“Não estamos vivendo uma era de mudanças. Estamos vivendo uma mudança de era”. Essa frase já virou um clichê nas nossas salas de aula, mas mostra a grandiosidade do momento que estamos vivendo. E essas mudanças tão profundas não estão reestruturando somente a economia e ressaltando os movimentos tecnológicos, estão restabelecendo pontos ainda muito desequilibrados da nossa sociedade.

Não é novidade para ninguém que um dos grandes desequilíbrios está na falta de equidade de gênero no mundo corporativo e para além dele. Todos sabemos que as mulheres, mesmo tendo currículos mais qualificados, já que são a maioria das graduadas e pós-graduadas nas universidades, ganham de 9 a 54% menos que homens em funções análogas e são as mais atingidas pelo desemprego. Se entrarmos no recorte de raça, o abismo é ainda maior. Mesmo com o movimento feminista conquistando força nos últimos anos, estudos feitos pelo Fórum Econômico mundial mostram que o tempo previsto para acabarmos com a disparidade de gênero é de 117 anos. O caminho é longo, mas retroceder não é mais uma opção.

Estudando para um painel sobre lideranças femininas que participei na última edição do Colaboramerica no Rio de Janeiro, me deparei novamente com os diagramas brilhantemente construídos por Jennifer Armbrust. Eles fazem um comparativo entre os valores da velha economia, oriunda da revolução industrial, e os da nova economia.

Segundo Armbrust, os valores da qual fomos culturalmente educados para construção dos negócios são pautados por valores considerados masculinos, como competição, hierarquia, ego, materialismo, individualismo e crescimento linear. Já a nova economia, traz à tona valores que entendemos socialmente como femininos: colaboração, interdependência, abundância, mindfulness, cuidado, empatia, conexão da natureza. E, a meu ver, o futuro das organizações será pautado por esses princípios e esse mindset.

Por muito tempo, profissionais mulheres pensavam que era necessário se igualar aos homens para que suas vozes fossem ouvidas e para que chegassem em posições hierárquicas mais altas no ambiente corporativo. As mulheres do ambiente de trabalho se tornavam uma espécie de Miranda Priestly, papel interpretado por Meryl Streep, em “O Diabo Veste Prada”, com seu estilo rigoroso, pragmático e sedento por resultados expressivos na atuação profissional, mimetizando a liderança masculinizada e patriarcal.

Porém, olhando para os valores ascendentes, as mulheres estão criando suas próprias condições de destaque por promover lideranças mais fluidas e de acordo com os seus próprios modelos. Ou seja: com coragem de serem elas mesmas. Epara que as empresas cresçam com um olhar do futuro, as organizações devem estar abertas para aprender com essas mulheres. Além disso, as lideranças masculinas precisam estar dispostas a trazer seus valores femininos para o debate.

A nova economia é pautada por valores que chamamos de femininos, não só por ser uma economia de cuidado, empatia e impacto. Investir em equidade de gênero não é somente uma questão social de inclusão, mas sim uma decisão estratégica de negócio. Os 7 princípios de empoderamento feminino da ONU deixam claro que o crescimento profissional e a emancipação econômica de mulheres é base para uma economia mundial mais saudável e próspera. A última pesquisa da McKinsey, que levantou mais de mil empresas em 12 países, mostra que empresas com maior diversidade de gênero têm 21% a mais de chance de ter resultados acima da média de mercado entre empresas com menos diversidade. E por fim, segundo a estimativa mais recente da OIT (Organização Mundial do Trabalho), se mulheres e homens tivessem o mesmo salário e igual papel no mercado de trabalho, o PIB mundial cresceria 26%.

Ainda estamos muito longe do ideal, mas os primeiros passos estão acontecendo. Um levantamento da agência de empregos Catho realizado com mais de 200 mil empresas revela que, na última década, a participação de profissionais mulheres em cargos de presidência e gerência dobrou. A representatividade feminina nas funções mais elevadas, como presidentes e CEOs, saltou de 10% para 23,85% em 15 anos.

Quando falamos de valores masculinos e femininos, não estamos falando sobre homens e mulheres. É possível e necessário que, independente de gêneros, que as pessoas transitem, de forma fluida, entre ambos valores, características e ambas energias. Mulheres trazerem à tona características masculinas, e vice-versa. O movimento de inovação, diversidade e regeneração das organizações é um caminho sem volta. Desconstruir-se e reaprender é o primeiro passo para transformação. O futuro da economia é feminino.