O célebre pintor surrealista Salvador Dalí disse uma vez em uma entrevista: “Em geral, eu acredito na morte, mas na morte de Dalí absolutamente não.” O Museu Salvador Dalí, em St. Petersburg, Flórida, tem trabalhado para cumprir a profecia do artista, que morreu aos 84 anos em 1989, trazendo-o de volta à vida – com o deepfake. Trata-se é uma tecnologia que faz montagens de pessoas em vídeos falsos extremamente realistas usando inteligência artificial.
A exposição, chamada Dalí Lives (“Dalí Vive”), foi produzida em colaboração com a agência de publicidade norte-americana Goodby, Silverstein & Partners (GS&P), para homenagear o 115º aniversário do artista. A mostra de arte celebra o pintor com uma recriação em tamanho real de Dalí.
Usando a técnica de deepfake, a GS&P treinou o algoritmo de IA do rosto de Dalí com mil horas de aprendizado de máquina e mais de 6 mil quadros de movimentos e expressões partir de imagens de arquivo das entrevistas com o pintor.
Com o algoritmo pronto, as expressões faciais de Dalí foram sobrepostas no rosto de um ator, com proporções corporais semelhantes ao artista, até a tecnologia combinar sua aparência com a do pintor. Falas das entrevistas e cartas eram sincronizadas com um dublador, que imitou o sotaque único de Dalí, uma mistura de francês, espanhol e inglês, para deixar a recriação o mais real possível.
Dalí aparece diante dos visitantes estes quando apertam a campainha do painel de vídeo onde ele “mora” e começa a contar histórias sobre sua vida. São 45 minutos de imagens e milhares de combinações. Há cenas que se abrem com ele lendo o jornal, criado com imagens da atual primeira página do The New York Times; se estiver chovendo, ele comenta sobre o tempo.
A exposição não só revive Dalí, mas o traz para os tempos modernos. No final da experiência, o deepfake pergunta se querem tirar uma selfie. Ele se vira e tira a foto que também pode ser enviada aos visitantes.
Há muitos argumentos a favor e contra o deepfake, por conta do risco de uso indevido, moral e socialmente perigoso da tecnologia. O termo surgiu no final de 2017, quando um usuário do Reddit começou a postar vídeos pornográficos falsos com famosas. Com um software de aprendizado de máquina, ele sobrepôs o rosto de celebridades, como Gal Gadot e Emma Watson, em cenas já existentes.
Além de falsa pornografia com celebridades, os vídeos de deepfake costumam ter seu uso associado aos perigos de notícias falsas e à possibilidade de fazer figuras políticas influentes dizerem afirmações mentirosas. Apesar disso, a tecnologia está facilmente disponível para qualquer um usar. O diretor técnico da GS&P, Nathan Shipley, disse ao The Verge que retirou o código do GitHub, plataforma aberta de hospedagem de códigos-fonte.