As receitas das operadoras têm encolhido no Brasil, com empresas fechando no vermelho há meses e amargando prejuízos. No setor de telecomunicações, dizemos que as funções básicas de uma operadora, como fornecer pacotes de voz e dados, já até virou commodity com a chegada da transformação digital.
Para sobreviverem aos novos tempos que batem a nossa porta, as operadoras – e o setor de telecomunicações como um todo – realmente terão que se reinventar. Em outras palavras, com a chegada das tecnologias de nova geração, o setor de Telecom deixa de ser uma vertical como é hoje, para ser quase uma “horizontal”, atuando em consonância com todas as demais verticais do mercado. Sem essa mudança, aumenta muito o risco de não conseguir acompanhar as tendências de evolução em um mercado já consolidado e, consequentemente, isso impactará na geração de bons resultados de negócios.
A saída é buscar novas linhas de receita, com investimento no 5G e em IoT para abrir novos mercados, com clientes, parceiros e serviços que antes não eram abordados em sua totalidade.
Acredito que o segredo para capturar esse potencial adicional de negócios está justamente na mudança de mentalidade e governança corporativa no setor, aumentando a capacidade de diálogo com as demais indústrias para que atuemos como indutores de fato da digitalização da sociedade.
Sem dúvida a liderança tecnológica é essencial para se alcançar isso, uma condição necessária, mas que, sozinha, não é suficiente. Ela só viabiliza de fato essa mudança se vier acompanhada de conhecimento profundo do mercado local, com idoneidade e articulação para reger essa integração digital entre indústrias. Afinal, tecnologia pura só é legal para nós, engenheiros e geeks. Na prática, para o resto da população, não basta ela ser só boa, ela também tem que resolver problemas reais do dia a dia e tornar a vida de todos melhor, mais cômoda e mais eficiente, sem comprometer a segurança nem a privacidade da sociedade.
Para se ter uma ideia do potencial desse novo mercado, um estudo global realizado pela Ericsson em parceria com a consultoria Arthur D. Little aponta que, em 2026, o 5G e a Internet das Coisas (IoT) irão gerar mais de US$ 600 bilhões adicionais, um acréscimo de 36% no potencial de receita das operadoras ao redor do mundo. Replicamos localmente a metodologia desse estudo para estimar o potencial de negócios do 5G e do IoT no Brasil. E o resultado mostrou que, por aqui, esse impacto pode ser ainda maior, chegando a 41% de potencial de crescimento de receita para as operadoras até 2026, uma vez que a maior carência de infraestrutura básica em nosso país abre também maiores oportunidades no uso da tecnologia para dar esse salto.
Entre as possibilidades que esse novo mercado traz, podemos ressaltar, por exemplo, o potencial imenso para o setor do Agronegócio, por meio do controle de irrigação, aumento de produtividade, agricultura de precisão e controle de pragas, entre outros. Na Indústria 4.0, destacamos o uso de robôs inteligentes sobre redes celulares, que aumentará a produtividade e eficiência das fábricas. Na saúde, as aplicações em cirurgias à distância serão fundamentais para o avanço da medicina. Em Cidades Inteligentes, os governos poderão diminuir grandemente os custos com o controle de iluminação, coleta de lixo e transporte. Isso só para citar alguns dos casos de uso mais importantes.
Fato é que o 5G e o IoT apresentam enormes oportunidades para o setor de telecomunicações na próxima década. Diversas transformações verdadeiramente disruptivas serão possíveis por meio delas, não só evoluindo o que entendemos hoje como telecomunicações, mas revolucionado a forma como usamos e interagimos com a tecnologia, tanto para os consumidores como para as empresas. E quem não souber conduzir essa mudança de mentalidade e embarcar nessas tecnologias não irá aproveitá-las em sua plenitude.