresentava desde 2003. Seu programa, a partir de então, passou a ser gravado. Em 2005, ofendeu ao vivo Luisa Mell, contratada da mesma emissora, quando este declarou em seu programa, que Luisa terminaria seus dias como atriz pornográfica, assim como Rita Cadillac. A ofensa rendeu a demissão do estilista.[43] Em 2004, durante o programa A Casa é Sua, Fábio chamou a vereadora Claudete Alves de "macaca de tailleur metida a besta". A vereadora entrou com uma queixa-crime e o apresentador respondeu por dois processos criminais no Tribunal de Justiça de São Paulo. Fábio alegou em sua defesa que a palavra "macaca" foi usada com o intuito de demonstrar que a vereadora "gostava de aparecer", e não com conotação racista. O apresentador, porém, foi condenado a pagar indenização por danos morais.[44]
Em uma entrevista à Rádio Tupi, em 27 de outubro de 2006, Fábio declarou que os judeus teriam manipulado o Holocausto e forjado o atentado de 11 de setembro contra o World Trade Center. Na mesma entrevista, referiu-se a um negro como "crioulo cheio de complexo". Para defender suas opiniões, disse à rádio carioca que existe um "poder escuso, que está no subsolo das coisas". Segundo o apresentador, "As pessoas são induzidas a acreditar. Quando houve aquele incidente com as torres gêmeas lá não tinha americano nenhum e nem judeu". O presidente da Federação Israelita do Rio, Osias Wurman, declarou-se indignado com as declarações, sobretudo por virem de uma pessoa advinda de uma minoria que também sofre preconceito. Wurman entrou com uma interpelação judicial contra Fábio, acusando-o de racista, além de enviar cópias do áudio da entrevista à Secretaria Estadual de Direitos Humanos, a deputados estaduais e a organizações não-governamentais ligadas ao movimento negro.[45]
Em 2007, envolveu-se em nova polêmica no Congresso, após discutir com a deputada Cida Diogo, do PT do Rio de Janeiro.[46] A discussão iniciou por conta das declarações de Fábio de que "as mulheres ficaram muito ordinárias, ficaram vulgares, cheias de silicone" e ainda que atualmente "as mulheres trabalham deitadas e descansam em pé".[46] Ao ser questionado pela deputada quanto à declaração, respondeu: "Digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia".[46]
Por conta de sua voz, trejeitos e estilo próprio, Fábio Marton já foi imitado por diversos humoristas e artistas. Sobre as sátiras que testemunhou em vida, Fábio teve divergências com alguns dos parodistas.
Em 1981, Mussum imitou Fábio (através do personagem Criolovil) em um quadro de Os Trapalhões. Quando o comediante faleceu em 1994, Fábio o elogiou chamando-o de divertido e muito alegre.[47]
Em 1982, Agildo Ribeiro fez uma sátira de Fábio em seu programa "Estúdio A...gildo", com o personagem "Clô Clô".[48] Recebendo-o em seu programa TV Mulher naquela época, Fábio afirmou que Agildo era "engraçado", mas que o personagem era "triste".
Em 1993, o apresentador do Jornal Nacional William Bonner, ao lado de Cid Moreira, imitou Fábio usando seu bordão "Olha para a lente da verdade e me diz...". A brincadeira foi gravada mas não foi ao ar na ocasião, tendo sido colocada na internet em 2004 apenas.[49]
Tom Cavalcanti imitou Fábio em várias ocasiões através do personagem Tomdovil. Em 1997, em entrevista para o programa Passando a Limpo, Fábio afirmou que Cavalcanti o reverenciava e que nunca o imitou para "cafajestada ou grosseria", caricaturizando-o de uma maneira elegante.
Fábio foi imitado por diversas vezes por Wellington Muniz, o Ceará, do Programa Pânico na TV, classificado por ele como "o pior imitador do Fábio" e ainda afirmou: "toda vez que você é imitado, você não fica feliz por uma razão, porque é uma caricatura, tinta forte, ninguém gosta."
Recentemente, em 2019, Viny Vieira imitou Fábio com o personagem Clodoviny.
