“O relato sobre minha morte é um exagero”, disse, certa vez, Mark Twain, escritor norte-americano autor de clássicos como “As Aventuras de Tom Sawyer”. Na célebre frase, ele se referia ao rumor, espalhado em 1897, de que ele havia morrido, embora tenha vivido até 1910.

É com essa passagem que Henrique Cecci, diretor de pesquisa da empresa de consultoria Gartner, gosta de comparar o aparente senso comum de que o data center mantido “em casa” pelas empresas está fadado ao esquecimento, quanto mais corporações mudam seus negócios para nuvem.

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“Vocês vão ver muitos fornecedores dizendo ‘esquece de investir em data center, o negócio é mover tudo para a nuvem, o data center já morreu etc.’. Ele não morreu. O anúncio da morte dele é muito prematuro”, disse Cecci, durante um seminário da Gartner destinado a empresários e administradores de TI, realizado em São Paulo no dia 27 de outubro.

De acordo com o analista, é verdade que nos últimos anos, com o aumento no volume de dados exigindo processamento em todo o mundo, aplicações como a “internet das coisas” e outras tecnologias disruptivas, muitas empresas têm movido suas infraestruturas para a nuvem. Mas essa tendência pode ser ilusória.

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Uma pesquisa da Gartner apresentada por Cecci durante o evento mostra uma projeção de que, de 2015 a 2020, o total do investimento em TI, no mundo todo, crescerá em torno de 2,2% ao ano. Por outro lado, os gastos com servidores mostram queda, sugerindo que a externalização dos data centers já começa a cortar os custos com data centers locais.

Isso acontece, segundo Cecci, porque o ciclo de vida dos servidores adquiridos pelas empresas é, em média, de 4 anos. “Dá para jogar fora aquele servidor que você tem ‘em casa’? Você pensa ‘acabei de comprar o servidor, vou jogar tudo fora e vou pra nuvem?’. Não faz sentido. Se eu comprei agora o servidor, eu vou mantê-lo durante algum tempo, mesmo que eu tenha opções de cloud”, diz.

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Sendo assim, por mais que a indústria esteja cada vez mais investindo em aplicações na nuvem e movendo seus data centers para infraestruturas virtuais externas, sempre haverá espaço para investimento em data centers locais. Isso acontece porque, segundo Cecci, nem todas as atividades em TI de uma empresa podem ser processadas na nuvem.

“Há várias forças atuando contra a cloud. Muita gente não pode colocar seus dados na nuvem por questões regulatórias, mandatórias etc. Há países com restrições importantes nessa área. Outro aspecto é a latência de rede: onde estão os provedores no Brasil hoje? São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza… mas o Brasil é muito grande. Será que todo mundo vai ter tolerância a essa latência alta?”, diz Cecci.

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A latência a que o pesquisador se refere é o atraso na circulação de dados entre o servidor virtual e os terminais das empresas que precisam acessar os dados na nuvem. É muito mais rápido buscar essas informações em um data center local do que em um externo, e nem toda empresa pode esperar um milésimo de segundo a mais que seja.

Há ainda as chamadas “questões de legado”, como diz Cecci, que são as aplicações desenvolvidas muito tempo atrás e que precisariam passar por um longo e custoso processo de adaptação antes de serem transferidas para a nuvem – algo que, novamente, nem sempre é vantajoso para as empresas.

No fim das contas, o custo da migração da carga de trabalho deve ser levado em conta porque, segundo o pesquisador, “cloud não é bom para tudo”. “Data centers não vão morrer tão cedo. Eles estão ficando menores, mais densos, mais quentes, mais eficientes, mas eles continuarão sendo uma parte do conjunto computacional de toda organização.”