Recentemente, a empresa de consultoria Gartner revelou as 10 principais tendências tecnológicas estratégicas para 2017. Entre conceitos como inteligência artificial e sistemas conversacionais, uma tecnologia ainda pouco conhecida, e que pode transformar os negócios do futuro, é o Blockchain (ou registros distribuídos).

Para entender o que é um Blockchain, primeiro é preciso compreender o que é Bitcoin. Esse dinheiro virtual que há tempos chama a atenção do mundo inteiro é uma moeda criptografada e descentralizada, cujo valor se mede por transações diretas e livres de intermediários.

Enquanto o valor de 1 real (isto é, o que você pode comprar com R$ 1) é determinado pelo governo do Brasil, e o valor de 1 dólar (o que você pode comprar com US$ 1) é determinado pelo governo dos EUA, o valor de 1 Bitcoin é determinado por um algoritmo de código aberto e autorregulável.

Comprar um ativo pela internet, pelo caminho tradicional, requer que diversas empresas (interessadas em lucro) se envolvam na transação para garantir que o seu dinheiro será transferido de forma segura até a conta da loja ou empresa da qual você é cliente. Com o Bitcoin, é possível fazer compras sem intermediários, tornando o processo mais rápido, seguro e barato.

O segredo para essa eficiência toda é o Blockchain. Essa tecnologia nada mais é do que uma espécie de livro de registros que contabiliza cada uma das transações feitas em todo o mundo com moedas virtuais. É ele, principalmente, o que garante que a sua transação é segura e à prova de hackers – mais do que transações comuns.

Funciona da seguinte maneira (grosso modo): os mineradores de Bitcoin, aqueles computadores que oferecem seu poder de processamento de cálculos para “fabricar” a moeda virtual, atuam interconectados, ao redor de todo o planeta, “anotando” cada transação feita em tempo real com o Bitcoin. Cada um de olho no que os outros estão fazendo.

A cada 10 minutos, fecha-se uma página desse livro de registros colaborativo (um bloco) contendo todas as transações feitas nos 10 minutos anteriores em qualquer lugar da internet. Esse bloco é conectado a todos os outros blocos feitos anteriormente – uma corrente de blocos, ou um “blockchain” – de modo que um só pode ser acessado se estiver devidamente ligado aos outros.

Como explica o pesquisador canadense Don Tapscott, se um criminoso quiser tapear o sistema, hackear um desses blocos e fazer compras com um dinheiro que ele não tem – isto é, pagar dois vendedores com o mesmo Bitcoin, por exemplo, criando cópias fajutas do próprio dinheiro – ele teria que hackear todos os blocos feitos anteriormente, em toda a história do comércio digital, simultaneamente em milhões de computadores ao redor do mundo.

Ou seja, é preciso quebrar a criptografia da maior rede de computadores do mundo, mantida por milhões de terminais espalhados por centenas de países. É “virtualmente” impossível. Em transações centralizadas tradicionais, como as que usamos normalmente hoje, basta hackear um dos intermediários – o seu banco, por exemplo -, para fraudar todo o processo e gerar um enorme prejuízo.

É natural que a indústria da tecnologia tenha demonstrado interesse por esse novo sistema. Quanto mais pessoas se conectam à internet, mais negócios buscam o ambiente virtual, mais monopólios se firmam no setor financeiro e mais segurança se perde. O Blockchain pode garantir a estabilidade e a segurança necessárias para o crescimento da economia digital.

O Blockchain é, portanto, a tecnologia que sustenta a “mágica” do Bitcoin, ou a de qualquer outra moeda virtual. Pouco a pouco esse sistema de autorregulação começa a ser usado por outros tipos de transações criptografadas virtuais que vão além dos Bitcoins, como redes de cartórios, por exemplo, que precisam validar a segurança de informações instantaneamente.

Um bom exemplo é o Hyperledger, um projeto colaborativo de código aberto, inciado em 2015 pela Fundação Linux, que visa compartilhar aplicações industriais para a tecnologia do Blockchain. A ideia por trás do Hyperledger é criar um sistema livre capaz de executar a transação de qualquer tipo de ativo usando padrões Blockchain, para qualquer tipo de empresa, criando um padrão a ser seguido por toda a indústria.

O Hyperledger concentra todo tipo de ideia que desenvolvedores ao redor de todo o mundo podem ter sobre como usar o Blockchain e oferece de graça para qualquer empresa interessada. Assim, toda a indústria aprende sozinha, ajudando uns aos outros, sobre como essa tecnologia pode, em tese, causar um impacto jamais visto na economia global: o fim das superpotências e do monopólio de setores.

Transações pela internet realizadas em um padrão de segurança de código aberto podem, em tese, colocar nas mãos de pequenos empreendedores as mesmas ferramentas de negócios de grandes corporações. Novas formas de empreendimento podem surgir, com pessoas comuns administrando ativos e valores pela internet de forma segura, reduzindo custos, democratizando o acesso a bens básicos.

Um bom exemplo é o La’Zooz, uma experiência baseada em Blockchain que pensa em substituir serviços de transporte particular como a Uber. A ideia do projeto é que o serviço supervisione a si mesmo, garantindo que os passageiros possam pagar seus motoristas diretamente, sem um intermediário. Trata-se de uma entidade sem donos e sem servidores centrais, livre de burocracia ou de taxas que apenas encarecem o serviço.

“Enquanto que o uso mais frequente se encontra na indústria de serviços financeiros, existem muitos possíveis aplicativos incluindo a distribuição de músicas, verificação de identidade, registro de títulos e cadeia de fornecimento”, diz a consultora Gartner sobre as possibilidades de uso do Blockchain em seu relatório sobre as tendências tecnológicas para 2017.

Ainda segundo previsões da Gartner, um negócio baseado em Blockchain valerá US$ 10 bilhões até 2022. Por enquanto, essa tecnologia ainda não saiu dos ambientes de testes, longe do alcance do grande público. Mas a confiança, a segurança e a agilidade que esse método de validação já demonstrou nas transações em Bitcoin provam que há muito potencial para o surgimento de uma nova revolução econômica em pouco tempo.