Tido como uma das mais importantes prévias do Oscar, o Globo de Ouro promove, mais uma vez, uma festa para profissionais de cinema e TV, com uma premiação marcada pela alternância entre favoritos e azarões (com vantagem para os primeiros) na tentativa de garantir uma audiência maior (críticos e cinéfilos mais exigentes costumam torcer o nariz para esses eventos, com certa razão).
Com o crescimento do streaming, o Globo de Ouro tornou-se um atrativo ainda maior para espectadores brasileiros (e de outros lugares fora dos EUA), ainda que continue sendo uma festa de americanos para americanos, ainda que os votantes sejam todos da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood.
O streaming permite que as séries e demais produções desses novos canais chegue mais rápido ao Brasil. Isto produz uma reação interessante de pessoas fazendo bolões, comentando nas redes sociais e repercutindo cada premiado com empolgação ou decepção. O jogo move a máquina de curtidas e compartilhamentos, que por sua vez move o imenso negócio que é Hollywood. É difícil resistir a ele, mesmo quando temos a consciência de que, como o Oscar, é uma grande bobagem.
Nas duas primeiras premiações do Globo de Ouro 2020, duas surpresas: Ramy Youssef ganhou o prêmio de melhor ator em série musical ou cômica por Ramy, quando o favorito era Bill Hader por Barry; Russell Crowe venceu melhor ator em telefilme por ‘The Loudest Voice’, enquanto a maioria esperava o prêmio para Jared Harris em ‘Chernobyl’.
Mais adiante, outro azarão venceu: Stellan Skarsgard como ator coadjuvante em produção televisiva por ‘Chernobyl’ (se era para premiar alguém dessa minissérie chocha, melhor se fosse Jared Harris) quando muitos apontavam para Andrew Scott, como o padre sedutor (sem querer) de Fleabag.
Claro que a coisa não poderia ficar assim, e alguns favoritos começariam logo a surgir: Phoebe Waller Bridge pela atuação em ‘Fleabag’, série da Amazon que também foi premiada em melhor série cômica ou musical; Brian Cox pela atuação em série dramática por ‘Succession’, série que também ganhou em sua categoria; Olivia Colman por sua performance em ‘The Crown’, outra série dramática.
Nas premiações mais importantes, o Globo de Ouro mostra a mesma falta de gosto de seu primo rico, o Oscar. Com Martin Scorsese, Quentin Tarantino e Bong Joon Ho concorrendo a melhor diretor de longa-metragem, dão o prêmio para Sam Mendes por seu grandioso ‘1917’ (filme talhado para premiações: produção rica, tema histórico, pouca ou nenhuma invenção formal). O filme também ganhou o prêmio mais cobiçado da noite, o de melhor longa dramático. 1917 deve estrear no Brasil em 23 de janeiro.
Na categoria melhor ator por filme dramático, o premiado foi Joaquin Phoenix, porque os globos, como os oscars, adoram uma transformação física que desbanda para o “overacting” (super-atuação). E ‘Coringa’ é todo baseado no overacting de Phoenix. Para alguns, é seu grande trunfo. Geralmente dá certo em premiações.
Em musical e comédia, o melhor ator foi Taron Egerton, por Rocketman, cinebiografia apenas razoável de Elton John. É legal o prêmio de ator coadjuvante ter ido para Brad Pitt. Ele está muito bem em Era Uma Vez em Hollywood, e era o melhor filme a ser representado na categoria. Mas é discutível sua indicação como coadjuvante (para muitos, o protagonismo é dividido entre ele e DiCaprio), e ele concorria com pesos pesados como Al Pacino, Joe Pesci (ambos por O Irlandês), Tom Hanks e Anthony Hopkins, atores que costumam brilhar em qualquer papel.
Conservadores também foram os prêmios para as atrizes. Tanto Renée Zellweger (por Judy, melhor atriz em filme dramático), quanto Awkwafina (‘The Farewell’, melhor filme musical ou comédia) e Laura Dern (‘História de um Casamento’, melhor atriz coadjuvante), representam escolhas um tanto óbvias, ainda que por vezes merecidas, sobretudo no caso de Laura Dern, cuja atuação como a advogada de Scarlett Johansson é muito superior ao conjunto do filme de Baumbach.
Felizmente, há exceções. Além das surpresas mencionadas no início, o prêmio dado a ‘Era Uma Vez em Hollywood’, melhor filme de Tarantino em no mínimo 15 anos, foi certeiro, ainda que considerá-lo na categoria musical ou comédia não é muito apurado (essa categoria, aliás, nunca foi muito convincente). Aliás, as pessoas que reclamaram do prêmio para Tarantino por ele ser supostamente misógino, deveriam observar atentamente a alegria genuína de Margot Robbie (o motivo maior da reclamação de misoginia) quando anunciou o prêmio de roteiro para ele, e durante os agradecimentos.
Temos ainda a comemorar que o prêmio de animação não tenha sido para a enganação da Disney (O Rei Leão), caindo melhor no subestimado ‘Link Perdido’, embora quem merecesse de fato seria ‘Toy Story 4’ (por outro lado, que diferença faria?).
Por fim, uma nota. O prêmio máximo a ‘1917’ (porque drama, em Hollywood, vale mais que musical e comédia) deve aumentar o favoritismo para esse filme levar o maior Oscar de todos, o de melhor filme.
