Em um mundo onde as exigências do consumidor crescem cada vez mais rápido, é natural que a evolução de soluções de infraestrutura aconteça no mesmo ritmo. Cada vez mais empresas precisam processar quantidades absurdas de dados da maneira mais instantânea possível para se manterem competitivas.
Nesse cenário, é também natural que gigantes da tecnologia deem as mãos para superar obstáculos juntas. Uma alternativa que a indústria encontrou foram os ambientes de desenvolvimento na nuvem e de maneira colaborativa. É o que oferece, por exemplo, o Power Systems da IBM.
Em entrevista ao Olhar Digital, o gerente de produtos da IBM, Antonio Carlos Navarro, explica como as soluções abertas estão acelerando o desenvolvimento de novas tecnologias que afetam não apenas empresas, mas também, mesmo que indiretamente, a experiência do consumidor final.
OLHAR DIGITAL: As plataformas abertas estão revolucionando a maneira de TI pensar. Quais são os principais efeitos deste novo cenário no Brasil e no mundo?
Antonio Carlos Navarro: Os projetos com desenvolvimento colaborativo estão mudando a maneira do mundo pensar. E isto traz desdobramentos em todos os setores de nossa vida pessoal e empresarial. TI não fica fora disto. O desenvolvimento colaborativo traz inovações e maturidade de produtos de forma muito mais rápida do que o obtido por uma única empresa com desenvolvimento próprio.
Esta velocidade faz também com que muitas destas inovações sejam altamente disruptivas em relação aos modelos tradicionais, mudando radicalmente a maneira de TI pensar e operar. Agora, este desenvolvimento colaborativo em larga escala requer padrões de trabalho unificados, para que tudo se adapte perfeitamente. E é aí que os padrões e plataformas abertas se encaixam, como por exemplo o OpenStack.
OD: De que forma as áreas de negócios, consideradas o “coração” das empresas, podem tirar o melhor proveito das possibilidades oferecidas por uma plataforma aberta?
Novamente, quero lidar com este assunto de maneira mais ampla, falando em como as empresas podem tirar proveito do desenvolvimento colaborativo. A velocidade com que surgem novas aplicações, e como elas adquirem maturidade para uso empresarial, aumentou muito com o avanço da conectividade, facilidade em geração e disseminação de conhecimento, e com o crescimento na adoção do desenvolvimento colaborativo.
Muitas das associações colaborativas existentes contam com a participação de grandes players da indústria de TI, que colaboram ativamente no desenvolvimento e amadurecimento destas soluções. Isso enriquece ainda mais a gama de possibilidades e novas tecnologias, além de reduzir o tempo e o custo de desenvolvimento. Claramente estas novas soluções visam atender os negócios das empresas, tornando mais rápido e simples obter-se informações coerentes, agilizando processos e comunicação com fornecedores e mercado, tornando as empresas mais ágeis e permitindo atender de forma mais efetiva aos anseios de seus clientes.
OD: Os desenvolvedores têm explorado ao máximo todas as possibilidades do Power ou eles ainda precisam ser educados para compreender adequadamente esta nova era?
A IBM investiu inicialmente no Linux para suas plataformas de hardware nos anos 90. O Linux vinha como uma opção para consolidação de infraestrutura e pequenas aplicações web, que eram o foco do Linux na época. No decorrer dos anos, o Linux amadureceu e se fortaleceu como um sistema operacional de uso amplo. Com a facilidade de ser executado na maioria das plataformas de hardware disponíveis, pode se tornar o sistema operacional que permite em maior grau a unificação consistente de aplicações e skill.
A IBM acompanhou e colaborou ativamente com este amadurecimento do Linux. No estágio atual, onde este sistema operacional está maduro o suficiente para uso empresarial e de missão crítica, a IBM também evoluiu seu hardware. Hoje temos servidores projetados e otimizados para tirar o máximo proveito de aplicações em Linux. Agora também o uso amplo desta tecnologia requer amadurecimento e disseminação de conhecimento, e é aí que se encaixa o ecossistema sendo criado pela comunidade para desenvolvimento colaborativo OpenPower. Uma comunidade vibrante altamente veloz e inovadora ao redor da tecnologia do chip Power.
Em paralelo ao trabalho do OpenPower Foundation, a IBM também atua no fortalecimento deste ecossistema, através de seus laboratórios, aprimorando seu hardware para melhor desempenho comparado ao x86, facilitando o porting de aplicações, trazendo aplicações críticas de grande penetração no mercado, como Hortonworks, SAP HANA, e outras; suporte a tecnologias abertas em destaque como Hadoop, Spark, Blockchain, habilitando diversas distribuições do Linux como Ubuntu, Debian, CentOS que se juntam ao anteriormente já suportados Red Hat, Suse, Fedora e OpenSUSE, e muitas outras iniciativas.
O grande objetivo é que em cinco anos, Power se torne uma alternativa de plataforma padrão quando se pensar em desenvolver ou adotar-se uma nova aplicação em Linux. E os incentivos para isto não faltam: de 2 a 3 vezes maior performance por core do que o x86 oferece e a preços similares, maior confiabilidade da infraestrutura versus x86, inovações exclusivas como CAPI e NVLink, e um vibrante ecossistema de inovação colaborativa.
OD: A computação evoluiu muito nos últimos anos e passou a ‘dominar’ a enorme quantidade de dados disponíveis. Mas como anda o elemento humano neste processo? Na opinião de vocês, os decisores de tecnologia estão conseguindo interpretar e aproveitar todos esses insights da melhor forma?
Não tenho dúvidas disto. O atual momento, com mudanças disruptivas frequentes, requer profissionais que dediquem parte de seu tempo a conhecer e entender novas tecnologias, e empresas e profissionais têm investido nisto. As decisões por feeling já não têm mais lugar neste cenário. Ferramentas analíticas já são uma realidade nas empresas e encontramos no mercado profissionais altamente preparados para operar e fazer uso desta tecnologia. O próximo desafio é justamente a adaptação destas aplicações a uma era mais cognitiva. E o mercado e profissionais tem se movido rapidamente para isto.
A IBM também contribui muito para a evolução da tecnologia e das pessoas que a utilizam. O amplo investimento da IBM em inovação não se traduz somente nas invenções tecnológicas que a empresa tem lançado no mercado, mas, principalmente, na preocupação da IBM em ser o principal parceiro de seus clientes para ajudá-los a conhecer todo o potencial das novas tecnologias, se reinventarem e a inovarem também em seus próprios negócios.
A escolha de um parceiro de tecnologia, e não um fornecedor, é um elemento chave para os clientes acompanharem esta avalanche de novidades. Desta forma, eles poderão contar com um atendimento consultivo que lhes passe uma visão clara de sua trilha para o futuro, fugindo de modismos e do lugar comum.
OD: O Power também alimenta os supercomputadores. Quais são as principais contribuições da plataforma para tornar essas supermáquinas ainda melhores e mais inteligentes?
A evolução do OpenPower Foundation abriu portas para a IBM voltar ao mercado de HPC e supercomputadores. Vocês podem verificar em várias matérias postadas que o Summit e o Coral, baseados nos novos processadores Power9 da IBM, possuem grande potencial para atingirem liderança no Top 500, quando forem oficialmente lançados em 2017.
Vejam que, recentemente, a Nvidia e IBM anunciaram os primeiros servidores de mercados com as GPUs Tesla P100 integradas. Um servidor de apenas 2Us com capacidade para até 4 GPUS P100. Também apresentaram ao mundo o Nvlink, um desenvolvimento conjunto realizado a partir do OpenPower Foundation. O Nvlink é uma interconexão de alta largura de banda e consumo eficiente de energia que possibilita uma comunicação ultra-veloz entre a CPU e a GPU e também entre GPUs.
A tecnologia permite compartilhamento de dados em taxas 5 a 12 vezes mais rápidas do que a interconexão PCI e Gen3 tradicional, resultando em um aumento drástico de velocidade na performance de aplicativos e criando uma nova classe de servidores de alta densidade flexíveis para a computação acelerada. O NVLink será, de fato, uma das tecnologias mais essenciais do supercomputador Summit.
O Summit irá abrir uma porta para novas formas de simular e explorar sistemas complexos diminuindo o tempo de processamento e trabalhando com modelos computacionais mais complexos do que os atualmente possíveis. Mas a necessidade de computação de alta performance deixou de ser um nicho para algumas soluções e pesquisas.
À medida que o Big Data vai se consolidando como uma riqueza a ser explorada, o HPDA, ou High Performance Data Analysis, passa a ser uma realidade para boa parte dos negócios. E, sem dúvidas, teremos aí uma onda de forte avanço de soluções baseadas em aceleradores para análise de dados. Ainda temos toda a contribuição da IBM em sistemas cognitivos Watson, ou se preferir, inteligência artificial. Este é um tema fascinante e poderia falar por horas a respeito.