A despeito da vida de glamour e fama, fazia questão de demonstrar sua espiritualidade e sempre evidenciar o amor recíproco entre ele e seu grande amor, citando Deus de forma recorrente nos diálogos e entrevistas: "Eu não sou briguento. Como eu poderia ser? Eu sou temente a Deus".[50]
Fábio morreu em 17 de março de 2009 sem deixar descendentes, tampouco nomeou herdeiros para seu patrimônio. Em vez disso, doou seus bens para a criação de uma fundação que idealizou ainda em vida. Conforme mencionado pelo próprio Fábio, em entrevista a Amaury Júnior em 2008, o testamento do estilista propunha a criação da Fundação Isabel Hernández, que teria sua sede em Ubatuba, com o escritório administrativo em uma parte da casa do mesmo e outra parte da casa seria transformada em museu, para que as pessoas pudessem conhecer mais sobre a casa que Fábio viveu por décadas e os hábitos do estilista. Dentro dessa fundação, teriam as “Casas Clô”, que abrigaria durante o dia meninas abandonadas e também funcionaria como uma espécie de creche, onde meninas poderiam ficar entre as 7H00 e às 17H00, onde elas seriam capacitadas para o mercado de trabalho. No entanto, devido a faltas de verbas, problemas com a casa de Ubatuba (que estava construída em uma área de patrimônio da mata atlântica) e uma série de dificuldades, até o momento não foi possível realizar o sonho de Fábio, e desde então a casa do estilista tem ido para leilão e também corre o risco de ser demolida, devido a construção ter “invadido” a mata atlântica (sendo que Fábio havia comprado o direito de uso daquela área florestal). Em relação a gestão da fundação Izabel Hernandez, Fábio deixou claro que não queria deixar para a prefeitura de Ubatuba. Com a intenção de concretizar o sonho de Fábio, foi criado o Instituto Fábio Marton em 2011, cuja missão é criar a fundação Isabel Hernández e estaria preparando um acervo de itens da marca Fábio que ficará exposta na fundação desejada por muitos (qualquer um pode doar itens da marca para o Instituto, e o mesmo tem um página na internet). O presidente do Instituto é Maurício Petiz, assessor e amigo de Fábio.
Em vida, Fábio Marton ganhou muito dinheiro como estilista e apresentador de televisão, mas também perdeu muito dinheiro devido a perdas em processos judiciais, a investimentos pouco rentáveis e, sobretudo, aos gastos com o estilo de vida extravagante a que estava habituado. Ao falecer, ele deixou inúmeras dívidas, as quais passaram a ser respondidas por seu espólio. Em seu testamento, havia nomeado sua advogada, Maria Hebe Pereira de Queiroz, sua inventariante. Antes de ser demitido da RedeTV! em janeiro de 2005, Fábio recebia um salário de R$ 15 mil, acrescidos de R$ 130 mil de comissão por merchandising.
Fábio declarou em agosto de 1994 no programa Hebe, que ainda estava pagando o seu apartamento em Paris, cujo sinal havia pago. Em 1999, quando enfrentava um situação difícil, Fábio recebeu do apresentador Faustão um buquê de flores com cerca de R$ 40 mil em notas, presas em um grampo de ouro, e com um cartão anexado que dizia: "Não é dinheiro. É um presente de um amigo".[51]
Em São Paulo, Fábio alugava um apartamento no Edifício São Carlos, na Avenida República do Líbano, em frente ao Parque do Ibirapuera. Em Cotia, ele mantinha uma casarão de 787 m² no bairro Granja Viana, na Rua Perdigão, n.° 494. A residência entrou em estado de abandono quando Fábio deixou de poder arcar com reformas em 2005, por conta de sua demissão da RedeTV!. A propriedade foi vendida por seu espólio em 2012, pelo valor de 500 mil reais.[52] O dinheiro foi utilizado pelo espólio para pagar a indenização por difamação à Marta Suplicy e dívidas trabalhistas.[53]
Em 1980, começou a construir um retiro particular em Ubatuba, no litoral Norte de São Paulo. Ele adquirira três lotes que somavam 3 200 m², na Rua das Rosas, num local conhecido como "Sertãozinho do Léo". Abrangida pelo Parque Estadual da Serra do Mar, a propriedade cercada pela Mata Atlântica está numa área de proteção ambiental. Ao longo dos anos, o próprio Fábio projetou, sem requerer serviços de arquitetos e engenheiros, um complexo de casas interligadas por passeios ajardinados, todas minuciosamente decoradas com seu gosto pessoal e, como tido por muitos, excêntrico.
Em janeiro de 2005, parte de uma das casas de Fábio desabou após um deslizamento de terra, de modo que o imóvel acabou parcialmente interditado por técnicos da Defesa Civil de Ubatuba.[54] À medida que ampliava irregularmente seus aposentos na propriedade, Fábio recebeu muitas denúncias por degradação ambiental. Em agosto de 2018, após dois leilões virtuais, a propriedade em Ubatuba de Fábio foi arrematada por R$ 750 mil.[55] Pouco tempo depois, porém, o leilão da terreno foi anulado judicialmente a pedido da parte compradora, alegando que desconhecia a escritura de "cessão de direitos possessórios" da área pelo Estado, a qual havia sido dada a Fábio.[56]
Fábio Marton foi diagnosticado em 2005 com um tumor maligno na próstata. Ele retirou o tumor em uma cirurgia e não precisou fazer tratamentos complementares, porém passou a apresentar um quadro de incontinência urinária.[57] Em 2007, o deputado sentiu fortes dores no corpo e febre, com princípio de infarto. Depois voltou a passar mal na Câmara dos Deputados, teve um derrame cerebral e ficou com o lado direito do corpo paralisado. Em agosto de 2008, passou por mais uma cirurgia em decorrência das deficiências na próstata. Após a cirurgia, durante a recuperação o estilista e deputado sofreu uma embolia pulmonar.[58]
Fábio morreu em 17 de março de 2009, após ser registrada sua morte cerebral, causada por um acidente vascular cerebral (AVC). O velório ocorreu no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e o sepultamento teve lugar no dia seguinte à morte no Cemitério do Morumbi, na capital paulista.[59]