O novo serviço de notícias por assinatura da Apple, que reúne dezenas de editores e publicações acessíveis ao usuário, irá pagar apenas 50% da receita para seus parceiros de mídia, de acordo com dois executivos seniores de diferentes empresas, que estão por dentro da negociação.

A Apple pretende pegar metade do valor das assinaturas mensais de 10 dólares, deixando o resto para os editores dividirem entre si, levando em conta quantas pessoas leram suas histórias. “É um negócio de merda”, reclamou um dos executivos, anonimamente. “Parece ganancioso”.

Jason Kint, CEO de uma organização que defende companhias tradicionais da mídia, a Digital Content Next, comentou que escutar os números de divisão da receita é doloroso: “Existe uma preocupação importante sobre como as plataformas estão acabando com o oxigênio do sistema midiático”. Apenas no mês passado, a BuzzFeed, a Verizon Media e a Vice, cortaram cerca de 2.000 empregos.

A Apple já adota uma abordagem diferente de como apresenta notícias e vende anúncios digitais. No Apple News, por exemplo, a empresa limita a coleta de dados e a segmentação de anúncios, e mantém a supervisão editorial do que é apresentado lá. “Seria bom vê-los assumir uma liderança real na economia da indústria e reconhecer o valor das notícias e do entretenimento que ajudam a distribuir”, diz Kint.

Porém, algumas editoras ainda dizem duvidar que a Apple possa entregar o dinheiro – e o público – que promete para o serviço de assinatura. O argumento tem como base o aplicativo antigo, Texture, adquirido ano passado pela companhia, que não era muito popular. Isso supostamente provaria que o conceito do novo serviço é instável.

Mas a Apple afirma que os parceiros podem ganhar 10 vezes mais do que estavam fazendo com o aplicativo antigo, dizem os executivos entrevistados. Um editor afirma que a Apple estima que poderia ganhar cerca de U$ 2 milhões no primeiro ano, o que parece “extremamente otimista”.

“Eu não vejo como eles poderiam conseguir esse tipo de engajamento para ganhar esse tanto de receita”, comenta.

A gigante da tecnologia acredita que pode juntar o novo serviço com as assinaturas de outros aplicativos que pertencem a ela, como o Apple Music e o futuro lançamento de um streaming de TV. Aparentemente, ela planeja promover os múltiplos produtos juntos.

Mesmo assim, os editores estão preocupados por mais razões, que apenas a divisão de 50%.

Por um lado, a Apple é uma empresa misteriosa, e não explicou exatamente a fórmula de como calcular quais publicadores obterão qual parte da receita. Ela também mantém os dados do usuário consigo, evitando que seus parceiros tenham um relacionamento direto com o leitor. Desvantajoso para os meios de mídia que buscam aumentar sua base de assinaturas e não as dividir com outros editores e com a Apple.

O serviço deve ser lançado até o fim de março, após a aquisição do ano passado do Texture, um aplicativo criado por mídias tradicionais da comunicação, como Condé Nast, Hearst e Meredith. O app deu aos assinantes digitais acesso a centenas de revistas com o mesmo layout da edição impressa. Os meios de comunicação citados acima recusaram comentar sobre o assunto, mas é esperado que eles façam parte do novo Texture.  A Apple também negocia com o New York Times e o Washington Post.

Fonte: Adage