WhatsApp rejeita criar forma de rastrear boatos no aplicativo

Renato Santino24/08/2018 23h49

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Nos últimos tempos, houve um surto de linchamentos na Índia, resultante de boatos espalhados de forma anônima no WhatsApp. Foi o suficiente para que o governo local pressionasse o aplicativo para que quebrasse a criptografia do serviço para que a circulação dessas mensagens pudesse ser analisada e os autores pudessem ser detidos.

Diante dessa pressão, o aplicativo passou por algumas mudanças recentes, sendo a principal delas a informação de quando uma mensagem foi encaminhada, e não redigida por uma pessoa, além da restrição do número de conversas para as quais uma mensagem pode ser repassada. No entanto, o WhatsApp bateu o pé no chão e se recusa a abrir a criptografia do aplicativo para o governo indiano.

Quando chegou a solicitação de criar algum tipo de ferramenta que permitisse a “rastreabilidade” do usuário que publicou determinada informação, o WhatsApp disse não ser possível fazer isso sem prejudicar a criptografia do app. “Criar essa rastreabilidade iria minar a criptografia de ponta-a-ponta e a natureza privada do WhatsApp, criando potencial para utilização indevida e grave. O WhatsApp não vai enfraquecer as proteções de privacidade que oferecemos”, disse um representante à imprensa indiana.

A história nestes casos é sempre a mesma: autoridades, muitas vezes bem-intencionadas, querem poder rastrear atividades online para poder coibir e punir crimes. No entanto, não existe porta que permita a entrada apenas de pessoas “boazinhas”: o enfraquecimento da criptografia e a criação de “backdoors” (“porta dos fundos”) também favorece o cibercrime. Se uma brecha for criada para que governos acessem dados dos usuários do WhatsApp ou outros serviços, em algum momento essa brecha será encontrada por alguém que quer se aproveitar dessas pessoas e extrair informações bancárias, mensagens comprometedoras e outras informações que podem levar a prejuízos financeiros graves caso caiam nas mãos erradas.

Isso coloca o WhatsApp e outras empresas que fornecem serviços de comunicações em uma situação desconfortável, que pode criar uma desvantagem competitiva com outros apps que não são tão populares e por isso ainda não sofrem pressão. Caso o WhatsApp ceda e opte por criar essa vulnerabilidade, seu público pode se sentir traído e procurar por outras alternativas mais seguras.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital