Imunidade. Essa é, hoje, uma das maiores dúvidas sobre o novo coronavírus. Muitos estudos têm sido feitos em todo o mundo, mas ainda não há respostas definitivas. E por quê? Porque a doença é muito nova e ainda não houve tempo de avaliar quanto tempo dura a imunidade obtida por um indivíduo curado.
Um dos grupos que investiga o tema está na Rockefeller University, em Nova York, nos Estados Unidos. Lá, o biólogo brasileiro especialista em imunologia Julio Cesar Cetrulo Lorenzi é um dos integrantes de uma equipe que acaba de publicar uma pesquisa sobre o tema na revista Nature Medicine.
Julio é do Laboratório de Imunologia Molecular da universidade e conta que o principal objetivo do estudo era entender a resposta imune em pacientes já curados de covid-19. A resposta imune é a reação do organismo ao ataque de agentes agressores.
Sempre que o corpo humano é atacado por um microrganismo, a primeira ação de defesa vem da imunidade inata. Ou seja, diferentes elementos já existentes no corpo humano tentam evitar o adoecimento. Se eles não conseguem impedir a infecção, começa a produção de anticorpos.
Depois que responde aos ataques, o organismo produz células de memória. Assim, quando tem contato novamente com o agente, consegue combatê-lo com mais rapidez. Para cada patógeno, essa memória tem uma duração específica e, por isso, algumas vacinas protegem por toda a vida e outras são tomadas anualmente, por exemplo.
As células de memória têm uma vida média muito mais longa do que as normais. Elas têm um pico de 14 a 21 dias e depois diminuem em quantidade se o organismo não identificar mais o agente agressor. Ou seja, elas se reproduzem conforme a necessidade.
Mesmo assim, o fato de ter tido a doença e desenvolvido anticorpos não quer dizer que se estará livre para sempre de uma infecção causada por aquele microrganismo. Isso depende da duração da resposta imune àquele agente. Para a covid 19, esse mistério ainda deve demorar algum tempo para ser resolvido.
O estudo da Rockefeller University avaliou 143 indivíduos recuperados para observar se eles haviam desenvolvido anticorpos monoclonais. Neles, foi encontrada uma variação grande tanto na quantidade desses elementos quanto na qualidade deles: houve respostas muito boas, respostas não tão boas e respostas próximas de zero.
Julio lembra que ainda é cedo para conclusões, mas que os estudos indicam que talvez seja necessária uma determinada estrutura de anticorpo para encaixar na estrutura viral do novo coronavírus. Seria o mesmo que acontece com uma chave e uma fechadura, que são específicas uma para a outra.
Segundo o pesquisador, o que se espera é que o novo coronavírus não tenha mutações tão frequentes a ponto de invalidar a criação de medicamentos, por exemplo. Além disso, os estudos feitos até agora mostram que as alterações não afetam a espícula viral, que é a parte usada para se ligar às células saudáveis e infectá-las.