Muitas das habilidades e tarefas que os computadores conseguem realizar atualmente são semelhantes a processos do nosso cérebro. Ainda existe, no entanto, um grande abismo entre os processadores que movem os computadores e os neurônios da nossa mente. Uma empresa, no entanto, está tentando superar esse abismo.

Trata-se da Koniku, fundada pelo nigeriano Oshiorenoya Agabi. Após trabalhar oito anos numa empresa suíça de robótica, Agabi fez cursos de pós-graduação em física teórica, bioengenharia e pesquisas sobre como neurônios se comunicam entre si – e como seria possível fazê-los se comunicarem com chips de silício. Com cerca de quinze anos de experiência na área, Agabi fundou então a Koniku quando sentiu que estava começando a encontrar a resposta.

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Processadores biológicos

Em entrevista à Vice, Agabi resumiu a visão da Koniku da seguinte maneira: “assumimos a postura radical de que é possível computar usando neurônios reais e biológicos”. Seu principal objetivo é conseguir programar neurônios criados em laboratório para realizar tarefas específicas e, com isso, criar processadores “vivos”, capazes de aprender, e mais eficientes que os chips atuais.

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Essa eficiência, segundo Agabi, vem da maneira como os neurônios funcionam: as células de nosso cérebro, ao longo do tempo, conseguem determinar as conexões mais eficientes entre neurônios para realizar determinadas tarefas. Graças a essa característica, um cérebro humano exige cerca de 10 watts de potência para funcionar. O Tianhe-2, o supercomputador mais potente já construído, por sua vez, exige 24 megawatts – 2,4 milhões de vezes mais.

Além da eficiência energética, os chips da Koniku também terão outras vantagens em relação aos atuais processadores. Um dos primeiros clientes da Koniku é uma empresa de drones, que acredita que os processadores com neurônios serão melhores em detectar vazamentos de metano em refinarias de petróleo.

A Boeing também já assinou uma carta de intenção para usar a tecnologia em drones para detectar materiais químicos, como parte de uma primeira rodada de busca por investimentos. Nessa primeira rodada, Agabi espera angariar um total de US$ 6,3 milhões. Os primeiros processadores da Koniku já começarão a ser enviados nos próximos meses.

Existe vida após o silício

A empresa completou há pouco tempo uma temporada na incubadora de empresas voltadas para biotecnologia IndieBio. Falando à incubadora, Agabi mencionou também outro aspecto importante de seu trabalho com neurônios: o possível esgotamento do modelo de produção de chips baseado em silício.

“Se nós pretendemos algum dia chegar ao ponto de realizar computações significativas, nós precisamos nos distanciar do paradigma do silício”, disse. “Se tivermos 60% de sucesso como empresa, mudaremos a computação como a conhecemos atualmente. (…) Faremos com a biotecnologia algo similar ao que o silício fez na era da informação”.

A preocupação de Agabi faz sentido. A Lei de Moore, que estima os avanços no poder de computação dos dispositivos, parece estar chegando ao seu limite. A IBM anunciou no ano passado o desenvolvimento de um chip de 7 nanômetros, e como um átomo de silício mede 0,2 nanômetros, o menor transistor possível que se poderia construir com esse material não está muito distante.

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Por esse motivo,Agabi não acredita apenas que a tecnologia de sua empresa é inevitável, mas também que ela está muito próxima. Para ele, nos próximos 2 a 5 anos, a empresa já deverá ter criado “um dispositivo capaz de pensar no sentido biológico, como um ser humano”.

Apocalipse robótico

O pesquisador nigeriano não se assusta com a possibilidade de que inteligências artificiais maléficas escravizem a humanidade. Ele lembra que, além dos seres humanos, muitos outros animais também possuem neurônios – e nem por isso representam uma ameaça considerável à nossa espécie. Para ele, os neurônios, assim como o carbono ou o silício, são apenas um material.

Por conta de sua estrutura, os processadores da Koniku são capazes do que é conhecido como “machine learning”, ou “aprendizado de máquina” – a capacidade de reconhecer padrões e reter essa informação. E Agabi acredita que, por usarem neurônios, eles serão muito melhores nisso do que os tradicionais chips baseados em silício. 

Ainda que a possibilidade de se usar neurônios para criar processadores nos pareça estranha, Agabi acredita que, em breve, ela será natural. “Hoje, ainda não é assim [natural] porque ninguém demonstrou isso ainda. Mas estou confiante de que em dois anos, quando nós demonstrarmos será algo do tipo ‘ah, isso é óbvio'”.