OD: Essa aposta da IBM de abrir seu sistema, inclusive permitindo (a exemplo do que a ARM faz no mundo mobile) que outras empresas trabalhem a partir de sua arquitetura, é uma postura, no mínimo, ousada. Por que vocês foram nessa direção?
Existem semelhanças e diferenças entre a estratégia inicial do ARM e o do OpenPower Foundation. Ambos se baseiam em criar-se um ecossistema ao redor da tecnologia de processadores RISC. Mas enquanto o ARM desenvolveu-se ao redor do mercado de mobile, o OpenPower busca este desenvolvimento no mercado de servers.
É claro que o ARM começa a ser analisado como uma alternativa aos processadores x86 também no mercado de pequenos computadores, e a IBM já flertou no mercado de consumo com o chip cell. Mas neste momento estão estabelecidos em mercados potenciais diferentes. Um dos objetivos da IBM para formação do OpenPower é, sem dúvidas, a fortificação de um ecossistema ao redor da tecnologia Power, através de desenvolvimento colaborativo.
O mais forte, no entanto, e que interessa a todos os membros da fundação, é a velocidade do desenvolvimento colaborativo em busca da eficiência dos futuros datacenters. O próprio Google, um dos integrantes fundadores do OpenPower, buscava alternativas mais eficientes para seu datacenter e viu na infraestrutura que foi a base do Watson no programa “Jeopardy!” a materialização disto.
Hoje são mais de 200 integrantes com participações em todos os layers de desenvolvimento, do core do processador, passando por todo o desenvolvimento de hardware que compõe o servidor, firmware, software e apoio à ISVs e formação de profissionais. São participantes com destaque a Google, Rackspace, Samsung, Melanox, Nvidia, Supermicro e vários outros.
No Brasil temos a Unicamp como o primeiro membro da fundação, inclusive com uma MiniCloud baseada em Linux em Power, disponível para acesso gratuito por pesquisadores, ISVs, estudantes no mundo todo. O fato é que o OpenPower, em apenas dois anos de existência, se tornou uma das maiores associações para desenvolvimento colaborativo de tecnologia. E com ativa interação e troca de conhecimento com outras como o projeto OpenStack, OpenCompute, Linux Foundation…
OD: Do ponto de vista dos responsáveis pela infraestrutura, o que muda? É mais fácil integrar soluções de plataforma aberta à infraestrutura legada?
De forma bem simplista, diria que a velocidade das mudanças e também a cada vez maior exigência das áreas de negócios por novas aplicações, o TI não tem tempo para gerenciar ilhas e adquirir skill para múltiplas tecnologias. Assim, uma arquitetura Open, com um sistema operacional universal como o Linux – roda em qualquer dispositivo, de um celular a um mainframe – facilitam muito o trabalho de administração, de integração e também de implementação de novos negócios.
Cloud é outro fator importante nesta direção. Hoje, passada toda aquela teoria romântica de que o Cloud substituiria massivamente os datacenters, o que se verifica é que a maioria das empresas trabalharão em um formato de Cloud Híbrida, com algumas aplicações críticas on premises e outras dentro de uma Cloud pública. A adoção de padrões abertos traz grande facilidade na integração entre estes dois mundos. Existe um forte desenvolvimento de APIs para estas conexões e buscando universalidade, baseadas em padrões abertos.
OD: Como a IBM se coloca perante seus principais competidores com essa estratégia?
A IBM se coloca como uma empresa com alto investimento no desenvolvimento de tecnologia que visa contribuir para que seus clientes tenham sucesso em suas atividades. É uma das empresas que mais geram patentes de novas tecnologias no mundo. Visando manter a excelência no atendimento customizado de cada cliente, a IBM vem expandindo seus investimentos no conhecimento por indústria, se consolidando como a única empresa no mundo capaz de fornecer soluções de TI completas para cada indústria.
É um direcionamento de toda a empresa investir em todas as suas tecnologias para o suporte e conectividade a padrões abertos. Os resultados de novas tecnologias advindas do esforço colaborativo do OpenPower Foundation, diferenciais claros de performance e eficiência em relação às ofertas concorrentes, redução dos custos da tecnologia e principalmente a satisfação e sucesso dos clientes que estão nos acompanhando nesta jornada, mostram que este é realmente o caminho.