Em “Nosedive”, o primeiro episódio da terceira temporada da série de ficção científica “Black Mirror”, julgamentos pessoais são transformados em uma pontuação que define os direitos das pessoas. Em breve, esse episódio pode virar realidade.

A partir de maio, a China deve começar a colocar em prática punições para pessoas com baixo “crédito social”. Esse crédito social é um sistema informatizado que avalia cidadãos com base em uma série de fatores, incluindo comportamentais.

Desde 2015, o governo da China prepara o lançamento do Sistema de Crédito Social (SCS), um banco de dados online que, como o aplicativo de “Nosedive”, dá uma nota para cada cidadão com base no seu comportamento e histórico público ou privado.

Dados como antecedentes criminais e registros de inadimplência entram no cálculo da nota, mas não só isso. O que cada pessoa compra em lojas online, o que escreve em redes sociais e até os contatos na internet são julgados pelo SCS.

O plano da China é implementar o sistema de maneira obrigatória a partir de 2020. Mas já em maio, pessoas com nota baixa no SCS serão barradas em aviões e trens, informou a agência de notícias Reuters nesta sexta-feira, 16.

Entrarão na lista negra do sistema as pessoas que “espalharam informações falsas sobre terrorismo”, causaram “transtorno” em voos, usaram passagens vencidas ou fumaram dentro dos trens, segundo a avaliação do governo chinês.

Por outro lado, há relatos que indicam que comportamentos menos transgressivos também seriam punidos pelo SCS em outros casos, como deixar a bicicleta estacionada no lugar errado ou por se apresentar de forma “pouco sincera” diante de um tribunal.

Por enquanto, a participação no SCS é voluntária. O banco de dados é gerenciado por dois grandes conglomerados de tecnologia da China, Tencent e Alibaba. Mas para atrair voluntários, ao mesmo tempo em que notas baixas são punidas, notas altas são recompensadas.

Ser bem avaliado pelo governo pode render empréstimos mais generosos em bancos e redução de burocracia em aluguéis e compras de imóveis ou carros, segundo uma extensa reportagem da revista norte-americana Wired publicada em outubro passado.

Ou seja, só serão banidos de aviões e trens os cidadãos que já participam voluntariamente do programa de testes do SCS. O objetivo do governo é impulsionar uma cultura de “sinceridade e confiança”, segundo o decreto que regulamenta o sistema.

A ordem foi assinada pelo presidente Xi Jinping e oito ministros, incluindo um da Suprema Corte, além do órgão regulador de tráfego aéreo do país. Embora tenha sido regulamentado só agora, há rumores de que o veto a cidadãos de nota baixa está em ação há alguns meses.