Desde 2017, Microsoft e Qualcomm estão juntas para tentar mudar o cenário dos notebooks: as empresas querem que as pessoas comecem a usar máquinas que, com uso de processadores normalmente encontrados em celulares, funcionem quase como um smartphone. Ou seja, computadores que sempre estão ligados e conectados à internet e, ao mesmo tempo, aguentam dias longe da tomada.
Não é uma tarefa fácil, e os primeiros resultados não foram muito animadores. No fim do ano passado, algumas fabricantes lançaram notebooks equipados com o processador Snapdragon 835. Apesar da duração da bateria ser um ponto positivo, eles pecavam em desempenho, não conseguindo atingir a mesma potência de computadores com processadores x86 como os da Intel.
Qualcomm e Microsoft não desistiram da ideia. Neste ano, a fabricante de chips lançou o Snapdragon 850, o primeiro processador da empresa voltado para notebooks. E a ideia é continuar investindo na área nos próximos anos. O Olhar Digital conversou com Don McGuire, vice-presidente de marketing de produtos da Qualcomm, durante a Futurecom 2018, em São Paulo, sobre os planos da fabricante para a linha de chips para computadores com Windows 10. Ele admite que as coisas não devem ser fáceis, mas a companhia está disposta a encarar os desafios que vem pela frente.
A primeira mudança em décadas
“Estamos tentando mudar uma indústria que opera da mesma maneira há 25 anos, e isso não acontece do dia para a noite”, explicou McGuire. “Sabemos que é um projeto de longo prazo”. O executivo acredita que a empresa tenha espaço para crescer no mercado dos dispositivos dois-em-um, que combinam características de tablets e notebooks. E para isso, a Qualcomm lista algumas diferenças entre os aparelhos com chips Snapdragon e com processadores convencionais.
A bateria é um dos pontos mais promovidos pela Qualcomm: o Snapdragon 850, diz a empresa, aguenta até 25 horas de uso contínuo. E quando a fabricante diz “uso contínuo”, é com a tela ligada o tempo inteiro, sempre conectado à internet. Pode ser rodando vídeos do Netflix, por exemplo, ou simplesmente com o navegador web aberto – o importante, segundo McGuire, é que os números prometidos pela Qualcomm são de fato atingidos.
A ideia é realmente a de levar a lógica dos smartphones aos notebooks. Esses computadores estão sempre conectados à internet, mesmo com a tela fechada. Então eles podem continuar recebendo e-mails, por exemplo, e o usuário demora alguns poucos segundos para retomar as atividades, sem que a duração da bateria seja prejudicada.
“Nossa plataforma é integrada e pequena. Se você observar o tamanho da placa que vai em um PC convencional e comparar com a de um que usa processador Snapdragon, vai perceber que a nossa tem metade do tamanho,” disse McGuire. “Isso permite que fabricantes produzam aparelhos mais finos, leves e sem ventoinha, e também permite que coloquem uma bateria maior neles”, acrescentou.
E o desempenho?
O que muita gente pode questionar é se o desempenho desses notebooks vai ser comparável ao atingido por aparelhos com processadores convencionais. McGuire questiona testes de benchmark e diz que a experiência proporcionada pelos chips da Qualcomm é diferente. “A indústria esteve focada em pico de velocidade nos últimos 25 anos. Isso é uma falácia, já que você só atinge esse pico por alguns segundos. A CPU não consegue sustentar essa velocidade, e aí o desempenho é prejudicado.”
De acordo com o executivo, os chips Snapdragon conseguem manter um desempenho constante. “Se você pegar um jogo como ‘Asphalt 9’, por exemplo, nosso desempenho sustentado é melhor. A taxa de quadros por segundo no nosso chip fica em 60 fps durante toda a experiência, enquanto nos concorrentes a taxa de quadros cai e o PC começa a esquentar. O nosso se mantém resfriado”, concluiu.
A Qualcomm agora prepara o lançamento da terceira geração de chips Snapdragon para notebooks, e a promessa é de melhoria em desempenho e autonomia de bateria. O problema é que, até o momento, nenhuma dessas máquinas está disponível no Brasil – e, por enquanto, não há previsão para o lançamento delas por aqui.