TODOS OS INDICADOS E PREMIADOS*
Melhor filme dramático
1917*
Dois Papas
O Irlandês
Coringa
História de um Casamento
Melhor filme musical ou cômico
Era uma Vez em Hollywood*
Meu Nome é Dolemite
Jojo Rabbit
Entre Facas e Segredos
Rocketman
Melhor atriz em drama
Renée Zellweger, Judy*
Cynthia Erivo, Harriet
Scarlett Johansson, História de um Casamento
Saoirse Ronan, Adoráveis Mulheres
Charlize Theron, O Escândalo
Melhor ator em drama
Joaquin Phoenix, Coringa*
Christian Bale, Ford vs Ferrari
Antonio Banderas, Dor e Glória
Adam Driver, História de um Casamento
Jonathan Pryce, Dois Papas
Melhor atriz em musical ou comédia
Awkwafina, The Farewell*
Ana de Armas, Entre Facas e Segredos
Cate Blanchett, Cadê Você, Bernadette?
Beanie Feldstein, Fora de Série
Emma Thompson, Late Night
Melhor ator em musical ou comédia
Taron Egerton, Rocketman*
Daniel Craig, Entre Facas e Segredos
Roman Griffin Davis, Jojo Rabbit
Leonardo DiCaprio, Era uma Vez em Hollywood
Eddie Murphy, Meu Nome é Dolemite
Melhor diretor
Sam Mendes, 1917*
Todd Phillips, Coringa
Bong Joon-ho, Parasita
Martin Scorsese, O Irlandês
Quentin Tarantino, Era uma Vez em Hollywood
Melhor roteiro
Quentin Tarantino, Era uma Vez em Hollywood*
Noah Baumbach, História de um Casamento
Bong Joon-ho e Han Jin-won, Parasita
Anthony McCarten, Dois Papas
Steven Zaillian, O Irlandês
Melhor ator coadjuvante
Brad Pitt, Era uma Vez em… Hollywood*
Al Pacino, O Irlandês
Joe Pesci, O Irlandês
Tom Hanks, Um Lindo Dia na Vizinhança
Anthony Hopkins, Dois Papas
Melhor atriz coadjuvante
Laura Dern, História de um Casamento*
Kathy Bates, O Caso Richard Jewell
Annette Bening, O Relatório
Jennifer Lopez, As Golpistas
Margot Robbie, O Escândalo
Melhor animação
Link Perdido*
Frozen 2
Como Treinar seu Dragão 3
Toy Story 4
O Rei Leão
Melhor filme em língua estrangeira
Parasita*
The Farewell
Dor e Glória
Retrato de uma Jovem em Chamas
Les Misérables
Melhor canção original
(I’m Gonna) Love Me Again, Rocketman*
Into the Unknown, Frozen 2
Beautiful Ghosts, Cats
Spirit, O Rei Leão
Stand Up, Harriet
Melhor trilha sonora original para filmes
Hildur Gudnadóttir, Coringa*
Daniel Pemberton, Brooklyn – Sem Pai Nem Mãe
Alexandre Desplat, Adoráveis Mulheres
Randy Newman, História de um Casamento
Thomas Newman, 1917
Melhor série dramática
Succession*
Big Little Lies
The Crown
Killing Eve
The Morning Show
Melhor série musical ou cômica
Fleabag*
O Método Kominsky
The Marvelous Mrs. Maisel
The Politician
Barry
Melhor minissérie ou filme para TV
Chernobyl*
Fosse/Verdon
The Loudest Voice
Catch-22
Inacreditável
Melhor ator em série dramática
Brian Cox, Succession*
Kit Harington, Game of Thrones
Rami Malek, Mr. Robot
Tobias Menzies, The Crown
Billy Porter, Pose
Melhor atriz em série dramática
Olivia Colman, The Crown*
Jodie Comer, Killing Eve
Nicole Kidman, Big Little Lies
Reese Witherspoon, Big Little Lies
Jennifer Aniston, The Morning Show
Melhor ator em série musical ou cômica
Ramy Youssef, Ramy*
Bill Hader, Barry
Michael Douglas, O Método Kominsky
Ben Platt, The Politician
Paul Rudd, Cara x Cara
Melhor atriz em série musical ou cômica
Phoebe Waller-Bridge, Fleabag*
Christina Applegate, Disque Amiga para Matar
Rachel Brosnahan, The Marvelous Mrs. Maisel
Kirsten Dunst, On Becoming a God in Central Florida
Natasha Lyonne, Boneca Russa
Melhor ator em minissérie ou filme para TV
Russell Crowe, The Loudest Voice*
Christopher Abbott, Catch-22
Sacha Baron Cohen, O Espião
Jared Harris, Chernobyl
Sam Rockwell, Fosse/Verdon
Melhor atriz em minissérie ou filme para TV
Michelle Williams, Fosse/Verdon*
Kaitlyn Dever, Inacreditável
Joey King, The Act
Helen Mirren, Catarina, a Grande
Merritt Wever, Inacreditável
Melhor ator coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV
Stellan Skarsgård, Chernobyl*
Andrew Scott, Fleabag
Henry Winkler, Barry
Alan Arkin, O Método Kominsky
Kieran Culkin, Succession
Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV
Patricia Arquette, The Act*
Helena Bonham Carter, The Crown
Toni Collette, Inacreditável
Meryl Streep, Big Little Lies
Emily Watson, Chernobyl
Prêmio Cecil B. De Mille
Tom Hanks*
Prêmio Carol Burnett
Ellen DeGeneres*