Faz alguns anos que a Intel passou a dominar com folga o mercado de processadores para desktops e notebooks. Os reflexos disso são bastante óbvios: tente procurar hoje um notebook com processador AMD e você provavelmente vai demorar um pouco até encontrar uma marca que venda alguma máquina do tipo. Quer montar seu próprio PC? Você provavelmente vai encontrar longas discussões sobre Core i3, i5, i7 e i9 e qual deles é o melhor para você; os chips da AMD ficaram em segundo plano.

E é curioso como essa situação nos trouxe ao patamar atual do mercado de processadores: a AMD fazendo grande anúncio atrás de grande anúncio, apostando em preços agressivos e saltos tecnológicos, enquanto a Intel passou anos sem conseguir reduzir os tamanhos dos processos em seus chips, presa na arquitetura de 14 nanômetros.

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Só agora, depois de cinco anos de promessas, a Intel conseguiu anunciar a chegada da geração de processadores Ice Lake, com arquitetura de 10 nm, que deve trazer um salto considerável de desempenho e eficiência no consumo de energia em relação à geração anterior. É um ganho, claro, mas que veio com um atraso considerável em relação à concorrência.

Moore e os nanômetros

Antes de tudo, é preciso lembrar da famosa Lei de Moore, que tem ficado cada vez mais difícil de acompanhar conforme as fabricantes de chips chegam à conclusão de que estão alcançando os limites físicos para a redução do tamanho de transistores. A ideia de Gordon Moore, um dos fundadores da própria Intel, é que o ritmo de inovação tecnológica permitiria dobrar a quantidade de transistores em processadores a cada dois anos. E, de fato, essa previsão acabou ditando o ritmo de evolução de chips e acabou determinando o ritmo de inovação de toda a indústria tecnológica.

O número de transistores em chips aumenta justamente pela capacidade das fabricantes em reduzir o espaço entre eles, já que ampliar o tamanho físico dos processadores não é algo do interesse das companhias. É aí que reside a vantagem em conseguir reduzir a arquitetura dos processadores de 14 nanômetros para 10 nanômetros ou menos: essa medida aponta a distância entre seus terminais e é apenas lógico entender que quanto mais “espremidinhos” estão os transistores, maior é a quantidade que é possível colocar em um chip.

Isso traz ganhos consideráveis e vantagens claras ao consumidor final. Pelo fato de os transistores ficarem mais próximos entre si, os elétrons precisam viajar menos para chegar ao seu destino, o que significa que as tarefas são concluídas de forma mais rápida, e também não precisam gastar tanta energia para alcançar o objetivo, o que é uma vantagem importante especialmente para notebooks, que dependem da bateria. Então, essa redução é o “Santo Graal” da produção de chips.

O atraso da Intel

Gordon Moore pode ter sido o fundador da Intel, mas a empresa não tem conseguido acompanhar a sua lei. A empresa passou os últimos anos lançando atualizações de processadores sem conseguir mexer nos “nanômetros”, parada na arquitetura de 14 nm.

A empresa chegou a apostar nos 10 nm durante o ano passado, com a geração Cannon Lake, mas sua distribuição foi limitada. Com a geração Ice Lake, é provável que finalmente a Intel leve a tecnologia para o mainstream.

Historicamente, no entanto, toda a fase de 14 nm foi fora do comum para a companhia, que se acostumou a manter um calendário chamado “Tick-Tock”: em um ano “Tick”, a empresa anunciava uma nova microarquitetura; no ano “Tock”, a Intel anunciaria uma redução no processo de fabricação.

Percebendo que esse ciclo já não era mais sustentável, a Intel adotou um novo calendário de três fases: Processo-Arquitetura-Otimização, prevendo, como indica o nome, um ano de um novo processo menor, o seguinte contando com um evolução na microarquitetura e, na sequência um ano de otimização. Mesmo assim, a empresa não conseguiu sair de forma consistente dos 14 nm introduzidos em 2013 até este ano.

O que impressiona é ver como as concorrentes conquistaram essa redução no tempo em que a Intel afirmava ter dificuldade em sair dos 14 nm. Neste período, a AMD apostou pesado na nova arquitetura Zen e tem lançado os processadores Ryzen, dando os saltos tecnológicos que a Intel não conseguiu dar nos últimos anos.

Essa inversão do mercado começou no início de 2017, com o lançamento dos primeiros Ryzen, que já usavam o processo de 14 nm no qual a Intel estava estagnada havia alguns anos. Em 2018, a AMD deu o salto que a Intel não conseguiu e anunciou processadores de 12 nm. Agora, em 2019, a empresa anunciou seus primeiros chips de 7 nm, utilizando a nova arquitetura Zen 2.

Os resultados estão aí: os novos chips Ryzen anunciados pela AMD prometem igualar o desempenho do processador mais poderoso da nona geração da Intel, o Core i9, custando metade do preço. É o tipo de coisa que pode virar completamente o mercado em pouco tempo se não tiver uma resposta adequada.

Outros processadores

Os 7 nm não são uma exclusividade da AMD, também é importante notar. Outras empresas, que não disputam o mercado de processadores para PCs, também conseguiram dar o salto que a Intel não deu.

Apple, Samsung e Qualcomm, que produzem os processadores mais relevantes para smartphones no mundo, já romperam o processo de 10 nm recém-anunciado pela Intel há algum tempo.

A Samsung chegou aos 10 nm com os chips Exynos ainda durante a época do Galaxy S8, lançado em 2017. Agora, com a geração S10, o processador já está na fase dos 8 nm.

Da mesma forma, a Apple chegou aos 10 nm durante a era do iPhone X, em 2017, e os novos iPhones XS, com o chipset A12 Bionic já estão na fase dos 7 nm. O movimento foi replicado pela Qualcomm, que introduziu o processo de 10 nm no Snapdragon 845 em 2018, e chegou aos 7 nm em 2019 com o Snapdragon 855.