Opinião: o Messenger virar o Facebook não é sinônimo de privacidade

Para Mark Zuckerberg, o futuro é privado, mas será que é possível ter realmente privacidade usando os produtos do Facebook?
Equipe de Criação Olhar Digital02/05/2019 22h00

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Quando foi a última vez que você entrou no Facebook e saiu de lá feliz? O Facebook ficou chato, virou uma plataforma de divulgação de links e um campo de batalhas, já não cumpre mais o papel de rede social. O Messenger é hoje o segundo aplicativo mais baixado na App Store, da Apple, ficando atrás apenas do próprio Facebook. E é justamente no Messenger que a empresa fundada por Mark Zuckerberg irá focar as energias agora.

“O futuro é privado”. Não é à toa que esta frase foi repetida algumas vezes durante a apresentação de abertura da conferência do Facebook para desenvolvedores, a F8. Dos cinco aplicativos mais baixados no ano passados, quatro são do Facebook, com o Messenger assumindo a primeira posição. Logo, usando os dados de Analytics da empresa, deve estar bem claro que as pessoas estão utilizando aplicativos fechados, como Messenger e WhatsApp, em detrimento aos públicos, como Facebook e Instagram.

Por isso, a grande novidade do momento é o Facebook Messenger, a “nova” aposta de rede social privada de Zuckerberg.

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Mark Zuckerberg durante apresentação de abertura da F8

O Messenger sempre foi parte da rede social Facebook, porém, foi aos poucos sendo desvinculado da mesma, criando assim um ambiente distinto. Agora, passados praticamente dois anos de constantes escândalos envolvendo a privacidade dos usuários, e levando em consideração que estes estão utilizando o feed de notícias cada vez menos, a saída parece ser concentrar as energias em um ambiente privado: o Messenger. Essa é uma clara tentativa de recuperar a confiança dos usuários, mais do que isso, é uma forma de burlar a fiscalização do Estado sob a plataforma, pois o que acontece no Messenger, fica no Messenger.

O grande ativo do Facebook são os dados compartilhados pelos usuários, e não estou falando aqui só daquilo que se publica na linha do tempo, mas o comportamento de cada um dentro da plataforma que, para muitos, é hoje a Internet em si, na qual e consome informações e se realiza compras. Agora, se as pessoa já não se sentem mais seguras em fazer isso na rede social, talvez queiram manter essa relação dentro de um lugar mais privado, com criptografia de ponta a ponta, como o Messenger. Porém, não nos enganemos, o futuro não é privado, pois privacidade e Facebook são coisas que não andam juntas. Lembre-se, o serviço é gratuito, logo o produto é você.

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Durante as eleições dos Estados Unidos, a rede social teve um papel fundamental no processo eleitoral, sendo utilizada para manipular as pessoas. Na época, Mark Zuckerberg foi ao Senado dos Estados Unidos e garantiu que a empresa trabalhou para evitar que outras eleições tivessem os mesmos problemas, como o processo eleitoral brasileiro, no ano passado. De fato, o Facebook não causou tantos problemas por aqui durante as eleições, o mesmo não podemos falar do WhatsApp.

O aplicativo de mensagens serviu – e ainda serve – para disseminar notícias falsas e spam durante as eleições. Ok, os desenvolvedores do WhatsApp estão tomando medidas importantes para munir os usuários de informações importantes sobre o que é compartilhado no serviço, como o uso da tag “encaminhado”, a adição do limite de encaminhamento para apenas cinco contatos de uma só vez e assim por diante. Porém, é notória a dificuldade de controle deste tipo de mensagem no mensageiro, dadas as características de segurança e privacidade do WhatsApp: tal como a criptografia de ponta a ponta.

Considerando isso, o fato de “tornar privada” a rede social usando o Messenger me parece uma bela forma de receber uma segunda chance dos usuários, bem como driblar possíveis problemas com, por exemplo, a Lei de Direitos Autorais da Europa, visto que não se controla o que é compartilhado nos grupos do Messenger. Em outras palavras, com este movimento o Facebook pode estar tirando a responsabilidade dos ombros, mais uma vez.

O Messenger possui hoje 1,3 bilhão de usuários, e os desenvolvedores do Facebook estão colocando um grande esforço para tornar o serviço mais leve e rápido. Aliás, uma versão do Messenger para a Web foi criada e chegará ao mercado nos próximos dias. No app, também é possível usar um dos recursos mais populares de outra plataforma social da empresa, o Stories do Instagram, com a integração de emoticons e ao próprio feed de notícias do Facebook. Mesmo em transição, a impressão que eu tenho é de que a empresa está caminhando para transformar o Messenger em uma espécie de Facebook privado.

É claro que para ter sucesso, no entanto, será necessário que as pessoas utilizem o serviço, que hoje compete diretamente com outro produto do Facebook, o WhatsApp (e mesmo o Instagram). Não à toa, a empresa vem estudando unificar tais plataformas em um serviço de mensagens completo.

O futuro é privado, mas enquanto você estiver utilizando um serviço do Facebook, sua privacidade estará em jogo, pois o grande asset da rede social são os dados de comportamento dos usuários da plataforma. E não importa o ambiente, seja público ou privado.