Lições do mundo móvel: arquitetura aberta

Renato Santino19/09/2016 21h27, atualizada em 19/09/2016 21h50

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Nos últimos anos, os smartphones se tornaram onipresentes em nossas vidas – ainda que, no Brasil, ainda tenham uma boa parcela de mercado a conquistar, já que 30% dos usuários ainda têm celulares comuns, ou feature phones. No final do ano passado, segundo o último levantamento da Nilsen Ibope, o número de brasileiros usando smartphones já ultrapassava 76 milhões de pessoas. Entre os 125 milhões de brasileiros que possuem um celular, a penetração dos telefones inteligentes já é de 61%. Se a primeira onda da revolução digital se espalhou por meio dos computadores pessoais, a segunda foi ainda mais rápida e dominante – no Brasil, já existem mais smartphones do que computadores. E, para além de questões de mercado, há um componente técnico que ajudou a impulsionar essa história.

Aberto é mais eficiente

Um dos grandes desafios da computação móvel tem a ver com a eficiência energética. Se é assim hoje em dia, alguns anos atrás, com baterias muito menos eficientes, a questão chegava a ser dramática. Ainda nesses primeiros anos da era móvel, a indústria buscava soluções que pudessem significar um ponto de equilíbrio entre poder de processamento e consumo de bateria.

O caminho natural parecia ser levar a arquitetura dos processadores x86 (que havia impulsionado a computação pessoal) para os dispositivos móveis. Mas, apesar do alto poder de processamento, a arquitetura x86 era pouco eficiente do ponto de vista energético e, por ser uma arquitetura proprietária, ainda carregava altos custos de licenciamento. Um novo caminho surgiu a partir de uma arquitetura aberta, criada por uma empresa britânica, chamada ARM. A arquitetura de mesmo nome já dava suporte a chips muito mais eficientes do ponto de vista energético. Além disso, a colaboração de diferentes fabricantes (que alteraram a arquitetura, adaptando-a a suas necessidades), trouxe uma evolução rápida, que dificilmente poderia ser alcançada num modelo de arquitetura fechada. Eventualmente, a arquitetura x86 também evoluiu e melhorou seu desempenho energético. Hoje, no entanto, o mercado móvel ainda é amplamente dominado pelos processadores baseados na arquitetura ARM.

Aprendendo com o novo

A história da recente evolução da computação móvel parece ter servido para reafirmar que arquiteturas abertas podem ser mais ágeis e mais eficientes que modelos fechados. Nesse sentido, o mundo dos PCs ainda está um passo atrás, já que a tecnologia proprietária x86 é quem domina o cenário dos computadores pessoais. Surpreendentemente, uma mudança está acontecendo justamente no mundo das máquinas mais pesadas, os servidores comerciais de alto desempenho.

Ao abrir a arquitetura da sua linha de processadores Power, a IBM começou a estabelecer uma nova lógica no mercado. Essa linha de processadores foi desenhada para máquinas de alto desempenho, empregadas por empresas de diferentes tamanhos em missões críticas, em que a confiabilidade e a capacidade de lidar com imensos volumes de dados são fatores decisivos. Hoje, a arquitetura desses processadores começa a ser oferecida de forma aberta, o que significa que desenvolvedores podem chegar ao nível mais profundo de customização dos sistemas, para garantir o máximo desempenho das aplicações. O benefício indireto pode ser similar ao que se observou no mundo móvel, com uma arquitetura ágil, resultado da colaboração de uma comunidade ativa.

O processo ainda é novo e os frutos dessa nova visão ainda estão por vir. Mas, se o mundo dos servidores ganhar um pouco do dinamismo do mundo móvel, o ambiente de tecnologia tende a mudar muito rapidamente num futuro breve.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital