Na era dos smartphones de multifuncionalidades e alta tecnologia, fica difícil imaginar que alguém queira usar um celular apenas para fazer ligação. Hoje os celulares estão cada vez maiores, com telas touch e recursos avançados, mas outro celular bem menor e bem mais simples, aparece no cenário: o minicelular ou microcelular. Infelizmente, esse é um exemplo de como a mesma tecnologia que é usada para expandir nossos horizontes e oferecer um arsenal de serviços que facilitam e melhoram nossas vidas, também pode ser usada com outras intenções e consequências. De fabricação chinesa, eles até parecem um brinquedo. Esses aparelhos têm, em média, 6 centímetros de comprimento e, mesmo parecendo um chaveiro de tão pequenos, conseguem fazer ligações. Com um material bem frágil, esses dispositivos são considerados quase descartáveis. Obviamente, esse tipo de aparelho não é homologado pela Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel.

Sem o aval da Anatel, a venda é proibida no Brasil. Porém, sem nenhum impedimento, é possível achar um minicelular no mercado. A equipe do Olhar Digital foi em busca de um desses aparelhos na rua Santa Ifigênia em São Paulo, região conhecida pelas inúmeras lojas de eletrônicos. Eles não ficam expostos em vitrines como outros produtos. Muitos vendedores disseram não conhecer o telefone, mas não foi difícil encontrar. Com uma câmera escondida, gravamos a venda de um minicelular. Minúsculo, com o tamanho de uma tampa de caneta e pelo valor de 100 reais, esse aqui vem com 2 entradas para chips e oferece algumas funcionalidades.

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Na internet, também não é difícil encontrar diversos sites que vendem esse tipo de celular. São diferentes cores e modelos. Os valores variam entre 180 a 300 reais. A Anatel frequentemente faz um mapeamento dos sites, e as empresas online chegam a ser multadas pela agência.

Se tem quem vende, claro que tem quem compra. E aí é que está o grande problema. Você pode se perguntar: por que alguém quereria comprar um aparelho desses, tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão limitado – mesmo quando comparado a aparelhos simples. A resposta, infelizmente, está atrás de muros como esse. Desde 2017, os minicelulares invadiram os presídios brasileiros. O tamanho e a facilidade de passarem despercebidos transformaram esse tipo de aparelho num verdadeiro achado para muitos condenados – especialmente aqueles ligados a facções criminosas. Volta e meia, surgem notícias de visitantes que tentam entrar com esses aparelhos, das mais variadas formas possíveis: em alimentos, escondidos dentro de objetos e até no próprio corpo. Em Julho desse ano, 2019, por exemplo, uma mulher tentou entrar em um presídio no Mato Grosso com 4 aparelhos dentro de uma travessa de farofa. Nesta outra situação, os microcelulares estavam dentro de um tubo de pasta de dente.  Há também relatos de pessoas que chegam a engolir o microcelular para passar pela inspeção. 90% do material usado nesses aparelhos é plástico; eles têm poucos e minúsculos componentes de metal; por isso, é mais difícil detectá-los usando equipamentos convencionais de segurança. Eles se tornaram uma praga no sistema prisional.

Segundo a Secretaria de administração Penitenciária, só no ano passado, 2018, foram apreendidos nada menos que 2.411 minicelulares apenas nos presídios do estado de São Paulo.

O visitante que for pego com o aparelho de telefonia móvel fica suspenso por 2 anos e a reincidência chega a 5 anos. Para o preso, a punição é considerada falta grave e ele é conduzido a uma cela disciplinar, podendo perder a maioria dos benefícios. Mas, evidentemente, os membros de organizações criminosas estão dispostos a correr esses riscos.