“Na era da informação digital, institutos de pesquisa eleitoral se mostram frágeis e não conseguem entender o comportamento do eleitor neste novo panorama”. Essa é a opinião de Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Com o encerramento do primeiro turno das eleições no Brasil, pôde-se analisar uma diferença considerável nas pesquisas de voto, independente da fonte utilizada (Ibope ou Datafolha). Isso porque os institutos utilizaram ferramentas analógicas para levantamento dos dados (entrevistas de rua e/ou telefonemas) em uma eleição 100% digital. As eleições para os cargos de governador e senador foram as grandes surpresas na apuração.
“No Brasil, em uma eleição onde a polarização virou sinônimo de gritaria, deveriam sim ter levado em conta nas pesquisas o eleitor tecnológico, aquele que movimenta as redes sociais, faz busca no Google, entra nos sites dos partidos e acessa os planos de governo, seja no âmbito nacional ou estadual”, explica Igreja.
De acordo com ele, o que aconteceu no Brasil repete o cenário vivenciado nos Estados Unidos, onde as pesquisas mais assertivas foram as que utilizaram indicadores digitais. “Os candidatos que ficaram mais no mundo analógico não tiveram tanta visibilidade, seja porque foram engolidos pelo o uso de robôs, impulsionamento de posts ou, até mesmo, disseminação de notícias em meios como Whatsapp, Twitter e Facebook”, comenta.
Com relação à corrida ao Senado por São Paulo, as pesquisas indicavam que Eduardo Suplicy tinha 25% das intenções de voto enquanto Major Olímpio girava em torno de 17%. As urnas demonstraram o contrário. Suplicy fechou com 13,32% e Olímpio venceu com 25,79%. O mesmo cenário para o governo de Minas Gerais, onde o candidato Romeu Zema, que despontava em terceiro lugar nas pesquisas vai concorrer como o favorito no segundo turno em uma disputa com Anastasia, apontado nas pesquisas de intenção de voto com 42%, mas que terminou com um resultado nas urnas de 20%.Para o Senado mineiro, a ex-presidente Dilma Roussef era a grande favorita, segundo os institutos, com 27%, mas encerrou a apuração em quarto lugar (15%).
“Para termos uma pesquisa ainda mais próxima do resultado final, as grandes empresas do setor deveriam investir mais no uso do Big Data, tentando entender de forma digital esse comportamento do eleitor, que no Brasil tem por característica decidir muito na reta final. Estudos apontam que 43% dos brasileiros escolhem os seus candidatos na última semana ou até mesmo no dia da eleição. Muitos candidatos ficaram no caminho, pois estavam fazendo campanha no século passado”, finaliza o especialista.