A primeira transmissão em 5G da BBC mostrou um problema da tecnologia

Planos com franquias limitadas como conhecemos hoje não estão prontos para o nível de consumo habilitado pelo 5G
Renato Santino31/05/2019 01h16

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As operadoras de telefonia móvel do Reino Unido inauguraram nesta quinta-feira, 30, as primeiras redes de internet 5G da região, e os resultados estão totalmente dentro do esperado: jornalistas que fizeram os primeiros testes relatam ter conseguido alcançar velocidades de até 980 Mbps, e o mais impressionante é que a velocidade foi atingida dentro de um trem em movimento, quando o sinal fica mais instável.

O que se tem visto até o momento com o 5G é o cumprimento de todas as promessas no que tange a velocidade de conexão, com velocidades absurdas e que superam de longe o que a maioria das pessoas tem de banda larga fixa em suas residências. Considerando que a média global de velocidade de internet fixa é de 58,66 Mbps (segundo dados do SpeedTest), alcançar uma velocidade na casa de 1 Gbps é algo realmente impressionante.

No entanto, um vídeo coloca em xeque a capacidade das redes 5G serem a revolução que a indústria de tecnologia espera que elas sejam. Trata-se de uma transmissão da BBC, a principal rede de televisão britânica, fazendo uma transmissão ao vivo por meio de uma rede móvel de quinta geração. A qualidade do vídeo é impecável, mas a informação revelada pelo jornalista incomoda: durante os preparativos para a entrada ao vivo, tudo parou de funcionar. Após um pouco de investigação, o motivo ficou evidente: a equipe havia estourado a franquia em apenas um dia de experimentos com a rede 5G.

 

Isso não foi um problema só com a BBC. O jornalista Tom Warren, do site The Verge, reportou que, ao final de um dia de testes, ele havia consumido mais de 20 GB de dados, o que é suficiente para aniquilar a franquia de dados do MÊS INTEIRO de boa parte dos brasileiros.

Isso é algo que é convenientemente ignorado pelas empresas que promovem o 5G como a panaceia da nova geração tecnológica. Sim, a velocidade está lá, mas pouco adianta se você não puder utilizá-la regularmente. O 5G precisa ser acompanhado de um novo modelo de negócios com limites muito mais amplos ou sem limites.

A tecnologia 4G traz velocidade o suficiente para fazer streaming de vídeo no YouTube ou na Netflix em uma qualidade decente. O salto de velocidade que o 5G proporciona só será realmente útil para aplicações que realmente exijam volumes gigantescos de dados, como assistir vídeo em 4K. Ou seja: os planos oferecidos hoje para usuários do 4G não fazem qualquer sentido em um universo de velocidade 5G.

Isso não quer dizer que o 5G será inútil; longe disso. A tecnologia vai muito além da largura de banda mais ampla, que permite velocidades absurdas. A internet móvel de quinta geração promete minimizar a latência na circulação de dados, proporcionando agilidade para aplicações que não eram possíveis com o 4G. Indústria, carros autônomos, medicina, internet das coisas são setores que podem se beneficiar consideravelmente com a redução no atraso na circulação de informações, permitindo aplicações, por exemplo, de telepresença em tempo real.

No entanto, quando falamos para o usuário comum, a aplicação mais óbvia neste momento é a internet mais rápida no celular, e isso tem que ser apresentado com cuidado. Os planos de dados como existem hoje não suportam nem de longe o nível de consumo habilitado pelo 5G, e isso pode ferir a tecnologia e os consumidores consideravelmente nos primeiros anos.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital

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