Cientistas registram movimento de ondas de areia gigantes em Marte

Imagens capturadas pelo Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa, identificaram que algumas megaondulações se arrastam muito lentamente; fenômeno também acontece na Terra, mas em escala muito menor
Vinicius Szafran27/07/2020 18h56, atualizada em 27/07/2020 20h12

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Pesquisadores encontraram evidências de que ondas gigantes de areia, geralmente chamadas de “megaondulações”, movem-se lentamente pela superfície de Marte. Foi o primeiro avistamento desse tipo de movimento no planeta, dissipando a crença de longa data de que essas ondas não se moviam desde sua formação, centenas de milhares de anos atrás, e evidenciando ventos mais fortes do que o esperado.

Essas megaondulações não são exclusivas de Marte; elas também podem ser encontradas em desertos na Terra, geralmente entre dunas. São ondas na areia que ondulam a cada dez centímetros ou mais em muitas dunas. O mesmo ocorre no Planeta Vermelho, mas lá as ondulações são muito maiores – com dezenas de metros de distância entre si.

No entanto, diferentemente das dunas, as megaondulações são compostas por dois tamanhos de grãos de areia. As cristas das megaondulações são cobertas por grãos mais grossos e pesados, características que dificultam a movimentação pelo vento, segundo Simone Silvestro, cientista planetário do Instituto Nacional de Astrofísica da Itália, em Nápoles.

Os rovers e orbitadores de Marte avistaram repetidamente as megaondulações na superfície do planeta, desde o início dos anos 2000. Entretanto, eles não pareciam mudar de maneira mensurável, o que levou os cientistas a acreditar que eram relíquias do passado marciano, quando sua atmosfera mais espessa permitia ventos mais fortes. Agora, usando imagens capturadas pelo Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa, Silvestro e seus colegas mostraram que algumas megaondulações se arrastam – muito lentamente.

Reprodução

Megaondulações também acontecem na Terra, mas em menor escala. Imagem: Reprodução


Os cientistas se concentraram em dois locais próximos ao equador de Marte. Eles analisaram cerca de 1.100 megaondulações na cratera McLaughlin e 300 na região de Nili Fossae. Comparando imagens de lapso temporal de cada local, separados por 7,6 e 9,4 anos, respectivamente, eles procuraram por sinais de movimento. A equipe percebeu que as megaondulações se moviam cerca de dez centímetros por ano, quase a mesma velocidade que as ondas nas dunas do deserto de Lut, no Irã. A pesquisa foi publicada no Journal of Geophysical Research: Planets.

Fluência pelo impacto

Silvestro e seus colegas sugerem que os ventos marcianos podem estar acelerando pequenos grãos de areia. Quando os grãos pequenos começam a rolar e saltar, eles podem bater em grãos maiores e empurrá-los. Esse processo, conhecido como fluência pelo impacto, já foi observado na Terra.

A equipe percebeu que as dunas próximas se moviam na mesma direção das megaondulações, sugerindo que é a areia dessas dunas que empurra as megaondulações. Modelos atmosféricos de Marte sugerem que ventos capazes de mover areia são raros. Essa descoberta de migração das megaindulações provavelmente forçará a revisão desses modelos.

Agora, Silvestro planeja expandir sua busca pela movimentação das dunas marcianas por todo o planeta. Ele suspeita que as megaondulações mais rápidas estejam próximas às dunas de maior movimento em Marte. Megaondulações em movimento são sinais de ventos fortes, que por sua vez podem desencadear tempestades de poeira.

Esta, por sua vez, pode cobrir painéis solares, reduzindo sua eficiência, e também pode emperrar peças mecânicas, como engrenagens. Isso pode ser um problema para os rovers e para eventuais habitações humanas, segundo os cientistas.

Via: Space

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital