Ao longo de dois anos, um homem chinês vivendo no estado de Oregon, Estados Unidos, devolveu para a Apple iPhones falsos que não ligavam e pedia que a empresa os trocasse sob garantia. Ele não enviou apenas alguns – entregou pessoalmente ou enviou para a empresa cerca de 3 mil aparelhos, que valiam aproximadamente US$ 600 cada. A marca da Maçã atendeu ao pedido do cliente e o restituiu com 1,5 mil iPhones novos.
Além da quantidade de aparelhos fora do comum, que apesar de surpreender é uma situação que pode acontecer, essa história, até aqui, não é nada atrativa. E continuaria assim se os iPhones em questão não fossem falsos e Quan Jiang, autor da trama, não tivesse sido condenado por fraudes.
Jiang é um ex-estudante de engenharia de 30 anos. Na última quarta-feira (22), confessou-se culpado em um tribunal federal norte-americano por tráfico de produtos falsificados, informou a Procuradoria dos Estados Unidos de Portland (Oregon) ao site Bloomberg.
Para enganar a Apple, ele usava nomes diferentes todas as vezes que reclamava por trocas. Os iPhones falsificados que devolvia à empresa eram importados de Hong Kong (China), de onde recebeu entre 20 e 30 caixas com os aparelhos ao longo dos dois anos que pôs em pratica a fraude, esclarece os documentos da acusação. Ele não parou por aí: também foi preciso arquitetar um plano para ganhar dinheiro vivo com os celulares verdadeiros que recebesse. Então organizou um esquema em que enviava os dispositivos para a China, onde eram vendidos. Um sócio dele no país entregava o faturamento à mãe do acusado, a qual depositava o valor na conta bancária de Jiang.
A Apple percebeu que algo estava errado em junho de 2017, depois de perceber que havia recebido 150 pedidos de troca de produto do mesmo endereço – de Jiang, claro. A empresa enviou ao golpista uma carta jurídica pedindo para ele parar com as solicitações, porque já sabia que ele estava importando produtos falsificados, disseram advogados do caso.
A Apple rejeitou 1.576 reclamações de garantia associadas a Jiang, mas aceitou substituir 1.493 aparelhos. A fraude resultou em uma perda de US$ 895 mil para a empresa, informou ao Bloomberg o investigador do caso, Thomas Duffy.
Segundo condições de um acordo judicial entre a defesa do acusado e as autoridades, a Procuradoria recomendará uma sentença de três anos de prisão e pelo menos US$ 200 mil em restituição à Apple. Jiang também deverá ter que entregar seu automóvel, uma Mercedes-Benz CLA 250, como parte da multa.
Se a recomendação de pena da Procuradoria não for acatada, Jiang enfrenta no dia 28 de agosto um julgamento de sentença de até 10 anos de prisão e uma multa de US$ 2 milhões ou o dobro de seus rendimentos – o que for maior.
A fraude de garantia mostrou como alguns produtos falsificados enganam tão bem que fica difícil para os próprios funcionários especializados das empresas reconhecer a diferença entre eles e a versão original. No caso da Apple, o golpe é ainda mais fácil se os produtos estiverem desligados – como Jiang astutamente pensou –, porque elimina a preocupação com a cópia do sistema operacional. Se o iPhone simplesmente não liga e está dentro do período de garantia, a empresa é obrigada a substitui-lo, o que dá abertura para as fraudes.
Via: Bloomberg